quinta-feira, 12 de novembro de 2015

COMO ELIMINAR SEU CHEFE


Tive chefes incríveis. Uns gostei mais do que os outros, pois foram mais marcantes. Todos me ensinaram muito sobre o trabalho e, principalmente, sobre vida. Sou parte criação dos meus pais, parte criação da sociedade e boa parte criação dos meus chefes. Será que lembro os nomes? Roberto, Tarcísio, Elba, Frederico, Hierón, De Bem, Rosana e Gama. Nunca, nunca e nunca quis eliminar qualquer um deles. Se eu fiz alguma cagada, e fui repreendido, eles tinham a razão e foram me ensinando a fazer o certo. Todos sempre foram muito educados, simpáticos, divertidos e compreensivos comigo. Ainda gosto de todos e, sempre que posso, pergunto a quem os conhece, como vão.

Está em cartaz no Teatro Carlos Gomes, a comédia em formato musical, “Como Eliminar Seu Chefe”, adaptação de Flavio Marinho, sempre craque, para o texto de Patrícia Resnick com musicas e letras da cantora Country americana Dolly Parton (que não é a dona do guaraná vendido pela Rede TV - ok, piada infame). Tanto o filme, quando a peça, tem nome, em Inglês,  “9 to 5”, algo como “de nove às cinco”, duração do expediente. Flávio Marinho atualizou para “de nove às seis”, para ficar mais sonoro em português e funcionou.

A peça conta a história da secretária veterana, cansada de ter que suportar os mandos e desmandos do chefe autoritário e incompetente; da secretária novata que tem que se adaptar aos insuportáveis memorandos corporativos, administrativos, que só fazem arrochar os funcionários; e da secretaria bonita, loura e gostosa que leva fama, sem deitar na cama, de ser amante do chefe, e que, por isto, é odiada por todos. Claro que elas se unem para eliminar o tal chefe, colocar ordem no coreto e atingem ao objetivo, que só indo ao teatro poderá ficar claro sobre qual foram os meios que justificaram o fim.

Claudio Figueira é o diretor geral, diretor de produção e coreógrafo, o que ajuda na concepção tanto de marcas, interpretações, controle financeiro e ocupação do palco. E o resultado é bom. Os números musicais são bem armados, as coreografias bem encenadas. Tanto a direção das atrizes quando do espetáculo são bem pensados sempre em busca do que melhor pode ser apresentado ao público. Apenas uma consideração para melhorar a peça: o número de sapateado precisa ser microfonado no piso, pois não escutamos o bater das solas no chão, que é justamente o que causa a emoção do sapateado. Cláudio é um guerreiro, pois tem um elenco numeroso, músicos e toda uma produção ao seu redor. E ainda assim faz um trabalho competente.

A cenografia de Clívia Cohen é um de seus trabalhos mais bonitos em teatro. A sala do chefe, a repartição, os pequenos ambientes, todos abraçados por painéis no melhor estilo Niemeyer, que lembram tanto construções dos Ministérios em Brasília, quanto prédios assinados pelo arquiteto renomado. Os paineis ficam muito bem colocados em cena, tanto como coxias quanto fundo de palco. O capricho do cenário é evidente. Lá vou eu dar outra sugestão: ficou estranho vários contra-regras entrando em cena para movimentar o cenário. Uns com óculos de leitura pendurados no pescoço, outros na cabeça... com roupas diferentes uns dos outros, nem pareciam funcionários da repartição, nem funcionários do espetáculo, o que tira um pouco a magia da peça para o público. Será possível “esconder” os contra-regras com luz, roupa preta ou “dentro do cenário” para girar, entrar e sair? Encarem meu pitaco como sugestão para enriquecer a peça, é este meu desejo. O figurino, também de Clívia Cohen é colorido, bem confeccionado, na leitura anos 80. A luz de Paulo Cesar Medeiros é sempre boa.

O elenco, encabeçado por Tânia Alves, como a secretária chefe, atua e canta com firmeza; Marcos Breda, o hilário chefe mandão, explorando toda sua capacidade de bom ator para comédia; Sabrina Korgut, como a secretária loura, barbie, sempre se sai bem, tanto atuando, quanto cantando, segura e afinadíssima; Simone Centurione, como a novata secretária, um tanto tímida, talvez por conta de seu personagem; Gottsha, fantástica como sempre, impossível ficar quieto diante de sua voz e presença cênica. Seu número musical no banheiro do escritório é um dos melhores da peça. Ainda no elenco, Fabricio Negri é o contador e Cristiana Pompeu, a divertida secretária que bebe antes, durante e depois do trabalho. E mais 12 artistas, cantores e dançarinos compõe o espetáculo.


Todo musical que nos identifica, tanto pelo humor, quanto pela raiva, é de imediata comunicação com a plateia. “Como Eliminar Seu Chefe” certamente será bem recebido por todos que, diferentemente de mim, sempre quiseram, em alguma hora, fazer alguma coisa para prejudicar aquele que tortura os funcionários: o chefe maldito. Tive a sorte de ter ótimos chefes e espero também, sempre, ser um bom e humano chefe. Aplausos para toda a equipe e vida longa para “Como Eliminar Seu Chefe”!

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