O aniversário era de Cauby Peixoto. Parte da comemoração foi no Domingão do Faustão, lá no Projac. Após o Arquivo Confidencial, Cauby embarcou na limousine para levá-lo "para casa". Ele não sabia, mas a tal casa seria uma festa surpresa, com seus amigos e colegas, no Canecão. Enquanto isso, na casa de espetáculos, recebíamos o público e os artistas. Fui escalado para levar Emilinha Borba até a sua mesa. Ela chegou, fomos apresentados. Metade da minha altura. Entramos no Canecão de mãos dadas. A platéia se levantou. Emilinha, Emilinha, Emilinha! Ela apertava firme a minha mão, emocionada. Eu? Fiquei mínimo ao seu lado. Não era ninguém ao lado daquela Rainha. Até a chegada à sua mesa foram 3 eternos minutos de um aplauso contínuo da platéia. Emilinha, Emilinha, Emilinha! Segura pra não chorar. Ganhei dois beijos e um abraço longo seguido de um "Obrigada, meu filho". Saí dali e foi impossível não conter as lágrimas de emoção. Emilinha, Emilinha, Emilinha... até hoje a voz da platéia ecoa na minha cabeça. A festa era do Cauby, mas quem ganhou o melhor presente, fui eu.
Não vivi a rivalidade entre as cantoras. Rainhas do rádio. Marlene, ainda acompanho sua trajetória pelos jornais e programas de tv. Emilinha, eu a vi vendendo CD numa banquinha no Largo do Machado. Brasileiro tem memória curta e a mídia nem quer mais saber das cantoras que fizeram este país feliz. Ainda bem que Thereza Falcão e Julio Fischer (autores) e Eva Joory e Rodrigo Faour (pesquisadores) são bons de história e trazem para o Teatro Maison de France o musical "Emilinha e Marlene - As Rainhas do Rádio".
A peça tem por base a briga de duas irmãs pela paixão e pela defesa que cada uma faz em favor de sua favorita. Pano de fundo para contar histórias (e músicas) das duas cantoras. Um roteiro simples e eficiente, sem barriga e nem grandes revelações, mas que mostra com perfeição o talento das cantoras e a rivalidade entre os seguidores de uma ou de outra.
O cenário é um bom apoio para as entradas e saídas dos números musicais e sustenta os músicos no segundo plano. Lembra um grande armário de onde as memórias foram guardadas e agora são revividas. O figurino é bonito, com alguns exageros permitidos, reconstituindo roupas que as cantoras usavam em suas apresentações. A iluminação abraça o espetáculo e nos faz perceber claramente a diferença entre realidade, shows e delírios.
Durante a apresentação não ouvi, em nenhum momento, as cabecinhas brancas das senhorinhas da terceira idade reclamando que a peça é longa. Elas querem é mais! Querem reviver suas histórias. E neste quesito a direção de Antônio de Bonis é perfeita. A gente nem sente o tempo passar. Um grande espetáculo. Ágil, divertido, agitado, veloz, com excelentes números musicais. A história é dirigida com carinho. Cada ator está bem amparado, bem orientado, e compreendemos muito bem todas as frases ditas. A direção de movimento é fundamental para o sucesso do espetáculo. Por conta do limitado espaço do teatro, a direção consegue fazer milagres com o apoio da luz e do cenário. Vem Shell ai.
O elenco é apaixonante. Vontade de ouvir mais histórias das irmãs Angela Rabello e Rosa Douat; de aplaudir Luiz Nicolau na sua homenagem ao Cauby; de ouvir a voz de Cristiano Gualda cantando cada vez melhor; de rir e se emocionar com a divertida interpretação (e homenagem) de Cilene Guedes vivendo Bibi Ferreira; de abraçar Stella Maria Rodrigues, Mona Vilardo e Ettore Zuim em todos os papéis que interpretam e nas músicas muito bem cantadas.
Solange Badim e Vanessa Gerbelli estão perfeitas como Marlene e Emilinha, respectivamente. A composição que Solange Badim faz de Marlene, braços com movimentos marcados, forma de falar, agitação e afinação vocal são impecáveis. Emociona todas as fãs. Meninas, eu vi! Senhorinhas chorando à primeira entrada de Solange Badim como Marlene. Solange já foi indicada ao Prêmio Shell por seu trabalho em "Oui, Oui, a França é Aqui". Vanessa Gerbelli é uma Emilinha carinhosa, delicada, apaixonada, generosa, e totalmente dominada pela música. Emociona as fãs saudosas de Emilinha que, em 2005, nos deixou. As duas rivalizam (no bom sentido) e se revezam em belíssimos e carismáticos números musicais. Impossível não se envolver.
Marlene e Emilinha (ou Emilinha e Marlene) alimentavam a briga de suas fãs. Isto é fato. E gostavam de dizer que eram amigas. Eram? Se respeitavam, isso que importa. E quem ganhava, e ainda ganha, é o público. São, sem duvida alguma, grandes rainhas do rádio e da MPB. Vivemos numa época em que o passado, ao invés de ser enaltecido é enterrado. Reviver as cantoras e esta rivalidade é dar nova vida à História da Música Brasileira. Um espetáculo excelente, de grande emoção, prefeito e brasileiro. Imperdível.
Um comentário:
Muito, mas muito bom... vou voltar e continuar mandando meus amigos irem ver.
Que musical... muito tempo não temos um assim aqui pelo Rio. 180 minutos que parece 60.
Parabéns em todos
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