Longe de mim fazer alguma crítica. Louco seria se não
louvasse esta forma de apresentar ao público importantes nomes da música.
Nesta temporada, dois nomes estão sendo homenageados: Billie
Holiday - Amargo Fruto – no Teatro Carlos Gomes – e Ataulfo Alves – no Teatro Dulcina. As
semelhanças entre eles são grandes. A começar pela forma de se contar as
histórias. Em Billie, a assinatura do texto é de Jau Sant’Angelo e Ticiana
Studart, dando ênfase a narrativas diretas para a plateia, tanto através da
própria Billie quanto nos principais personagens da sua vida: maridos,
empresários e pais. Já em Ataulfo, quem assina o texto é Enéas Carlos Pereira e
Edu Salemi, e o texto tem a narrativa em pequenos diálogos e na forma
professoral, contada pelo fã- garçom.
A direção de Billie, assinada por Ticiana Studart, é
elegante, sem muitas firulas no palco, valorizando números musicais e as
pequenas cenas, concentradas num camarim e num balcão de bar. Já em Ataulfo,
também positiva, Antônio Pilar valoriza as cenas na mesa e no bar, com toques
de humor e muita malandragem carioca.
A cenografia: em Billie Holiday, a assinatura é de Aurora
dos Campos, dividindo bem os espaços de camarim, bar, palco de músicos e o
microfone na boca de cena. Com cores bem marcantes, os ambientes são bonitos e
tudo poderá ser adaptado para qualquer palco. Já em Ataulfo Alves, Dóris
Rollemberg criou painéis atemporais, que tanto podem ser azulejos de bar,
quanto cobogós, bastante típicos para a época. No figurino, em Billie, Marcelo
Marques acerta nos ternos dos músicos, nas belas reconstruções das roupas de
Billie Holiday que vamos em vídeos, e para os demais personagens segue à risca
a moda da época em que Billie foi diva. Em Ataulfo, a assinatura é de Hellena
Affonso, deixando claro que Ataulfo Alves era impecável em seu modo de vestir,
e mostrando a descontração carioca de todos os tempos nos demais personagens.
Em Billie, a luz de Paulo Cesar Medeiros é linda, voltada para os números
musicais. E em Ataulfo, Daniela Sanches assina uma luz voltada mais para todo o
palco, com pequenos momentos de foco.
Tanto em Billie Holiday quanto em Ataulfo Alves, as direções
musicais assinadas respectivamente pelos craques Marcelo Alonso Neves e
Alexandre Elias propõem belos arranjos e execuções de bom gosto pelos músicos
em cena.
Em Billie, Vilma Melo atua como mãe e camareira. Milton
Filho interpreta todos os papéis masculinos. Os dois mostram competência na
defesa de seus papéis. Em Ataulfo, o numeroso elenco tem o desafio de dar vida
aos principais personagens da Época de Ouro do Rádio, além do fã-garçom e da
esposa Judith. São eles: Alexandre Vollú, Dani Stenzel, Édio Nunes, Luciana
Balby, Marcelo Capobianço, Marcelo Gonçalves, Marco Bravo, Patrícia Costa e
Shirlene Paixão.
Porém são os protagonistas que merecem todo o nosso aplauso.
Em Billie Holiday, Lilian Valeska mostra todo o seu poder vocal, sua
competência como cantora. Seus números musicais são uma beleza, aplaudidos com
ênfase pelo público. Sem falar na capacidade de seguir à risca a forma de Billi
cantar. Em Ataulfo Alves, Wladimir Pinheiro nos encanta com seu vozeirão,
emocionando o público com a sua garra ao defender este papel. Wladimir tem a
seu favor ser um músico de primeira, o que o permite brincar com sua voz e,
mais que imitar Ataulfo Alves, reinventar as canções do “bom crioulo”, como o Ataulfo
era conhecido.
Duas grandes vozes do teatro brasileiro estão vivendo dois
grandes nomes da música, em dois espetáculos que merecem aplauso por oferecerem
ao público a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre vida e a obra de cada
um dos homenageados (Billie Holiday e Ataulfo Alves) e por empregarem numerosas
equipes neste momento delicado da economia brasileira.
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