Foi no século passado que fui com minha mãe e irmã ao Teatro Casagrande, antes do shopping, assistir ao sucesso da temporada. Sentamos em cadeira extra, na lateral. E foi mágico. Quando acabou a apresentação eu estava consciente de que era disso que eu queria viver. Foi por causa desta peça que a paixão pelo teatro surgiu.
Corta para 2018. Quando soube da nova montagem, fiquei eufórico e faria de tudo para assistir. Partiu São Paulo. E a magia se refez.
A história é uma comédia com pitadas de terror e suspense. Dois atores se revezam em 6 papéis e o grande desafio é a rápida troca de roupas.
Seria impossível refazer o espetáculo, que é uma comédia clássica, nos tempos atuais. Repetir a fórmula seria compará-la ao “original”, e as criticas seriam imensas. Então, o diretor Jorge Farjalla, conhecido por montagens inovadoras, re-inventou Irma Vap.
Nos dias de hoje, vemos televisão, seriado, usamos o celular, alternamos entre aplicativos, digitamos e ouvimos música, tudo ao mesmo tempo. Farjalla usa isso para modernizar Irma Vap. Temos humor, critica política, enxurrada de referências de cinema e de memes, homenagens, música e inteligência. Se na montagem original o mérito era de Marco Nanini e Ney Latorraca (dirigidos por Marília Pera), nesta versão o mérito é de Jorge Farjalla (que dirige Luis Miranda e Mateus Solano). Farjalla brinca com os atores e surpreende a plateia com uma direção segura, criativa, moderna e inovadora. A grande referencia é um trem fantasma, que dá vida ao cenário. Um parque de diversões tanto para o elenco quanto para o público.
Marco Lima assina a cenografia excelente que encaixa como uma luva na ideia do diretor. Karen Brusttolin criou um figurino criativo, recheado de conceitos, que vão desde Drácula de Bram Stoker até Priscilla a Rainha do Deserto, mas que precisa ser de rápida troca. Cesar Pivetti ilumina toda a cena com perfeição, como um show, como teatro. E a trilha sonora de Gilson Furushima é um personagem à parte! Que equipe, senhores! Que equipe!
Farjalla acerta também quando acrescenta ao espetáculo quatro atores-músicos-bailarinos. Greco Trevisan, Fagundes Emanuel, Thomas Marcondes e Kauan Scaldelai são corvos, ratos, conta-regras, músicos, camareiros, ponto eletrônico... uma infinidade de atividades que faz o espetáculo ficar mais rico.
Luis Miranda e Mateus Solano são os atores desta terceira montagem (Marco Nanini e Ney Latorraca na primeira, Cassio Scapin e Marcelo Medicis na segunda). Inegável o imenso talento dos dois. Luis com seus brilhantes personagens de Terça Insana e Sete Contos, se utiliza das suas construções conhecidas do público e as empresta para os personagens desta peça. Mateus Solando, gênio, usa as referencias de Dois para Viagem e Selfie, acrescenta um trabalho de corpo impecável e minucioso, e vive os personagens de Irma Vap sabendo da responsabilidade que é esta remontagem.
Impossível dizer que o mérito do sucesso desta nova Irma Vap é de uma só pessoa. Os produtores Marco Griesi, Priscila Prade, Daniela Griesi e Fernando Trauer acertaram na escolha da equipe toda. Acreditaram na ideia trazida por Jorge Farjalla e embarcaram neste trem-fantasma, nesta brincadeira, neste espetáculo genial, nesta aventura cujo sucesso é garantido.
Desejo que Irma Vap 2019 tenha tanta vida quanto a primeira montagem, que ficou 11 anos em cartaz. O teatro brasileiro precisa deste espetáculo. Novas plateias precisam ser formadas e Irma Vap tem tudo para levar de volta às salas de espetáculo o público que se afastou. Irma Vap mostra ainda aos empresários e patrocinadores que o teatro está vivo e é um ótimo investimento.
Fiquei muito feliz e emocionado em rever os personagens, em voltar a acreditar que o teatro é importante para a cultura nacional. E, mais que tudo, fiquei impressionado por saber que é possível remontar um espetáculo clássico de uma forma ainda melhor. Jorge Farjalla reinventou o teatro de comédia com esta versão de Irma Vap. Aplausos e gritos de Bravo são pouco para este espetáculo. Por favor, assista. Não perca esta oportunidade. Vida longa a Irma Vap!!
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