sábado, 20 de setembro de 2025

A PÉROLA NEGRA DO SAMBA

Dia 19 de setembro é o Dia Nacional do Teatro. E, não óbvio, e “quem me conhece sabe”, que o meu lugar favorito no mundo é uma sala de teatro, lá estava eu no Teatro Carlos Gomes, centro do Rio de Janeiro, onde assisti a grandes espetáculos que marcaram minha vida nas plateias, para assistir ao novo musical dirigido e escrito a quatro mãos por Luiz Antonio Pilar e Leonardo Bruno, “A Pérola Negra do Samba”, em homenagem a Jovelina Pérola Negra.

Pilar é um mestre em retratar histórias de grandes artistas, como Candeia, Ataulfo Alves, Leci Brandão, entre outros, não só no teatro, mas também na tv e no cinema. Leonardo Bruno é jornalista especialista em música popular e carnaval. Sem dúvida um encontro de bambas que só podia dar certo.

O musical conta de forma criativa e divertida a história de Jovelina, desde pequena, passando pela juventude até entrar na maior idade onde começa a frequentar rodas de samba e se apaixona pelo pagode. Daí em diante, tem que assistir para saber os mínimos detalhes. É hilária a cena de Jovelina pequena correndo pela casa. Um acerto gigante a criação das personagens Cebola e a Diretora da Gravadora. O roteiro nos faz mergulhar nas canções, emoções e a vida de Jovelina, com sua força de mãe e mulher, seu medo de entrar numa vida de artista e a consagração ainda atual.

O cenário de Lorena Lima é composto de caixotes modernos e coloridos de feira que são muito úteis para o desenrolar da história e formam também um bonito fundo de palco. O figurino de Rute Alvez é ótimo, pois nos remete à vida da cantora, parece ser confortável para o elenco e, além disso, é bem confeccionado. A luz de Daniela Sanches é sempre bonita e aqui temos focos e movings que conduzem a história junto com a direção.

Aplausos de pé para a direção musical de Rodrigo Pirikito e Matheus Camará. Um conjunto de músicos excelente! Além dos dois diretores musicais, temos Daniel Esperança, Wesley Lucas, Pedro Ivo e Thainara Castro em cena. Preparação vocal de Pedro Lima é notada nas vozes perfeitas do elenco.

Pilar também é o diretor e temos neste trabalho uma direção muito minuciosa e caprichada. Percebe-se a partitura da atriz (Fernanda Sabot) fazendo a mãe de Jovelina pedindo ao patrão para trazer a filha para o trabalho, a desenvoltura e imensas possibilidades de Cebola (Thalita Floriano), que hora dialoga com a plateia, ora comanda a banda. Todas as cenas da Diretora da Gravadora são ótimas. O movimento dos caixotes de feira, ora palco, ora queijo, ora esconderijo, a beleza do figurino, a luz mágica, a movimentação e gestuais, tudo está pensado com carinho e aplicado pelo elenco com entrega. Ótimo conjunto e acerto de escolhas. Direção, pra mim, é isto: harmonizar o visual, encaminhar o elenco, ajustar volumes, indicar entonações, fazer a equipe criativa entender a proposta e, mais que apenas executar, deixar todos que trabalham ao seu redor encantados e entregues à sua direção. É isso que sai do palco e chega na plateia. A preparação corporal de Luiza Loroza é percebida nos gestuais e comportamento cênico do elenco.

Thalita Floriano é Cebola de ponta a ponta. Espetacular seu trabalho. Aproveita todas as falas, se diverte, faz a plateia gargalhar e canta muito! Fernanda Sabot é a sensacional Diretora da Gravadora, entre outros personagens, e é a voz afinada que emociona com seu canto forte e emotivo. Thiago Thomé faz de patrão a marido, de apresentador a amigo fiel de Jovelina e canta muito! Thiago sabe que o palco é delas, mas ele pede passagem e se coloca com sabedoria e elegância. Cabe à Verônica Afro Flor o desafio de ser Jovelina Pérola Negra e Afro faz isso com respeito, carinho e emoção. Sua voz forte permite que tenhamos uma homenageada em cena e acreditemos em tudo que ela diz, canta e interpreta. A cena de Jovelina com o namorado/marido/pai dos filhos é linda, bem como Jovelina criança é belíssima. Sem contar nos pagodes inesquecíveis que Afro Flor faz a gente relembrar e agradecer por ter vivido no mundo junto com Jovelina.

A peça começa e nós, público, vamos nos acostumando com aquela história que vai se contando. Vamos entrando na história, a velocidade do texto, a sequencia de músicas, elenco, cenário, luz... quando do palco vemos uma cena que nos faz cair na real: é uma verdade em forma peça de teatro – neste momento a magia está feita. A plateia foi enfeitiçada. Tem duas cenas em que Jovelina é montada diante dos olhos do público. Roupa, peruca, sapato. De menina para mulher. De doméstica para cantora. Ali, aos olhos do público, a magia do teatro acontece. E então... somos todos consumidos pelo espírito do teatro. O teatro é, sem dúvida, o melhor lugar do mundo neste momento.

Dia 19 de setembro, Dia Nacional do Teatro, agora também é o dia de Jovelina Pérola Negra voltar aos palcos cariocas, com seu pagode que não deixa cair, é, é, sem vacilar, sem se exibir, pois ela, Jovelina, elenco, direção, dramaturgia, músicos, equipe criativa, só vieram mostrar o que aprenderam para nós. E saímos todos encantados pelo musical.

Imperdível. Aplausos de pé até as mãos ficarem roxas! Viva o teatro, viva Jovelina Pérola Negra!


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