Na rua Barão da Torre, em Ipanema, havia um bar com música ao vivo. Uma casa de dois andares. No primeiro, voz e violão. Em cima, banda. Era chegar e subir a fim de cantar, dançar e tomar umas cachaças. Tínhamos acabado de completar 18 - 19 anos. Numa destas idas, com Flavinha e Juliana, uma música nos fez cantar mais alto. "A semana inteira, fiquei esperando, pra te ver sorrindo, pra te ver cantando...". Era Tim Maia. Foi lá naquele segundo andar que ouvi pela primeira vez a música. Já era antiga, menos para nós. Ainda nesta noite, decidimos esticar e, pela primeira vez em nossas vidas, fomos a uma discoteca. Palace. Hoje Hotel Sofitel, na época, Hotel Rio Palace. A melhor boate do Rio, onde até a novela Vale Tudo havia sido gravada. Naquela noite dançamos muito. Lá pelas tantas, fomos presenteados com aquela musica novamente, agora na voz do Tim Maia, original. Foi o que faltava para coroar aquela aventura.
Era sábado, de novo, e eu queria porque queria ver "Tim Maia - Vale Tudo - O Musical". Parti para o Teatro Carlos Gomes, na recém reformada Praça Tiradentes. Esgotado até o fim da temporada. Ficamos na fila de espera pelos ingressos dos convidados que não aparecem. Após rápidos torpedos, um super-amigo conseguiu 2 ingressos para comprar. Oba! Tim Maia, aqui vamos nós!
O musical tem por base o livro de Nelson Motta. E é o próprio que assina o roteiro da peça. As melhores passagens da vida de Tim Maia estão ali. E é muito bom poder conhecer a história deste mestre do soul music tupiniquim. Nelson Motta optou por narradores. Estes se revezam no palco contando os causos. E, claro, entrelaçados por diálogos. As vezes fica estranho tanto narrador. Ainda mais quando, no meio de uma cena, para-se tudo, olha-se para a platéia, faz-se um comentário, e volta a cena. Fora isso, tudo certo. Eu gostaria mesmo que Nelson Motta tivesse sido o narrador e as cenas acontecessem independente dele. Mas é bobagem. Nada disso tira o brilho (e quantos brilhos!!!) do espetáculo.
A cenografia do Nello Marrese é um mix de estúdio de gravação com cenografia de show. Destaco o divertido aviãozinho no fundo do palco, nas horas em que Tim Maia vai e volta a Londres como quem vai alí na esquina e volta. O figurino é muito "brilhoso"! E repete com perfeição as roupas dos shows de Tim Maia. Para os demais personagens, tudo cabe perfeitamente com cada época em que a peça é retratada: dos anos 70 ao 90. A luz, também voltada mais para shows, é bonita.
Comandando tudo com sabedoria, João Fonseca. É público e notório que sou fã de seus trabalhos. Além de um grande homem, João cuida sempre com carinho dos projetos que coloca a sua marca. Já percebo - e até espero - algumas características do seu trabalho, como o momento "câmera lenta". Está lá. É João Fonseca. E, como sempre, um belíssimo trabalho. Consegue integrar todo elenco, músicas nos momentos certos, músicos, caracterização de personagens perfeita, todos bem marcados e o conjunto todo muito bem amarrado.
A direção musical também é excelente, lembrando os arranjos feitos para as baladas de Tim Maia, com sopros da banda Vitória Régia, que acompanhou o cantor.
O elenco é excelente. Infelizmente não tenho o nome de todos aqui para citar, mas destaco Isabela Bicalho cantando lindamente como Elis Regina e a última mulher de Tim; Lilian Valeska (que voz maravilhosa!) interpretando a mulher que foi a grande paixão de Tim Maia; Pedro Lima como o pai de Tim; e o ator que interpreta Nelson Motta e Roberto Carlos, fazendo uma grande homenagem. Todo o elenco é excelente.
E, não menos importante, ele, o síndico: Tiago Abravanel. Com 23 anos, é incrível a sua semelhança, em cena, com Tim Maia. Aplausos para a caracterização, trabalho de corpo, de voz, enfim, todo o laboratório e preparação que Tiago se submeteu e se dedicou para ser Tim Maia. Ele não representa. Ele é. Desde Sebastião, garoto da Zona Norte, a Tim Maia, artista consagrado no fim da carreira, e da vida. Tiago emociona não só por seu excelente trabalho como ator, mas por sua simpatia em cena. É impossível não se emocionar. Lágrimas brotam dos olhos sem que a gente tenha controle sobre elas. Lágrimas de saudade, de felicidade, de recordação, de homenagem e de trabalho bem feitos. E ver um profissional se destacar desta forma por seu trabalho é pra emocionar qualquer um. Todas as homenagens a Tiago Abravanel são mais que merecidas.
Pra ver "Tim Maia - Vale Tudo, o Musical" vale tudo. Ficar na fila esperando desistência, torcer para a temporada prorrogar, sair correndo ao final do espetáculo e esperar para abraçar elenco e direção, cantar alto, aplaudir ritmadamente cada música. Teatro pra mim é emoção. Quando a boca fica aberta, os olhos não piscam e lágrimas caem sem controle é aí que está a verdadeira função do teatro. Reviver, discutir, emocionar. Este musical, além de reunir o melhor do teatro carioca, presta uma linda - e justa - homenagem ao nosso maior símbolo do sambalanço carioca. Mais um belo musical brasileiro! Imperdível!! Salve Tim Maia!
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