Conheci as músicas do Cazuza junto com todo mundo.
Infelizmente não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Mas, suas
letras, suas melodias, fizeram parte da minha juventude/adolescência. Confesso
que , na época, não entendia muito o que ele falava. Segredos de
liquidificador, pra mim, eram confissões da nossa empregada durante a faxina da
cozinha... com o tempo, descobri o que era. E “se eu te escondo a verdade,
baby, é pra te proteger da solidão” passou a fazer parte do meu vocabulário
quando comecei a namorar. Passei a entender tudo o que o Cazuza falava. Passei
a compreender suas letras. Passei a amá-lo.
Está em cartaz no Teatro Net Rio, sala Thereza Rachel, o
musical “Cazuza, pro dia nascer feliz”. O titulo é bastante apropriado, pois
Cazuza era uma pessoa feliz, apesar de ter sofrido um bocado no fim da vida.
Capaz de tirar piada e sarro da cara de qualquer um, ele sabia como aproveitar
ao máximo tudo aquilo que era possível. Vida, sexo, drogas e música.
O texto do Aloisio de Abreu é uma homenagem bem escrita,
cheia da ironia típica do Cazuza. Aloisio nos conta uma história, faz
homenagem, informa, faz drama e comédia, com base no livro “Só as mães são
felizes”, escrito por Lucinha Araújo. Acho o texto ágil e, mesmo nos momentos
dramáticos, é bem suave. Já basta o sofrimento da história.
O cenário do Nello Marrese é composto de praticáveis, com os
sarrafos aparentes, e as plataformas cobertas com as letras das músicas. Como a
peça se passa em diversos ambientes, seria impossível criar um ambiente para
cada, mas Nello auxilia muito bem à direção, indicando qual plano seria melhor
para contar aquela parte da história. Ao fundo, temos projeções que dão a cor
aos momentos da peça. O figurino é bastante fiel à época. A luz é muito boa e
consegue separar os ambientes, auxiliando a cenografia, criar climas românticos
e de desespero, ilustra os números musicais e amplia a vontade de viver do
Cazuza.
O elenco é bastante numeroso. Formado principalmente pelos
atores do musical Rock In Rio, um elenco jovem que dá conta do recado. Destaque
para André Dias, interpretando Ezequiel Neves, empresário do Cazuza
(Perfeito!), e Yasmin Gomlevsky como Bebel Gilberto. No número musical pra
aplaudir de pé, temos uma cópia verdadeira de Ney Matogrosso cantando no palco “Pro
dia nascer feliz”.
Claro que Emilio Dantas é fabuloso. Isto não é uma
interpretação, é uma incorporação. Cazuza vive. Emilio é Cazuza. Sinceramente,
não sei como Lucinha Araújo conseguiu assistir ao espetáculo... Acho que sei: é
a forma de reviver o filho. Relembrar passagens divertidas e história da musica
brasileira. Emilio usa todas as suas armas para conquistar a plateia. Voz
perfeita, afinada. Ele é Cazuza.
João Fonseca é o diretor. Sábio, inteligente e moderno, João
usa a fórmula de Tim Maia e Rock In Rio, aprendendo com os erros e acertos dos
dois musicais. E tem, em Cazuza, o seu trabalho mais perfeito, dentre os três
citados aqui. Gosto muito destes três musicais, são fantásticos e referências,
mas Cazuza é o mais perfeito dos três na direção. João nem exagera, nem
economiza. Bota elenco para trabalhar com garra. Usa o palco, figurino, luz, música,
tudo a favor da história e do teatro.
O trio João, Aloisio e Emilio sabe muito bem cuidar desta
homenagem a Cazuza. Eles três são Cazuza. Os três, com o apoio de uma equipe
técnica do maior grau de competência, souberam construir um espetáculo digno
deste artista, sua garra, sua luta contra preconceitos e a sociedade hipócrita.
A burguesia fede.
Saí do teatro balançado. Claro que conheci pessoas que
morreram por conta dos efeitos da Aids. Graças à medicina, hoje se vive com
qualidade e bem mais tempo do que na época do Cazuza. Lembrei dos amigos que se
foram, cantei, me diverti, e feliz pelo trabalho de todos no palco. Cazuza,
mesmo agora, e ainda, eu preciso dizer que te amo.
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