domingo, 12 de julho de 2015

NEURÓTICA

Quem não tem uma neurosezinha que seja que atire a primeira pedra. Um cacoete? Um “tiket” nervoso? Ah, se você acha que não tem, então certamente conhece alguém que seja neurótico. Alguém que é píssico (essa palavra existe?), viciado, tarado, com mania de perseguição, com excesso de carência... Sempre tem alguém à nossa volta.


Uma confissão: comecei um curso de terapia clínica. O curso dura dois anos. Um de teoria e outro de prática. Infelizmente só poderei clinicar quando completar o curso de psicologia em uma universidade. Mas, enquanto seu lobo não vem, vou estudando os casos dos amigos, escrevendo históricas, criando personagens. E entendendo o comportamento da humanidade. Quem sebe, mesmo sem clinicar, eu possa ajudar você de alguma maneira a ter uma vida mais feliz? Calma, só daqui há 2 anos!

Enquanto isso, vá rir de si mesmo! Está em cartaz, no teatro Carlos Gomes até semana que vem, dia 19 de julho, a comédia Neurótica. Com texto de Henrique Tavares e Flávia Reis, a peça conta história de mulheres neuróticas, cada um com a sua neurose específica, costurada por uma palestra sobre o tema, onde os esquetes são os exemplos. Divertidíssimo! Todos os textos são em igual qualidade. Nos reconhecemos em cada personagem. O humor inteligente, rápido e atual das histórias ainda fazem rir, mesmo depois da peça estar em cartaz por mais de 2 anos.


Hilário como Flávia Reis consegue falar com tanta rapidez e manter os cacoetes e tiques nervosos durante os momentos em que é a palestrante. Como sua mudança de voz e expressão corporal diferencia um personagem do outro. A versatilidade e inteligência cênica de Flavia Reis é inegável. Seus personagens são sempre bem construídos: a divertida Vanda da Van, a mulher que solicita carinho o tempo todo ao seu homem, a velinha reclamona, a produtora de eventos que fala em 6 telefones ao mesmo tempo, a animadora-terrorista de festa infantil e a incrível e hilaária Regina (não vou dizer quem é pois a surpresa terá que ser vista diretamente no palco).


A direção do Márcio Trigo é bem televisiva e auxilia muito nas passagens entre os esquetes, exibição dos vídeos e na movimentação do palco. Não há descanso para a atriz! Sua capacidade de se adaptar a novos tipos, mesmo se trocando em cena, é imediata. Não há buraco nem barriga no espetáculo. É de tirar o fôlego em alguns momentos.


No palco, o cenário de Mina Quental é um misto de neurônios com ambientação. Gosto muito! O figurino de Flavio Souza também é bem realizado, de bom gosto e alegre para a comédia. A luz de Aurélio de Simoni é sempre boa! Os vídeos da incrível e talentosa dupla Rico e Renato Vilarouca são ótimos. Com detalhe para os recortes nas imagens coincidindo com o cenário. Guilherme Miranda dá sempre show na trilha sonora e Andrea Jabor propõe coreografia simples mas competente.

Flávia Reis é gênia em cena. Atriz inteligente no palco, sabe conduzir seus textos e se posicionar em cena. Sabe o tempo da comédia. Ela se diverte e, com isso, faz a plateia se acabar de rir. Tem um fôlego incrível e uma preparação física invejável. O teatro ganha uma atriz que sabe fazer a comédia inteligente e de bom gosto. E isso merece aplausos. Ao seu lado, Anderson Cunha faz escada para Flávia, mas nem por isso é um trabalho menor. Anderson é um grande ator, sabe ser generoso e está ali apoiando a colega, sendo um amigo, um marido, um contra-regra, emprestando seu bom humor e energia positiva que ele tem de sobra.



Eu já queria ter visto a peça faz um tempão, mas só agora consegui. E fiquei feliz em ver o fôlego do espetáculo, que ainda tem tudo para percorrer grandes teatros da cidade e do Brasil. Uma comédia de esquetes com uma costura inteligente. O humor pede inteligência. Gosto quando a piada não é direta, temos que pensar dois segundos antes de cair na gargalhada. E Neurótica faz isso. Aplausos de pé. Não perca. A temporada é curta, mas eles vão prosseguir em outro teatro! Adorei.

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