Éramos pequenos e fomos em fé até a Praça da
Bandeira esperar o Papa passar. “A bênção, João de Deus, nosso povo te abraça. Tu
vens em missão de paz. Sê bem-vindo, a abençoa a este povo que te ama”! Como
percebem, ainda me lembro da música. Cantávamos em pé à espera dele. Bandeiras
de papel amarelas misturadas às verde e amarelas. Veio o ônibus. Na frente, a
figura de branco passou acenando pelo lado de dentro do vidro. Passou. Nos
sentimos abençoados. Isso foi em 1980 e eu nem tinha 10 anos de vida!
Infelizmente este ano, Papa Francisco não me viu no Rio. Estive fora,
trabalhando, e acompanhei pela TV a JMJ que, se pelo lado da desordem a falta
de infraestrutura nos envergonhou como cariocas, por outro lado nos encheu de
alegrias como católicos e brasileiros, ao receber, tão carinhosamente, o novo Papa
em sua primeira viagem internacional.
Está em cartaz no Teatro Clara Nunes a comédia “O
Dia em que Raptaram o Papa”. O texto de João Bethencourt teve mais de 40
encenações pelo mundo. Precisa dizer mais alguma coisa sobre o texto? Sucesso,
claro. Divertido e totalmente coerente, não falta uma explicação e tudo que se
diz é sério e de ótimo gosto. As piadas atualizadas ajudam a aproximar o público
da história. E nada mais atual e oportuno do que esta montagem, que estreou
próximo à Jornada Mundial da Juventude.
Um taxista recebe uma bênção divina: conduzir o
Papa no seu dia de folga. O que ele faz? Tem uma ideia de jerico (Pausa para
amadurecimento profissional: no Nordeste, jerico é igual a mula): raptar o Papa
e pedir resgate. Leva o dito cujo para sua casa, para enlouquecer sua esposa e
filhos. A notícia se espalha. O mundo fica temeroso com o sumiço do pontífice.
Até a eterna bola da vez Al Qaeda é acusada. O local do sequestro é descoberto.
E, partir daí, surgem o Rabino, o Xerife da cidade, e o repórter contando tudo,
ao vivo, para todas as televisões do mundo. O pedido de resgate é inovador e
esperançoso. Será que vão conseguir liberar o Papa são e salvo? Haverá perdão
pra o sequestrador? Vá ao teatro e assista até o fim.
A direção do Tadeu Aguiar é ótima! Integrando muito
bem elenco, cenário, trilha sonora, ocupando com inteligência o espaço apertado
do teatro Clara Nunes. Tadeu explora o talento do elenco para as frases da
comédia e acerta na velocidade em que o elenco diz o texto. Comédia tem que ser
rápida, mas com tempo para saborearmos as piadas. E assim Tadeu faz.
A cenografia de Edward Monteiro, em dois andares, é
bastante bonita, colorida e bem acabada. Gosto dos janelões soltos no ar, nas
laterais. Destaque também para os adereços de Clívia Cohen. Adorei a geladeira
amarela pintada como um taxi novaiorquino. O figurino de Ney Madeira, Dani
Vidal e Pati Faedo é sempre bom. Nada além do necessário para caracterizar a família
judia, o rabino, o adolescente, o cardeal e o Papa e com isso acerta em cheio.
O perfeito vídeo de Paulo Severo conta com Vanessa Gerbelli Ceroni e Françoise
Forton interpretando âncoras de um telejornal, narrando a saga do Papa
desaparecido. Tudo bem iluminado por Rogério Wiltgen.
No palco, o Papa de Rogério Fróes é mais parecido
com Papa Francisco do que o antigo Bento XVI. Carismático e seguro. Marcos
Breda é o divertido e atrapalhado sequestrador-taxista. Com um tempo de comédia
bastante apurado, faz a plateia torcer por ele para que, no final da peça, seja
feliz junto com sua família. Debora Olivieri, hilária como a esposa. Me
arrancou gargalhadas! Renan Ribeiro e Sabrina Miragaia interpretam os irmãos,
filhos deste pai louco, mas que amam a família e fazem tudo para ajudar a
solucionar este imbróglio. Silvio Ferrari interpreta muito bem o Cardeal, exatamente
como pensamos ser um deles lá no Vaticano (ok, fui irônico). E ainda temos
Fabio Bianchini como o Xerife, Bruno Torquato como o repórter e Valter Rocha
como o policial que, coitado, é explodido junto com o jardim da casa! Diversão
pura!
Aplausos mais uma vez para os produtores Norma
Thiré, Eduardo Bakr e Tadeu Aguiar. Espetáculo de excelente gosto, oportuno,
bem criado, bem dirigido, que justifica os patrocínios recebidos. Além da
atualidade do tema, trazer João Bethencourt para os palcos é sempre um tiro
certo. Pra você que aprecia o bom teatro,
aquele que nos orgulha ver, vá já para o Teatro Clara Nunes e não perca esta
oportunidade.
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