Nunca antes na história deste país se deixou aparecer tanto na tv e no teatro as (os) travestis, ou homens vestidos de mulheres para "ganhar a vida", seja como um artista ou como "pessoa de vida fácil". Faz um tempo, a capa da Revista do O Globo fez uma bela reportagem sobre Rose Bom Bom, uma Drag Queen carioca que fazia sucesso em boates, com hilários shows de humor. (http://www.youtube.com/watch?v=YM1p5Dtt1Ik&feature=related). Infelizmente Rose Bom Bom morreu ano passado. Mas aquela reportagem abriu ainda mais as portas do universo "trans sex" para o povo que fazia vistas grossas sobre o assunto. Podemos citar diversas personalidades cariocas conhecidas mundo à fora por sua irreverência, mas Madame Satã, Rogéria e Rose Bom Bom são as figuras mais famosas deste universo ainda paralelo.
Está em cartaz no Teatro Carlos Gomes uma homenagem sincera e honesta sobre a vida, arte e o dia a dia de um grupo de travestis que vivem da arte. As vezes um programinha ali, outro acolá, na boa e velha Praça Tiradentes, que ficou mais conhecida por ser um reduto de "meninas de vida fácil", do que pela sua importância história na cidade do Rio de Janeiro. "As Mimosas da Praça Tiradentes" conta rapidamente a história da praça. Quem quiser saber tudo, vá aos livros. O intuito da peça é divertir, dar valor a quem, no passado e hoje em dia, habita aquele entorno dos teatros e trazer para o público uma referência musical bastante interessante.
O texto é de Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche, que fazem uma boa pesquisa sobre o centro histórico do Rio de Janeiro e os gêneros musicais cariocas, como pudemos ver em "Oui Oui a França é aqui". O fechamento do Cabaré das Mimosas e o roubo de um colar são pano de fundo para os números musicais e a composição dos personagens divertidos e bastante reais.
A trilha sonora da peça é um achado. Pérolas musicais incríveis como "Pra Uso Exclusivo da Casa" (http://www.youtube.com/watch?v=2R03r-bTMEU) e "Mal Necessário" ilustram duas passagens muito engraçadas na vida de uma das "meninas" do cabaré, que é humana e sofre por amor. Os arranjos são de João Callado e Nando Duarte.
Na parte técnica, o cenário de Ronald Teixeira é um cabaré perfeito. Escalas, lampadas, brilhos, e uma leve alusão à Praça Tiradentes. O figurino é "brilhante", colorido, bem no estilo Drag! Totalmente dentro do contexto. Destaco ainda uma iluminação competente.
A direção da peça, nas mãos de Gustavo Gasparani e Sérgio Modena, coordena o furdunço do cabaré, acentua os momentos divertidos, informa sobre a Praça Tiradentes com um número de platéia, e tem boa movimentação de cena.
O elenco é formado por grandes atores de teatro, que sabem bem como se comportar em cena. Claudio Tovar traz o talento dos Dzi Croquetes para o palco e faz o dono do cabaré falido. Gustavo Gasparani, Cesar Augusto e Milton Filho interpretam três divertidíssimas, engraçadas, simpáticas, corretas e reais travestis. Sempre com verdade. Dão vida a personagens existentes. Jonas Hammar canta bem e interpreta um cigano-fake. E Marya Bravo, no papel da Divina, salvadora da pátria, entra arrebentando, arrasando, necessária, absoluta (isso pra usar o linguajar das travestis de plantão). Marya sabe das coisas. Uma das melhores cantoras e atrizes do cenário musical carioca. E uma grande intérprete também com um lindo trabalho em homenagem ao pai, Zé Rodrix - "De Pai para Filha."
"As Mimosas da Praça Tiradentes" é uma divertida e justa homenagem aos travestis de todos os tempos que ainda habitam a região do centro do Rio de Janeiro. Personagens reais do humor carioca. Vidas confusas que sofrem, cantam, encantam e ainda provocam aqueles que torcem o nariz para estes seres humanos. É o "Priscila, A Rainha do Deserto" à brasileira. É diversão garantida!
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