“Quem pode dizer que amou sem ter amado à primeira vista?” (Christopher Marlowe). Devo confessar que a maioria dos meus amigos e dos meus romances passados foram amores à primeira vista. Soube de imediato que a outra pessoa faria parte da minha vida de alguma forma. Nunca errei. Estão todos aqui até hoje. Intuição? Sexto sentido? Não sei dizer. Talvez a pureza do “à primeira vista”, sem as amarras sociais, sem os preconceitos, tenham sido levados em conta no momento do primeiro olhar. Um cheiro? Um gesto? Continuo sem saber.
Estreou no Teatro Poeira o espetáculo “À Primeira Vista”, texto de Daniel Maclvor que conta a história de duas mulheres que se conhecem casualmente numa loja. Deste encontro, as duas passam a se esbarrar, casualmente ou propositadamente, pelos mais variados motivos, em lugares inusitados. Uma narrativa sem grandes revelações nem grandes embates, porém o interessante é se tratarem de pessoas comuns, simples, que pode ser qualquer um de nós.
A direção do Enrique Dias dá uma vida diferente ao texto. Coloca as atrizes em posições em que dialogam sem estarem frente a frente - nos momentos do passado - e, no momento do presente, contam a história para a plateia, destruindo a quarta parede e fazendo de todos um grande grupo de amigos.
A cenografia é composta de um telão com rabiscos que se desce do teto ao chão, adereçado por poucos objetos de cena. O figurino é simples e eficiente. Nada além do necessário. A luz muda radicalmente as cenas do passado para o presente, auxiliando certeiramente a direção e o movimento das atrizes em cena e a compreensão do texto.
Mas o grande encontro é de Drica Moraes com Mariana Lima no palco. Mariana tem uma excelente carreira de atriz e neste espetáculo não faz diferente. Desde Pterodátilos que o grande publico passou a conhecer sua brilhante atuação. É competente na sua criação e, mais ainda, generosa com a amiga Drica Moraes em cena.
Drica volta aos palcos recuperada. Saúde plena. A sensação é de que agora, estando viva, Drica quer usufruir de cada vírgula do texto, cada movimento no palco, cada raio de luz. Está plena, sem amarras, sem conceitos, sem vergonha, livre, completa, dedicada. Acompanhamos sua recente história pelos jornais. Rezamos, torcemos, e ai está o resultado de todo o carinho que doamos, anonimamente ou não, para que sua recuperação fosse total. E é. Drica brinca no palco. Está linda em cena. Pura, uma criança experimentando tudo que, talvez, antes não tivesse oportunidade de fazer.
O espetáculo é interessante, atual, bom teatro, texto inteligente, direção moderna e ágil. Mas o grande barato da peça é ver a amizade, o carinho e a dedicação de uma equipe de amigos e excelentes atrizes em cena. Ver Drica Moraes no palco novamente é emocionante. Ela está melhor que antes. Quando se perde um familiar de câncer, e vemos outro acometido da mesma enfermidade recuperado e vivo, é impossível não chorar. Aplausos de pé.
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