O livro “Como as democracias morrem” fala sobre como as democracias tradicionais entram em colapso. Os autores Steven Levitsky e Daniel Ziblatt - professores de Harvard - comparam o caso da eleição de Trump com exemplos históricos de rompimento da democracia nos últimos cem anos: da ascensão de Hitler e Mussolini nos anos 1930 à atual onda populista de extrema-direita na Europa, passando pelas ditaduras militares da América Latina dos anos 1970. O alerta do livro: a democracia atualmente não termina com uma ruptura violenta nos moldes de uma revolução ou de um golpe militar; agora, a escalada do autoritarismo se dá com o enfraquecimento lento e constante de instituições críticas - como o judiciário e a imprensa - e a erosão gradual de normas políticas de longa data.
Por acaso... assim como quem não quer nada... estamos vivendo isto, exatamente neste momento, no Brasil? Cartas para a redação.
Precisamos escolher entre a barbárie e a democracia. Não basta eleger um presidente com “P” maiúsculo, é preciso se atentar para o legislativo. Quem faz as leis: deputados – federais e estaduais – e senadores. Temos que eleger pessoas que se preocupem efetivamente com o povo que, neste momento, passa fome, é discriminado, morto por balas perdidas, marginalizado. Já volto ao discurso político. Pausa para algo importante: teatro.
Está em cartaz no Espaço Cortiço Carioca, na simbólica Lapa carioca, uma versão das obras de William Shakespeare e Bertold Brecht que têm o personagem Coriolano como protagonista. “A Plebe de Coriolano”, texto de criação coletiva, que bebe na fonte dos dois autores famosos, propõe uma inversão de protagonismo: o povo tem voz narrando os acontecimentos ocorridos com o general romano Coriolano.
Extremamente oportuna, a montagem tem adereços e ótimos figurinos criados pelo grupo e direção musical de André Poyart bastante pontual e importante. Destaque para o excelente samba enredo “Samba da Plebe de Coriolano” (letra de Xando Graça e música de André Poyart).
A direção de Adriana Maia é inteligente e criativa. Usa todos os espaços possíveis e imagináveis do Espaço Cortiço Carioca para dar vida, voz e movimento ao espetáculo. Ótimas as intervenções na escada, nas entradas e saídas das salas/quartos laterais, e todo o comportamento cênico dos atores. Destaque ainda para a perfeita utilização dos objetos de cena e o completo domínio da palavra pelos atores. Falas sem pressa, com precisão.
É o numeroso elenco que brilha nesta peça-show. Em ordem alfabética, Ana Achcar, Anna Wiltgen, Angelo Bessa, Aramís Correia, Gilberto Góes, Henrique Manoel Pinho, Mariana Consoli, Miguel Ferrari, Paula Muricy, Stefania Corteletti e Xando Graça, cada um a seu momento, tem a presença marcada, forte e segura. Estão ali defendendo não só seus papeis, como valorizando o fazer teatral, e, mais que isso, dando voz à democracia. Tenho meus personagens favoritos, mas prefiro que você assista e escolha os seus!
Não poderíamos ter melhor momento para levar este trabalho ao público. Mostrar como a escolha de um congresso competente é também de suma importância para nosso país. Após a apresentação, tivemos um bate-papo com atores, publico e quem mais lá estivesse. Cada um pode falar sobre sua visão do momento e sobre a urgência das boas escolhas nas próximas eleições.
Votei para presidente, com 17 anos, pela primeira vez em 1989, junto com minha mãe, aos 44 anos – também primeira vez - pós ditadura.
Faço votos que “A Plebe de Coriolano” fique em cartaz por muito tempo, para que os indecisos, os que não ligam para política, mas amam teatro, possam avaliar a importância de espetáculos como este para nossa democracia, nossa cultura, nossa arte. Agradeço a oportunidade de assistir a um trabalho tão rico e necessário. Aplausos de pé!