Romances policiais e de suspense são meus gêneros literários
favoritos. Acabei de ler “Dias Perfeitos”, do amigo-escritor Raphael Montes, um
jovem que está subindo mais que foguete, cuja capacidade de deixar o leitor
atônito, ao entrar na cabeça de um psicopata e torcer para que o protagonista
se dê bem, é enorme. Indico também, dele, o livro “Suicidas”. Esse garoto vai
longe. Mas vem de longe a paixão por mistérios. Agatha Christie, com seus
pimpolhos Hercule Poirot e Mrs Mapple, Arthur Conan Doyle com seu Sherlock
Holmes, e Inspetor Maigret criado por Georges Simenon, só para citar os mais
famosos, estão na estante de livros, no lugar privilegiado. Recentemente caí de
cabeça nas séries CSI (e derivados), bem como na série Sherlock, no Netflix,
pelo prazer que oferecem, ao explorarem os cérebros dos telespectadores em busca do
assassino, ou fazendo parte do crime.
A surpresa boa, é que está em cartaz no teatro do Centro
Cultural da Justiça Federal a peça “Baker Street 221b” – famoso endereço de
Sherlock, em Londres. A peça é uma aventura do detetive em busca do assino de
prostitutas, que morrem em série, na cara da plateia. Sherlock está lá, junto
com o “elementar” Watson. O roteiro do espetáculo é assinado pelo Imaginário Coletivo,
que optou mais por movimentos, teatralidade, do que especificamente um texto.
Sábia decisão.
O palco livre, é abastecido por cadeiras e dois trainéis de
pano preto que servem para dividir espaços. Porém, os próprios atores também
são paredes, cachorros, gatos, partes de um corpo humano... só vendo para
saber. O jogo do teatro para contar uma história, onde os atores são - além de intérpretes - cenário e figurino, é o grande mérito da peça. A luz de
Anderson Ratto é ótima, assim como o figurino de Ticiana Passos. E para
emoldurar todo o espetáculo, a sábia trilha sonora de João Mello e Gabriel
Reis.
A direção do André Paes Leme é genial. Trata-se de um
trabalho de fim de curso do elenco e André consegue tirar proveito do que estes
jovens sabem fazer de melhor. O jogo de cena (não há outra definição para a
peça: um jogo), é combinado desde o princípio com a plateia, que embarca no
desafio de imaginar o cenário, a situação, o assassinato, quem será a próxima vítima.
André explora palco e plateia com sabedoria, coxias e escadas, ocupa cada centímetro
que lhe é dado para contar a história. Recentemente assisti uma montagem do
mesmo diretor – 1958 A Bossa do Mundo é Nossa – no teatro Laura Alvim, e a
proposta era parecida. Na época eu já havia gostado deste jogo teatral e,
agora, com Baker Street 221b, a repetição é mais um acerto.
No palco, Ícaro Silva é Sherlock. Recém saído de Jair
Rodrigues, em Elis, A Musial, Ícaro mostra que seu talento é cada dia mais
apurado. Luca Ayres é Whatson. Divertido e carismático. As atrizes Mariah
Viamonte, Lorena Medeiros, Hannah Jacques, Luisa Pinheiro e Júlia Morales são
as prostitutas, delegadas, passageiras do trem, pernas, braços e corpos do
assassino. Seus corpos (no bom sentido) estão à disposição do espetáculo! A
cena das cabeças retiradas do saco plástico é hilária! Aplausos para a cena da
prostituta se defendendo com a mão esquerda, mas com a direita interpretando o
assassino. Outra cena genial é a do trem. Tive vontade de aplaudir em cena
aberta vários momentos, mas optei por segurar para o final, de tão envolvido
que estava com a história. Um barato o trabalho de todos! Entregues para que o
espetáculo seja o mais importante e não este ou aquele personagem.
Se isto é uma montagem de atores recém formados, imagina quando forem veteranos? Rapaz! Que espetáculo! Que delicia de romance policial, que sabor de comédia de suspense! A nossa imaginação é parte integrante do espetáculo e muito do que vemos ali, no palco, é complementado em nossas cabeças, através de imagens e deduções. Elementar, caros leitores. Vida longa ao espetáculo. Indico esta peça como uma das melhores em cartaz no momento. Imperdível.
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