quinta-feira, 14 de julho de 2016

MAMONAS, O MUSICAL



Um dia sem sorriso é um dia desperdiçado (Charles Chaplin). Abençoado aquele que faz com que seus companheiros riam (Alcorão). Os Deuses adoram uma boa piada (Aristóteles). Se estas três referencias não foram suficientes, posso citar tantas outras mais para te fazer crer que só o humor salva. Dizem que é o amor, mas, pra mim, uma gargalhada salva uma vida.

Está em cartaz, no Theatro Net Rio, "Mamonas”, um musical-homenagem ao grupo Mamonas Assassinas, contando a história e a trajetória dos garotos de Guarulhos, como se juntaram e os caminhos que os levaram até a fama. Assinado por Walter Daguerre, baseado ou não na frase de Aristóteles, a peça começa com os Deuses escalando os próprios Mamonas Assassinas para voltarem à Terra e trazer alegria e risos nesse momento “tão dreprê” que vivemos em nosso país, em nossa cidade. Abusando de referencias modernas, bom humor e inteligência, o texto já pode ser considerado um dos melhores escritos para musicais biográficos, uma vez que zomba do próprio gênero, utiliza palavras em moda (spoiler), sem perder as referências da época em que o grupo fez sucesso.

A trilha sonora, conhecida e bastante cantada por todos - Mina, seus cabelo é da hora – quem nunca? – contém outras referências dos anos 90, como Capital Inicial, Titãs, Paralamas e Renato Russo. Ótima sacada para contextualizar a época em que se passam as ações.

A cenografia de Nello Marrese, craque, dá leveza e facilidade ao espetáculo, onde os personagens principais precisam correr, pular, gastar energia. Destaque para as cortinas com projeções (vídeos da Honeypot Filmes). O figurino de Fábio Namatame recria a época e a irreverência dos cantores com perfeição. O design de luz, assinado por Wagner Freire, acerta nos momentos que alterna dramaturgia com show. Destaque para o design de maquiagem e cabelo, de Anderson Bueno, que recriou um Jô Soares perfeito no palco. Ainda merecem aplausos a direção musical de Miguel Briamonte e seus músicos fiéis.

José Possi Neto, mestre na arte dramática, um dos melhores diretores de teatro que acompanho, deixa os atores à vontade para que, assim como os Mamonas, sejam o mais ousados e brincalhões em cena, porém sua força como diretor está em manter o alto astral da peça todo o tempo, com mãos de ferro, mesmo nos momentos de bagunça, sabendo que o mais importante é mostrar a garra dos novos talentos em cena, fazer a plateia se divertir e contar uma história interrompida abruptamente pelas mãos dos Deuses. Ótimo trabalho de direção, muito bem auxiliado pelas coreografias de Vanessa Guillen.

Os atores Bernardo Berro e Patrick Amstalden estão fantásticos! Por momentos roubam a cena dos Mamonas com suas interpretações de Jô Soares e Anjo Gabriel, respectivamente. Ainda compõem o elenco Marco Azevedo, Rafael Aragão, Maria Clara Manesco, Nina Sato, Reginaldo Sama, Vanessa Mello, André Odin e Gabriela Germano.

Sem duvida alguma a grande descoberta são os cinco atores que incorporam os Mamonas Assassinas: Ruy Brissac (Dinho) dá show, emociona quando entra. É o Dinho no palco. Yudi Tamashiro (Bento), o japa da turma, carismático e divertidíssimo. Adriano Tunes (Julio), Arthur Ienzura (Sérgio) e Elcio Bonazzi (Samuel) seguram a peteca do grupo e suas interpretações estão à altura dos fantásticos Mamonas. Sem duvida um grupo de jovens atores dedicados, competentes e talentosos que nos faz ter a certeza de que a renovação dos atores de teatro é necessária e que estamos cada vez mais assistindo a profissionais da mais alta classe sendo formados e se apresentando. Aplausos emocionados.

A irreverência dos Mamonas Assassinas, o politicamente incorreto, a liberdade de expressão, muito policiados e criticados hoje em dia pela patrulha da Web é muito bem vindo nesse momento borocoxô do brasileiro. A  falta de esperança é geral. A crise nos pega com força, os teatros andam vazios, assim como lojas que fecham, cinemas às moscas, livros empoeirados esperando compradores. Lógico que um ou outro  gênero se salva da crise: os youtubers. Graças à eles, os teatros andam recebendo novas plateias e contamos com essa turma para divulgar o verdadeiro teatro.

Que imenso prazer assistir ao musical sobre os Mamonas Assassinas. Como é bom relembrar os anos 90, trazer a alegria sem compromisso para o palco. Mostrar aos jovens que o humor independe de época, e sim boa vontade. A liberdade de expressão necessária.

Aplausos para os produtores Rose Danley, Túlio Rivadavia e Marcio Sam, para o patrocinador Banco do Brasil Seguridade, que acreditaram no projeto, tiveram forças para levantar equipe e apoios e trazer para nós este espetáculo brilhante, com o auxílio da necessária Lei Rouanet do Ministério da Cultura.


Já deu a sua risada hoje? Aproveite o fim de semana que se aproxima e vá ao teatro. Vá rir. Viva o teatro, viva Mamonas Assassinas!


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