Tive o prazer de produzir nestes últimos 2 anos projetos de
shows musicais. O primeiro, em parceria com a Doris Motta, foi uma homenagem ao
maestro Helvius Vilela, chamado “Com você perto de mim”, onde a Bossa Nova
esteve presente e o Rio de Janeiro era a estrela maior. O segundo projeto, em
parceria com minha sócia na Somar Ideias, Sônia de Paula, chamou-se “As Belas
Tardes”, onde a Jovem Guarda marcou presença, em shows gratuitos em São Paulo.
A música sempre esteve na minha vida desde que nasci. Os Caymmi
eram (a ainda são) escutados o tempo
todo nas reuniões familiares. Agradeço a Deus a oportunidade de conhecê-los pessoalmente. Lembro também do dia
em que mamãe recebeu um LP duplo de Milton Nascimento, seu compositor favorito.
Assim que desembarquei no Rio, de uma breve passagem a trabalho por Salvador
(onde pude comemorar os 70 anos de Caetano) levei-a para assistirmos “Milton Nascimento - Nada será como antes”, no Theatro Net Rio.
Nos moldes do excelente musical “Beatles, Num Céu de
Diamantes” (que assisti 5 vezes), esta nova montagem da dupla Charles Möller e
Cláudio Botelho homenageia um dos maiores compositores brasileiros. Mineiro de
coração, Milton tem neste musical um apanhado dos seus 50 anos de carreira e está
tudo lá. Da suas músicas referenciais das fazendas, do tempo, da vida
brasileira dos anos 70 e 80. Uma bela e sensível escolha do repertório, digna dos melhores musicais
já exibidos nos palcos cariocas.
Falar sobre Brasil, nossa música, nossa dramaturgia, nossas
lendas, parece não agradar muito aos espectadores, que ainda optam por musicais
importados, o que leva os patrocinadores e produtoras e preferirem o óbvio, tendo por base sucessos mundiais. Mas nossa música é tão rica, tão eclética e
tão peculiar, sem falar no alto nível de composições, que ter o espetáculo “Nada
será como antes” em cartaz, é um privilégio. Olhar para o Brasil, para
Minas Gerais e para Milton Nascimento é um acerto, um presente, uma homenagem a
todos nós. Os ouvidos agradecem!
Na parte técnica, a cenografia (Rogério Falcão) nos remete
às casas de fazenda, com pinturas nas paredes lembrando de tudo um pouco: café,
abelha, terra... Nos lindos figurinos de Charles Möller a delicadeza das
escolhas dos tons e das texturas é um prazer aos olhos. Destaque para a imagem
de Maria (Nossa Senhora), no colo de Marya Bravo, que canta “Maria, Maria” com
uma dignidade, um carinho e uma emoção que leva a plateia às lágrimas. A
excelente luz de Paulo Cesar Medeiros abraça todo o espetáculo.
Ainda para lembrar “Beatles, num céu de diamantes”, os
arranjos vocais de Jules Vandystadt e os arranjos musicais de Délia Ficher são
criativos, modernos e belos. Eu cantaria “Amigo” toda em português, mas
cantá-la parte em inglês transforma nossa música em universal. Toda a
movimentação cênica nos lembra o musical anterior, com marcações bem cuidadas e
caprichadas. Temos pequenas cenas realizadas no palco inspiradas nas letras das
canções. O vento, o cheiro, o café, a calma mineira. Tudo está em cena.
A dupla Claudio e Charles acerta cada vez mais no bom gosto,
na competência, na certeza de que sabem para onde estão caminhando - além do Arco
Iris (só para fazer uma brincadeirinha com a outra produção americanizada em
cartaz) - e que tem como mérito maior unir diversos talentos em prol da
valorização da Musica Brasileira de bom gosto, em tempos pobres de tchum e tchá.
No grande e excelente elenco, destaco Marya Bravo, Wladmir
Pinheiro, Cássia Rachel e Cláudio Lins. Com lindas vozes temos também Delia
Fischer, Estrela Blanco, Jonas Hammar, Jules Vandystadt, Lui Coimbra, Pedro
Aune, Pedro Sol, Sergio Dalcin, Tatih Köhler e Whatson Cardozo. Todos excelentes cantores que emprestam suas almas e fôlegos para a obra de Milton Nascimento.
Com o coração pulsando de alegria, assistimos um espetáculo
à altura da Musica Brasileira, em homenagem a este brilhante compositor e cantor,
que pode acompanhar, ainda vivo, este presente pelos seus 50 anos de carreira e
70 de vida. Felizes aqueles que podem receber tal homenagem. O presente
ganhamos nós, publico que gosta da boa música. Não perca. Se não conhece Milton
Nascimento a hora é esta. Se conhece, garanta já o seu lugar na plateia e saia
de alma e corações lavados.
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