O tema é vasto. As discussões sem fim. Relacionamento a dois
ainda é um dos maiores problemas da humanidade, quando sentam no consultório de
um psicólogo. Minha culpa? Culpa do outro? Onde está o erro? Houve erro? O que
fazer para melhorar?
Ao longo dos meus - muito bem vividos - 7 anos de terapia,
aprendi que o nosso comportamento é sempre o responsável pelo que sofremos. As
pessoas só fazem com a gente, aquilo que a gente, conscientemente, ou não,
deixa que elas façam conosco.
Sempre digo que teatro tem que deixar uma reflexão pra
levarmos para casa. Assim como na terapia, na sala de aula, refletir em casa,
amadurecer a ideia, gastar o assunto, é importante. Se vamos aprender, só o
tempo dirá.
Dentre o que aprendi na terapia, uma conclusão: quanto mais
rápido chegar ao fundo do poço, mais rápido você sobe de volta. Imagine um
poço, com uma mola embaixo. Se você descer devagar, curtindo a fossa, adorando
sofrer, ao pisar na mola, você estará tão sem forças, que a mola não vai te
impulsionar de volta e, portanto, a cura demorará a chegar. Ao passo que, se
descer ao fundo do poço logo, na velocidade, se acabando duma vez, a força do
resgate, retorno, é muito maior e logo logo você estará são e salvo, pronto
para outra. De novo.
Está em cartaz no Teatro Leblon, sala Tônia Carreiro, a peça
“A quantas separações uma mulher é capaz de sobreviver?”. Texto de Renata Tobelem.
A peça conta a história de Ana, que acabou de tomar um pé na bunda. O cara nem
se deu ao trabalho de ir pessoalmente dizer adeus. Deixou uma mensagem na
secretária eletrônica e acabou com o humor da moça. Ela, que já vem de alguns
pés-na-bunda, faz uma reflexão, consigo mesma, e tendo a plateia como ouvido e
cumplice, sobre seus mais recentes relacionamentos. Em todos, ela comete os
mesmos pecados comportamentais, que uma boa terapeuta iria enumerar e ajudá-la
a não cometer mais os mesmos erros. Quem sabe outros? Novos erros?
O texto flui muito bem. Renata sabe escrever e contar
histórias com inteligência. Tem humor nas entrelinhas e nas ações que Ana se
envolve. Sem apelos, mantendo a sequência em ascendência até o clímax, o texto
em si já é um prazer para o público acompanhar. A cada novo relacionamento frustrado,
vemos a evolução dos erros e acertos na vida de Ana, mesmo sem ela se dar
conta. Embora Ana faça terapia, a alta médica está longe de chegar. Aliás, acho
que Ana merecia mudar de analista, pois seus sofrimentos com sua vida amorosa têm
cura!
O lindo cenário de Lídia Kosovski e Nicole Marengo,
onde a personagem escreve no quadro negro informações para que não se esqueça
dos fracassos, como se a vida lhe desse uma aula, mostra bem a cabeça de Ana:
muita informação bagunçada e confusão. Adorei o lustre em formato de forca! Lembra
ainda uma sala de aula, onde a vida vai ensinando para Ana a forma de se
adequar ao comportamento social de sua geração. O figurino de Sol Azulay está
bonito e confortável, dando a leveza necessária para a personagem que está em
casa, envolta em seus problemas. A iluminação: Felipe Lourenço deixa claro o
momento da confusão, da diversão e da reflexão. E a trilha sonora de Michel
Bercovitch dá o tom certo para os momentos em que a passagem de tempo,
pensamentos e devaneios são importantes.
Guida Vianna dirige a peça, explorando toda a capacidade que
Renata tem. Ela consegue sugar o que a autora-atriz quis dizer com cada frase e
fazê-la passar com toda a verdade. Aplausos para um trabalho elegante e sábio.
A vantagem de ser autora e atriz é que, Renata Tobelem pode
brincar a vontade com a palavra. Está ótima em cena. Segura, divertida,
cativante, firme. Já conheço seu trabalho desde a peça Aberrações, onde tive o
prazer de assisti-la durante meses. Eu me apeguei ao espetáculo e ia a quase
todas as apresentações. Agora, em “A quantas separações uma mulher pode
sobreviver?”, Renata mostra mais uma vez a grande atriz que é. Olho nela, pq
vai longe. Precisamos que a mídia reconheça o grande talento que ela tem.
“A quantas separações uma mulher pode sobreviver?”.
Sinceramente? A todas. A opção pela vida, mesmo que o luto seja grande, o
sofrimento forte, não pode ser posta em duvida. Morrer é fácil. Difícil é
encarar de frente com força, resiliência (aprendi essa palavra há poucos dias e
estava louco pra usar!), se recuperando e seguindo em frente a cada lombada que
a vida nos dá. Portanto, vá ao teatro. Terças e quartas, assistir a este
espetáculo.
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