Tive chefes incríveis. Uns gostei mais do que os outros, pois foram mais marcantes. Todos me ensinaram muito sobre o trabalho e,
principalmente, sobre vida. Sou parte criação dos meus pais, parte criação da
sociedade e boa parte criação dos meus chefes. Será que lembro os nomes? Roberto,
Tarcísio, Elba, Frederico, Hierón, De Bem, Rosana e Gama. Nunca, nunca e nunca
quis eliminar qualquer um deles. Se eu fiz alguma cagada, e fui repreendido,
eles tinham a razão e foram me ensinando a fazer o certo. Todos sempre foram
muito educados, simpáticos, divertidos e compreensivos comigo. Ainda gosto de
todos e, sempre que posso, pergunto a quem os conhece, como vão.
Está em cartaz no Teatro Carlos Gomes, a comédia em formato
musical, “Como Eliminar Seu Chefe”, adaptação de Flavio Marinho, sempre craque,
para o texto de Patrícia Resnick com musicas e letras da cantora Country
americana Dolly Parton (que não é a dona do guaraná vendido pela Rede TV - ok,
piada infame). Tanto o filme, quando a peça, tem nome, em Inglês, “9 to 5”, algo como “de nove às cinco”,
duração do expediente. Flávio Marinho atualizou para “de nove às seis”, para
ficar mais sonoro em português e funcionou.
A peça conta a história da secretária veterana, cansada de
ter que suportar os mandos e desmandos do chefe autoritário e incompetente; da
secretária novata que tem que se adaptar aos insuportáveis memorandos
corporativos, administrativos, que só fazem arrochar os funcionários; e da
secretaria bonita, loura e gostosa que leva fama, sem deitar na cama, de ser
amante do chefe, e que, por isto, é odiada por todos. Claro que elas se unem
para eliminar o tal chefe, colocar ordem no coreto e atingem ao objetivo, que
só indo ao teatro poderá ficar claro sobre qual foram os meios que justificaram
o fim.
Claudio Figueira é o diretor geral, diretor de produção e
coreógrafo, o que ajuda na concepção tanto de marcas, interpretações, controle
financeiro e ocupação do palco. E o resultado é bom. Os números musicais são
bem armados, as coreografias bem encenadas. Tanto a direção das atrizes quando
do espetáculo são bem pensados sempre em busca do que melhor pode ser
apresentado ao público. Apenas uma consideração para melhorar a peça: o número
de sapateado precisa ser microfonado no piso, pois não escutamos o bater das
solas no chão, que é justamente o que causa a emoção do sapateado. Cláudio é um
guerreiro, pois tem um elenco numeroso, músicos e toda uma produção ao seu
redor. E ainda assim faz um trabalho competente.
A cenografia de Clívia Cohen é um de seus trabalhos mais
bonitos em teatro. A sala do chefe, a repartição, os pequenos ambientes, todos
abraçados por painéis no melhor estilo Niemeyer, que lembram tanto construções
dos Ministérios em Brasília, quanto prédios assinados pelo arquiteto renomado.
Os paineis ficam muito bem colocados em cena, tanto como coxias quanto fundo de
palco. O capricho do cenário é evidente. Lá vou eu dar outra sugestão: ficou
estranho vários contra-regras entrando em cena para movimentar o cenário. Uns
com óculos de leitura pendurados no pescoço, outros na cabeça... com roupas
diferentes uns dos outros, nem pareciam funcionários da repartição, nem
funcionários do espetáculo, o que tira um pouco a magia da peça para o público.
Será possível “esconder” os contra-regras com luz, roupa preta ou “dentro do
cenário” para girar, entrar e sair? Encarem meu pitaco como sugestão para enriquecer a
peça, é este meu desejo. O figurino, também de Clívia Cohen é colorido, bem
confeccionado, na leitura anos 80. A luz de Paulo Cesar Medeiros é sempre boa.
O elenco, encabeçado por Tânia Alves, como a secretária
chefe, atua e canta com firmeza; Marcos Breda, o hilário chefe mandão,
explorando toda sua capacidade de bom ator para comédia; Sabrina Korgut, como a
secretária loura, barbie, sempre se sai bem, tanto atuando, quanto cantando,
segura e afinadíssima; Simone Centurione, como a novata secretária, um tanto
tímida, talvez por conta de seu personagem; Gottsha, fantástica como sempre, impossível
ficar quieto diante de sua voz e presença cênica. Seu número musical no
banheiro do escritório é um dos melhores da peça. Ainda no elenco, Fabricio
Negri é o contador e Cristiana Pompeu, a divertida secretária que bebe antes,
durante e depois do trabalho. E mais 12 artistas, cantores e dançarinos compõe
o espetáculo.
Todo musical que nos identifica, tanto pelo humor, quanto
pela raiva, é de imediata comunicação com a plateia. “Como Eliminar Seu Chefe”
certamente será bem recebido por todos que, diferentemente de mim, sempre
quiseram, em alguma hora, fazer alguma coisa para prejudicar aquele que tortura
os funcionários: o chefe maldito. Tive a sorte de ter ótimos chefes e espero
também, sempre, ser um bom e humano chefe. Aplausos para toda a equipe e vida
longa para “Como Eliminar Seu Chefe”!
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