quarta-feira, 16 de setembro de 2015

ANDANÇA - BETH CARVALHO - O MUSICAL









Conhecida madrinha de grandes nomes do samba – Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Almir Guineto, Bezerra da Silva, entre outros – a cantora e compositora Beth Carvalho é uma guerreira do samba.



Ninguém fica parado ao escutar “Vou Festejar”, “Saco de Feijão”, “Camarão que dorme, a onda leva" ou “Coisinha do Pai”. Reconhecemos Beth Carvalho imediatamente. “Folhas Secas” ,  “As Rosas não falam” e “Meu Guri” é emoção certeira. Nosso amigo Google localizou 356 músicas gravadas por ela. Se é verdade ou não, pouco importa, Beth Carvalho é uma enciclopédia do samba carioca.


Em cartaz no Teatro Maison de France,  o texto é o resultado da pesquisa e entrevista com a própria Beth Carvalho, escrito por Rômulo Rodrigues. Seguindo à risca o formato musical-homenagem, aprendemos um pouco sobre Beth pequena, adolescente, subindo o morro cantando, gravando, torcendo pelo Botafogo, levantando bandeira a favor das minorias, amando, brigando e fazendo as pazes com a Mangueira; defendendo sua posição política, amorosa com a família, generosa com amigos e funcionários. Rômulo escreve com carinho e cuida para que as palavras não sejam além do necessário. Um trabalho caprichado.

O cenário de Clívia Cohen é composto de um grande painel ao fundo, servindo de base para os músicos no segundo andar e, embaixo, portas corrediças que se abrem para números musicais. Além disso, das laterais surgem pequenos ambientes, como a casa da família e da fã Isaura. É divertido ver a passagem de tempo nos móveis de Isaura, principalmente nos telefones. O figurino, assinado por Nei Madeira e Dani Vidal, explora o colorido do samba e a malandragem carioca. A iluminação de Djalma Amaral é bonita e colorida.


O numeroso elenco (22 pessoas!) se reveza em vários personagens da vida de Beth Carvalho. Jamilly Mariano é Beth criança. A menina canta afinadinha! Stephanie Serrat, a Beth jovem, tem a voz mais parecida com a cantora. Eduarda Fadini é a Beth atual. As três interpretam e prestam, cada uma a seu modo, homenagens à cantora. Lenita Lopez é a mãe de Beth e Maurício Baduh, o pai (além de outros personagens importantes na história).


Mas é Isaura, personagem de Ana Berttines quem chama para si a responsabilidade de ser todos nós, públicos, plateias e amigos de Beth Carvalho, que torcem por sua carreira, estão ao lado nos momentos de perdas familiares e doença, mesmo não tendo intimidade com a cantora. Ana arranca gargalhadas da plateia sempre que está em cena. Uma comediante pronta! Arrisco a dizer que merecia ser indicada como melhor atriz coadjuvante de 2015 para prêmio no teatro carioca.


A direção de Ernesto Piccolo é sempre boa quando o assunto é elenco numeroso. Não é nada fácil comandar 22 pessoas, mais 9 músicos e uma equipe imensa perguntando ao mesmo tempo, e ele tendo que ter respostas na ponta da língua. Acredito que dirigir um musical seja uma das tarefas mais difíceis do teatro e Piccolo não se intimida e encara o desafio. Destaco alguns momentos marcantes, além da presença de Beth Carvalho: o numero Carcará, com Rebeca Jamir interpretando Maria Bethânia com uma força cênica imensa; a cena de Milton Nascimento, brilhantemente interpretado por André Muato cantando Travessia. Dois números musicais totalmente distintos, porém fortes, e de igual competência. Gosto também de toda a cena do hospital, quando a enfermeira, interpretada por Kesia Estácio, cuida não só da saúde, mas da mente da paciente impaciente Beth. O apoio de Márcio Vieira na assistência de direção e Sueli Gerra, na direção de movimento e coreografias, é fundamental para que estes momentos sejam os mais aplaudidos.


Comandando os músicos e arranjos, ninguém melhor que Rildo Hora. Amigo de Beth Carvalho e responsável por arranjos de shows e discos da cantora, Rildo está lá no alto, regendo a todos nós, músicos e coro da plateia. Indicação de prêmio de melhor arranjo de 2015 já! Também merece nossa reverência a preparação e arranjos vocais de Pedro Lima.

Faço parte dos que acreditam que homenagens devem ser prestadas com as pessoas vivas e, a começar por isto,” Andança – Beth Carvalho, o musical” já merece o aplauso. Os produtores Ana Berttines e Rômulo Rodrigues são guerreiros. Acompanho seus trabalhos desde “Quando as máquinas param”. Além de grandes atores, são produtores exemplares. Aplausos para a homenagem a Beth Carvalho. E, Beth, para você eu digo: por onde você for, eu quero ser seu par! Viva Beth Carvalho!


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