Quem não tem uma neurosezinha que seja que atire a primeira
pedra. Um cacoete? Um “tiket” nervoso? Ah, se você acha que não tem, então
certamente conhece alguém que seja neurótico. Alguém que é píssico (essa palavra
existe?), viciado, tarado, com mania de perseguição, com excesso de carência...
Sempre tem alguém à nossa volta.
Uma confissão: comecei um curso de terapia clínica. O curso
dura dois anos. Um de teoria e outro de prática. Infelizmente só poderei
clinicar quando completar o curso de psicologia em uma universidade. Mas,
enquanto seu lobo não vem, vou estudando os casos dos amigos, escrevendo
históricas, criando personagens. E entendendo o comportamento da humanidade.
Quem sebe, mesmo sem clinicar, eu possa ajudar você de alguma maneira a ter uma
vida mais feliz? Calma, só daqui há 2 anos!
Enquanto isso, vá rir de si mesmo! Está em cartaz, no teatro Carlos Gomes até
semana que vem, dia 19 de julho, a comédia Neurótica. Com
texto de Henrique Tavares e Flávia Reis, a peça conta história de mulheres
neuróticas, cada um com a sua neurose específica, costurada por uma palestra
sobre o tema, onde os esquetes são os exemplos. Divertidíssimo! Todos os textos
são em igual qualidade. Nos reconhecemos em cada personagem. O humor inteligente,
rápido e atual das histórias ainda fazem rir, mesmo depois da peça estar em
cartaz por mais de 2 anos.
Hilário como Flávia Reis consegue falar com tanta rapidez e
manter os cacoetes e tiques nervosos durante os momentos em que é a
palestrante. Como sua mudança de voz e expressão corporal diferencia um
personagem do outro. A versatilidade e inteligência cênica de Flavia Reis é
inegável. Seus personagens são sempre bem construídos: a divertida Vanda da Van, a mulher que solicita
carinho o tempo todo ao seu homem, a velinha reclamona, a produtora de eventos
que fala em 6 telefones ao mesmo tempo, a animadora-terrorista de festa
infantil e a incrível e hilaária Regina (não vou dizer quem é pois a surpresa
terá que ser vista diretamente no palco).
A direção do Márcio Trigo é bem televisiva e auxilia muito
nas passagens entre os esquetes, exibição dos vídeos e na movimentação do
palco. Não há descanso para a atriz! Sua capacidade de se adaptar a novos
tipos, mesmo se trocando em cena, é imediata. Não há buraco nem barriga no
espetáculo. É de tirar o fôlego em alguns momentos.
No palco, o cenário de Mina Quental é um misto de neurônios com
ambientação. Gosto muito! O figurino de Flavio Souza também é bem realizado, de
bom gosto e alegre para a comédia. A luz de Aurélio de Simoni é sempre boa! Os
vídeos da incrível e talentosa dupla Rico e Renato Vilarouca são ótimos. Com
detalhe para os recortes nas imagens coincidindo com o cenário. Guilherme
Miranda dá sempre show na trilha sonora e Andrea Jabor propõe coreografia
simples mas competente.
Flávia Reis é gênia em cena. Atriz inteligente no palco,
sabe conduzir seus textos e se posicionar em cena. Sabe o tempo da comédia. Ela
se diverte e, com isso, faz a plateia se acabar de rir. Tem um fôlego incrível
e uma preparação física invejável. O teatro ganha uma atriz que sabe fazer a
comédia inteligente e de bom gosto. E isso merece aplausos. Ao seu lado,
Anderson Cunha faz escada para Flávia, mas nem por isso é um trabalho menor.
Anderson é um grande ator, sabe ser generoso e está ali apoiando a colega,
sendo um amigo, um marido, um contra-regra, emprestando seu bom humor e energia
positiva que ele tem de sobra.
Eu já queria ter visto a peça faz um tempão, mas só agora
consegui. E fiquei feliz em ver o fôlego do espetáculo, que ainda tem tudo para
percorrer grandes teatros da cidade e do Brasil. Uma comédia de esquetes com
uma costura inteligente. O humor pede inteligência. Gosto quando a piada não é
direta, temos que pensar dois segundos antes de cair na gargalhada. E Neurótica
faz isso. Aplausos de pé. Não perca. A temporada é curta, mas eles vão
prosseguir em outro teatro! Adorei.
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