Historinha simples: casal homossexual, dono de uma boate de shows de transformistas, tem que se virar nos 30 para receber a familia tradicionalissima da namorada do filho. Logo, um deles pede para que o mais afetado suma, o que nao acontece, obiviamente, e entao, tem-se a comédia no palco.
"A Gaiola" é hoje um dos melhores espetáculos de entretenimento da cidade. Tem dança, tem música boa, tem artistas famosos, tem riso e se vc for um pouco emotivo, dá até pra secar uma lagrima abusada. Confesso que aquele amor entre duas pessoas, entre dois pais com o filho criado conforme manda o figurino, apesar de serem dois homens, me comove e faz pensar sobre o futuro dos homossexuais. Até bem pouco tempo, não se falava no assunto. Depois, falava-se à boca miúda. Num passado muito proximo, cansamos de ver artistas internacionais com mais idade "sairem do armário" para espanto das nossas avós. Hoje o homoafetivo está em novela, em programa de talentos e em reality shows. Mas... e daqui a uns 40, 50 anos? Será que vamos nos acostumar a ver o que no passado era chamado ofensivamente de "bichas velhas" andando normalmente na rua sem serem apontadas como "objeto de zoológico"? Quer muito estar vivo para saber como será a vida na Terra onde os homoafetivos serão tratados como seres humanos e não aberrações da natureza. Oremos.
Voltando à peça, ao texto da comédia foram acrescidos números musicais e agora temos rodando o mundo não só a peça, mas o Musical A Gaiola das Loucas. Imagine se em cada cidade os produtores pegassem os numeros musicais dos transsexuais locais e levassem estes numeros ao palco por uma temporada? Não seria o máximo? Pois nao é assim. Infelizmente. Não sei se o objetivo do autor do musical original era esse, mas deveria ser. Afinal a boate "A Gaiola das Loucas" seria um lugar para os shows mais chiques e glamoursosos da cidade. Nesta montagem, no Rio, senti falta disto. Da brasilidade dos números musicais. É muito can can. A coreografia é quase toda centrada ao redor do fosso da orquestra. Imagina se uma bicha daquelas cai em cima dos músicos?
O figurino do Claudio Tovar, eu já disse faz tempo, desde o ensaio aberto, que era para Prêmio Shell. E ele está indicado. A luz, infelizmente não sei de quem é, mas é correta e bonita. O cenário da Clivia Cohen, competente cenógrafa, tem alguns pontos que me deixaram, digamos, inquieto na poltrona. Na casa dos donos da boate, por exemplo, faltou "a cara da riqueza" (como diria Hugo Gloss, personagem do Twitter). Gosto muito da cortina de lurex da boca de cena e de um detalhe colocado nos reguladores laterais e nas bambolinas, que têm uma tira de LED que muda de cor nas cenas. Ja o painel de LED ao fundo do palco da boite Gaiola, onde ocorrem os numeros musicais, as vezes falha durante as cenas e prejudica o trabalho da cenógrafa.
No palco Miguel Falabella e Diogo Vilela estão levando ao publico o que eles querem ver: Miguel e Diogo. Este ultimo se sai um pouco melhor pela sua composição, seu trabalho de corpo, voz e comportamentos de mulher. Ambos cantam muito bem, suas vozes são elegantes e afinadas. Diogo, que já canta em vários musicais, como em Cauby Cauby, empresta todo o talento de ator de musicais para a Gaiola. Na parte cômica da peça, Jorge Maya rouba a cena geral. Desde sua primeira entrada até sua última aparição a platéia cai na gargalhada. UM SHOW! Merecia ser indicado para um premio de ator coadjuvante. Completam o elenco, e também o côro vocal, Silvia Massari e Mirna Rubin, divertind0-se no palco com seus papéis.
A trilha sonora e a direção musical da peça é também outro show. Impossivel nao sair com uma ou outra melodia na cabeça. Os musicos são excelentes.
E, não menos importante, a direção do espetáculo, nas mãos dos competentes Miguel Falabella e Cininha de Paula, é agil e cria muitas vezes no palco uma bela fotografia, que agrada ao publico onde quer que estejam sentados. Sabe-se que muitas vezes temos que apelar para o óbvio no teatro, como na cena do jantar onde numa longa mesa só temos pessoas sentadas em um dos lados, e fica engraçado pois parece que estamos diante de uma entrega de diplomas numa colação de grau. Mas, fazer o quê? É a licença poética para se contar esta história divertida.
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