As UPPs estão aí, vieram para ficar.
A pacificação das comunidades precisa, ainda, de uma ação social
governamental. Não adianta substituir uma ditadura, por outra. Uma milícia, um
trafico, por uma polícia que impõe toque de recolher nas favelas, ameaça
moradores e atira a esmo. Realmente temos boas notícias das UPPs. Aqui, em
Botafogo, faz um tempo que não se ouve tiroteios na madrugada. Se existe
tráfico, ou se acabou, não sei responder, mas sei que a segurança no morro,
melhorou. Mas, nas ruas... Se lá em cima não tem trabalho, os aviões e olheiros
do tráfico vão viver de que? Assaltar no asfalto, claro. Era questão de tempo
para isso acontecer. Veja a nota que saiu, hoje, no Ancelmo Góis.
Está em cartaz na Casa da Gávea o
espetáculo “Olheiros do Tráfico”, escrito e dirigido por Moisés Bittencourt.
Dois meninos, conforme o nome da peça já diz, são responsáveis por vigiar o que
acontece durante a noite. Moisés é craque nos diálogos e linguajar. Além de
contar a história pelas vozes dos atores, incluiu ingredientes muito comuns
como a festa funk no morro, a “periguete” namorada do traficante que pega um
dos olheiros, o início da parceria entre os dois, a troca de favores, a
traição. O retrato do efeito do pó na vida dos meninos é muito bem
caracterizado e interpretado. Um garoto nascido e criado no morro, o outro no
asfalto, são os dois olheiros. Com nascimentos bem diferentes, se igualam no
momento em que defendem o morro, local onde vivem, e defendem o tráfico, seu “emprego”.
Um tem por opção morar no morro. O outro é a falta de opção que o fez olheiro.
A trilha e a iluminação funcionam
muito bem em toda a peça. O cenário, composto de 2 bancadas de camarim ao fundo
e degraus, servem bem ao espetáculo. Achei ótimo usar a arquibancada como
subida da favela! O figurino também se encaixa na trama.
Moisés, que assina também a
direção, deixa claro que sabe do que está falando e conduz os atores por um
caminho seguro e de uma realidade impactante. Se utiliza da entrega dos atores
para fazer com que tenhamos ao mesmo tempo compaixão e raiva deles. Usa o humor
na hora certa e o drama com responsabilidade. No início e no fim da peça, com os
atores “sendo eles mesmos” é que precisa de uma atenção para a peça ficar
redondinha. Mas, sem dúvida, o retrato da favela, dos olheiros do tráfico, está
perfeita quando a ação se passa no morro.
O que resulta no ótimo caminho com
que a história é apresentada, é a interpretação dos atores Sandro Barçal e Bruno
Suzano. Ambos conseguem mostrar-se como atores, no início e final da peça, e olheiros
do tráfico em 90% do espetáculo, fazendo bem a diferença entre Atores/Olheiros.
Sabem do universo no morro, trejeitos, usam as palavras a favor de suas personagens
para contar a história. Anotem os nomes: duas boas revelações!
Uma peça ousada, onde se mostra
um pequeno, mas real, universo na vida dos garotos do tráfico. Mostra a
diferença entre quem não tem oportunidades no asfalto, sendo rico ou pobre, e
quem opta por seguir o poder dos traficantes. O fim de todos é o mesmo: uma
vida muito curta. Vida longa ao espetáculo!
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