domingo, 24 de julho de 2022

JUDY, O ARCO-ÍRIS É AQUI



A falta de referência, de memória, de conhecimento é o que mais precisa ser combatido para que o futuro não repita o passado e, melhor, que se aprenda com as coisas boas já vividas para melhorar o futuro. Em recente pesquisa inglesa, 1/3 dos entrevistados, da geração Z (jovens entre 10 e 16 anos), não conhece o trabalho dos Beatles ou Elvis. E, pior, para os próximos 10 anos a tendência é a redução do número de fãs... Alerta vermelho, alerta vermelho!

Por aqui, cada vez mais terceiro mundo, onde a cultura vem sendo demonizada, cachês faraônicos de sertanejos, ausência de público nas salas de teatro e cinema, mergulhar de cabeça em um espetáculo sobre uma estrela de cinema americano do século passado, é um ato corajoso e, mais que isto, (é clichê, mas é verdade) um ato de amor e resistência à história mundial da cultura e à falta de memória coletiva.

Flávio Marinho nos presenteia com um texto brilhante – Flávio Marinho e Brilhante são sinônimos! – sobre Judy Garland, atriz do mais famoso filme O Mágico de Oz, mãe de Liza Minelli (aquela que entrou de cadeiras de rodas ao lado de Lady Gaga na entrega mais recente do Oscar... que esteve com Bibi Ferreira em Nova York...), lembrou? Não? Não conhecia? Como você não conhece Judy Garland? Nunca ouviu falar de Bibi Ferreira? - (Pausa: corre pro teatro Riachuelo pois a história de Bibi Ferreira está em cartaz) - Nem sabia que Liza Minelli era filha de Judy Garland? Lady Gaga pelo menos você conhece? ... É pra reativar a sua memória, ou te fazer conhecer essas pessoas, que Flávio Marinho escreveu este musical. Não só trazer uma referência para todos os artistas, contar uma história exemplar sobre altos e baixos na carreira incerta de quem vive do trabalho e do amor à arte, mas para servir de exemplo para todas as gerações a respeito das constantes quedas e levantes que a vida nos dá.

No palco, o cenário de Ronald Teixeira é o necessário para se contar a história com o mínimo necessário: um baú, um “três tabelas”, um banco e um cavalete “flip-chart”. Ainda no fundo, um painel com lampadinhas. É dele também o excelente figurino, com 2 trocas de roupa que só enriquecem o trabalho. A luz de Paulo Cesar Medeiros é sempre certeira.

Liliane Secco é a diretora musical, arranjadora e tecladista em cena. Ao seu lado, André Amaral. Linda a cena em que ambos tocam juntos, à quatro mãos, no mesmo piano. Destaque também para a leveza dos movimentos mesclados com típicos movimentos de mãos da homenageada, sob o cuidado de Tania Nardini.

Luciana Braga está divina. Não existe outra expressão. Captadora de olhares e sorrisos, ela se expõe, se atira como alguém que “anda” de asa delta e voa alto. Nunca desce. Em suas mãos, e voz, e corpo, o espetáculo só cresce ao longo da encenação. Afinadíssima, segura, preparada, entregue, confiante. Nos seus olhos, nas mãos, no andar, temos ali a atriz em sua majestosa forma e esbanjando talento.

O grande maestro deste trabalho é Flávio Marinho, o nosso maior – e talvez mais completo – amante e apreciador de espetáculos de teatro de qualidade. Além de idealizar e escrever, Flávio dirige a peça. Sabe onde colocar a atriz e desenhar o espetáculo. Aproxima palco do público, desde o momento em que a plateia é recebida com Luciana já no palco, até o último e tão esperado grand finale com Luciana Braga sentada na beirada do palco, Além do Arco-Íris. Um espetáculo refinado cuja ficha técnica é a nata da classe artística.

“Judy, O Arco-Íris é Aqui” já pode ser considerado o marco da retomada teatral carioca. Com nenhum patrocínio, contando apenas com recursos próprios, amor e apoios culturais, fica provado que o teatro está vivo. É obrigatório assistir. Pela mensagem, pelo conteúdo, pela história de Judy, pela necessidade de se reinventar e se reconstruir, de Judy e Luciana. Pelo amor de Flávio Marinho pelas artes cênicas. Pelo talento de toda a equipe. Aplausos de pé! Vida longa a “Judy, O Arco-Íris é Aqui”.

Um comentário:

André disse...

Gratidão ❤️ ❤️ ❤️