Nesta época em que o mundo desaprendeu a amar, os dedos são apontados buscando culpados, o cancelamento nas redes sociais é uma constante, o linchamento público, o endeusamento de idiotas, é mais que urgente falar de amor, amor próprio, combater preconceitos de qualquer categoria e espalhar verdades. Aqui neste espaço, compactuamos com a verdade, buscamos informações relevantes, opino com base na ciência e, sim, é uma ditadura do meu gosto teatral!
Penduro as roupas de trás pra frente no varal. As maiores atrás, as menores na frente. Assim, o sol bate em todas de alguma forma. Mania?
Está em cartaz até dia 29 de maio, na sede da Cia dos Atores, na escada Selaron. na Lapa, o espetáculo “Cuidado quando for falar de mim”, idealizado e dirigido por Ricardo Santos, resultado de participação deste em reuniões de acolhimento da ONG Grupo Pela Vidda RJ, onde ele ia dar uma oficina de teatro. A oficina não veio, mas a partir desses encontros, Ricardo – que foi indicado ao prêmio Shell por O Rinoceronte – “percebeu o quanto era urgente falar do HIV, seus impactos na vida da população, os avanços da medicina e os estigmas de uma doença social”, conforme está escrito no release.
E o resultado, o texto produzido por Carolina Lavigne é excelente. Os relatos são extremamente verdadeiros e encaixados numa sequência lógica que mantém o público alerta e atento a cada novo episódio vivido no palco.
A direção do próprio Ricardo, sabe perfeitamente o que quer, não só dos atores, mas do texto, do espaço, da trilha e dos vídeos: apresentar pessoas que vivem com o vírus, de uma maneira normal, idêntica a qualquer ser humano cheio de manias. A presença do vírus para quem toma os antirretrovirais e está indetectável, é apenas algo a mais nas manias nossas de cada dia. Aplausos para a utilização do espaço cênico da Sede das Cias dos Atores. Para a calma em apresentar as histórias sem a correria em entregar o trabalho, para a dicção do elenco, para os vídeos que ilustram os relatos. Tudo funciona com excelência.
Todo dia, quando tá umas 17h30, eu molho as plantas do terraço e ligo a luz do abajur da mesa de cabeceira no quarto, mesmo que não esteja no ambiente. Mania.
A iluminação, assinada por Eugênio Gouveia é certeira, assim como o figurino criado por Tatiana Rodrigues. Também vale comentar a bela trilha sonora de Rodrigo Marçal. Que equipe afinada!
Quando eu trabalhava numa grande empresa de comunicação, antes de ir embora para casa, independente da hora, organizava a estação de trabalho. As pessoas diziam que eu “entrava de férias todos os dias”, pois a mesa ficava arrumada ao sair. Eu pensava na pessoa da limpeza que ia passar por lá e ficaria incomodado em tirar algo do lugar bagunçado. Mania.
Tenho mania de escrever minha opinião sobre peças de teatro que assisto e gosto.
Hoje contei algumas das minhas manias. Não foi por acaso. Ao final da peça, no telão, pessoas comuns e diversas contam causos e manias de suas vidas comuns. E, uma delas, conta que é HIV positivo, fazendo parte dos relatos naturais do mundo. Ainda não é, mas deveria ser. Deveríamos debater e combater o preconceito, falar sobre o vírus, a vida normal, contágios... Durante a pandemia da Covid19 aprendemos a conviver com infectados, a cuidar deles. Nos vacinamos e agora dominamos a coronga. Assim é que devemos tratar o HIV, como algo que se pode conviver de uma maneira tão normal quanto as manias e causos que todo mundo tem.
Vida longa ao espetáculo “Cuidado quando for falar de mim”. Que seu legado de informação e esclarecimento seja eterno. Aplausos de pé.
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