Aproveitando São Paulo, um amigo indicou “Rita Lee mora ao
lado”. Eu já sabia do musical, mas havia esquecido. Ótima dica. Em um domingo
frio e ensolarado paulistano, coloquei um amigo debaixo do braço – “você tem
que ir comigo” – e levamos 2h para chegar ao local, em função de um evento no
mesmo shopping, que reuniu “parcas” 50mil pessoas em torno de um confeiteiro.
Isso mesmo, gringo que faz bolos reúne 50mil em uma tarde. São, aproximadamente,
100 salas lotadas de um teatro de 500 lugares! Infelizmente, nem todos os que
lá estiveram para o evento sabem que, no mesmo shopping, está em cartaz uma
linda homenagem a Rita Lee, minha musa roqueira, artista pop e moderna, que
poderia ser tanto atriz, quanto apresentadora, mas que, felizmente, é da
música! Minha compositora favorita!
A história da peça, que tem como base o livro de mesmo nome,
de Henrique Bartsch, foi adaptada por Debora Dubois, Márcio Macena e Paulo
Rogério Lopes, contando a história de uma menina, nascida na mesma época que
Rita Lee, cuja mãe vive em função dos vizinhos, a Família Lee. Esta mãe passa
horas vigiando a casa dos Lee, sabe tudo da vida deles e, por isso, sua filha
tem ódio da Rita e de todo o seu universo. A peça começa com a menina tentando
entrar no camarim do show da Rita para ter uma conversa definitiva com a
cantora. Mas o segurança a impede. Para convencê-lo, a garota conta a vida
inteira da Rita Lee para ele, na esperança de mostrar sua intimidade com a
artista.
Ao longo das prazerosas duas horas e meia de espetáculo,
descobrimos que Rita fez xixi no sapato dos coleguinhas no jardim de infância,
ganhou sua primeira guitarra das mãos do pai, deu o primeiro selinho da
história em Hebe Camargo, Ronnie Von batizou os Mutantes, Elis Regina ajudou a
sua saída da prisão e acompanhamos seu namoro e casamento com Roberto de
Carvalho. Tudo isso pode ser lido no livro, cujo título é o mesmo da peça. “Rita
Lee mora ao lado – uma biografia alucinada da rainha do rock”.
Um grande elenco – formado pela ótima Carol Portes (a tal
menina, vizinha da Rita), Rafael Maia, Yael Pecarovich (que interpreta uma Gal
Costa exemplar!), Samuel de Assis, Fabiano Augusto (ótimo como Ney Matogrosso!),
Débora Reis (a melhor imitação de Hebe de todos os tempos!), Antônio Vanfill,
César Figueiredo, Fábio Ventura, Flávia Strongolli, Nanni Souza, Nellson
Oliveira e Talitha Pereira – está muito bem ensaiado tanto na parte vocal, nas
coreografias, quanto nas interpretações. Um conjunto verdadeiro e com garra,
dando o melhor para a peça ganhar a plateia.
A cenografia de Debora Dubois e Marcio Macena é composta por elementos
simples: praticáveis, janelas que sobem e descem e um pano branco ao fundo,
dando leveza ao todo. O figurino, de Márcio Vinicius, tendo uma roupa básica
branca, é acrescido de coloridos quanto falamos dos anos 70 e as caracterizações
de personagens mais reais, como os policiais, guarda, a vizinha bisbilhoteira,
as roupas dos números musicais e as da Rita Lee. A iluminação de Débora Dubois
e Robson Bessa alcança bem todo o espaço, principalmente nos números musicais.
Aplausos também para os músicos Herbert Cardoso Medeiros, Gregory Paoli, Junior
Gaz, Marcio Guimaraes e Edson Menezes de Santana, que apresentam com
competência as músicas que conhecemos.
Os diretores Debora Dubois e Márcio Macena sabem conduzir o
texto, dosar com números musicais, prepararam bem o elenco e as canções com
precisão. Sabem a hora da comédia e do drama, deixando o público à vontade para
cantar, compartilhar a vida de Rita Lee e se emocionar. A direção musical de
André Aquino é certeira, bem como a direção de movimento de Christina
Belluomini.
Mel Lisboa interpreta, com carinho e competência, nossa Rita
Lee. Do cabelo ao gestual, das frases musicais ao deboche infantil. Tem o
carisma necessário ao personagem vivo e nos encanta com sua presença no palco. É
delicioso assistir a um trabalho de pesquisa comportamental e de vozes de toda
a equipe para caracterizar Rita Lee. Louvável é a dedicação de Mel Lisboa para
dar vida à Rita Lee, sem ser caricata, sem apelar para a imitação a qualquer
preço. Mel Lisboa se entregou para viver Rita Lee.
É impossível não cantar junto “Lança Perfume”, “Saúde”, “Doce
Vampiro”, “Ovelha Negra”, entre outras tantas. Aprendi sobre Rita Lee e fiquei
com muita vontade de poder abraçá-la e dizer: “Obrigado, Rita”. Digo agora. Quem
sabe ela lê? Aplausos de pé para a produção, aos idealizadores, diretores,
músicos, elenco e equipe técnica por esta sensacional homenagem à nossa grande
Rita Lee. E – o melhor – em vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário