quinta-feira, 24 de outubro de 2013

CAZUZA - Pro dia Nascer Feliz



Conheci as músicas do Cazuza junto com todo mundo. Infelizmente não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Mas, suas letras, suas melodias, fizeram parte da minha juventude/adolescência. Confesso que , na época, não entendia muito o que ele falava. Segredos de liquidificador, pra mim, eram confissões da nossa empregada durante a faxina da cozinha... com o tempo, descobri o que era. E “se eu te escondo a verdade, baby, é pra te proteger da solidão” passou a fazer parte do meu vocabulário quando comecei a namorar. Passei a entender tudo o que o Cazuza falava. Passei a compreender suas letras. Passei a amá-lo.

Está em cartaz no Teatro Net Rio, sala Thereza Rachel, o musical “Cazuza, pro dia nascer feliz”. O titulo é bastante apropriado, pois Cazuza era uma pessoa feliz, apesar de ter sofrido um bocado no fim da vida. Capaz de tirar piada e sarro da cara de qualquer um, ele sabia como aproveitar ao máximo tudo aquilo que era possível. Vida, sexo, drogas e música.

O texto do Aloisio de Abreu é uma homenagem bem escrita, cheia da ironia típica do Cazuza. Aloisio nos conta uma história, faz homenagem, informa, faz drama e comédia, com base no livro “Só as mães são felizes”, escrito por Lucinha Araújo. Acho o texto ágil e, mesmo nos momentos dramáticos, é bem suave. Já basta o sofrimento da história.

O cenário do Nello Marrese é composto de praticáveis, com os sarrafos aparentes, e as plataformas cobertas com as letras das músicas. Como a peça se passa em diversos ambientes, seria impossível criar um ambiente para cada, mas Nello auxilia muito bem à direção, indicando qual plano seria melhor para contar aquela parte da história. Ao fundo, temos projeções que dão a cor aos momentos da peça. O figurino é bastante fiel à época. A luz é muito boa e consegue separar os ambientes, auxiliando a cenografia, criar climas românticos e de desespero, ilustra os números musicais e amplia a vontade de viver do Cazuza.

O elenco é bastante numeroso. Formado principalmente pelos atores do musical Rock In Rio, um elenco jovem que dá conta do recado. Destaque para André Dias, interpretando Ezequiel Neves, empresário do Cazuza (Perfeito!), e Yasmin Gomlevsky como Bebel Gilberto. No número musical pra aplaudir de pé, temos uma cópia verdadeira de Ney Matogrosso cantando no palco “Pro dia nascer feliz”.

Claro que Emilio Dantas é fabuloso. Isto não é uma interpretação, é uma incorporação. Cazuza vive. Emilio é Cazuza. Sinceramente, não sei como Lucinha Araújo conseguiu assistir ao espetáculo... Acho que sei: é a forma de reviver o filho. Relembrar passagens divertidas e história da musica brasileira. Emilio usa todas as suas armas para conquistar a plateia. Voz perfeita, afinada. Ele é Cazuza.

João Fonseca é o diretor. Sábio, inteligente e moderno, João usa a fórmula de Tim Maia e Rock In Rio, aprendendo com os erros e acertos dos dois musicais. E tem, em Cazuza, o seu trabalho mais perfeito, dentre os três citados aqui. Gosto muito destes três musicais, são fantásticos e referências, mas Cazuza é o mais perfeito dos três na direção. João nem exagera, nem economiza. Bota elenco para trabalhar com garra. Usa o palco, figurino, luz, música, tudo a favor da história e do teatro.

O trio João, Aloisio e Emilio sabe muito bem cuidar desta homenagem a Cazuza. Eles três são Cazuza. Os três, com o apoio de uma equipe técnica do maior grau de competência, souberam construir um espetáculo digno deste artista, sua garra, sua luta contra preconceitos e a sociedade hipócrita. A burguesia fede.

Saí do teatro balançado. Claro que conheci pessoas que morreram por conta dos efeitos da Aids. Graças à medicina, hoje se vive com qualidade e bem mais tempo do que na época do Cazuza. Lembrei dos amigos que se foram, cantei, me diverti, e feliz pelo trabalho de todos no palco. Cazuza, mesmo agora, e ainda, eu preciso dizer que te amo.

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