Desde pequeno percebo a cobrança da sociedade e de
familiares para que seus produtos-humanos (filhos, primos, sobrinhos) sejam um
sucesso. Ninguém perguntou a eles se era isto que queriam, ou se para eles
bastava ser um comum. E, melhor, onde é que está escrito que “ser comum” não é
ser sucesso? Hoje em dia sustentar uma casa e viver confortavelmente ainda não
é sinônimo de sucesso. É preciso ser um destaque no meio (profissional ou
social). Pois temos que mudar esta história. Ser feliz com o pouco é sinônimo
de sucesso, sim senhor, e precisamos aprender a valorizar isto.
Está em cartaz até o fim de março a comédia “Sucesso”, texto
e direção de Leandro Muniz. A peça conta
a história de um simples mortal que busca, a qualquer custo, o tão esperado sucesso.
Coitado. Se ferra de verde e amarelo várias vezes até chegar lá. Não só
profissionalmente como amorosamente. Tudo em busca do que os outros esperam que
ele seja: alguém de sucesso. Mas quando chega... E agora?
A direção do Leandro para este espetáculo nos faz presenciar
a gravação de uma temporada de um seriado, ou um filme, misturado com novela de
rádio. Temos ali os contra-regras mudando tudo a cada nova cena – cenário de
Paulo Denizot (que também assina a luz) e Janaina Wendling – e o elenco
trocando figurino (Bruno Perlato e Tuca) e objetos de cena a cada instante.
Tudo isto amparado por uma sonoplastia ao vivo somada a trilha gravada –
direção musical de Fabiano Krieger. Para quem não sabe como é, e para os que já
estão curtidos na pele, viver a experiência intensa de um estúdio de gravação é
o que se pode presenciar neste espetáculo. Leandro não economiza criatividade e
tudo, por mais simples que seja – como deixar uma boneca na caixa original – é
aproveitado para fazer pensar e sorrir.
A gargalhada da peça vem com o as atuações ótimas do trio
principal: Anderson Cunha, Pedroca Monteiro e Juliana Guimarães. Impossível
dizer quem está mais a vontade e envolvido no espetáculo. Todos os três dominam
com totalidade seus personagens e os comportamentos. Anderson, sempre ótimo, dá
vida ao personagem principal. Pedroca é “o cara de sucesso que todos gostariam de ser”.
Juliana, com a capacidade de mudar completamente de um personagem para o outro, enriquece o espetáculo.
Ainda no elenco, Diego de Abreu, Fabiano Lacombe, Julian Gorman e Rafael Pissurno, não menos
importantes, são os responsáveis por sustentar toda a condução do espetáculo,
se desdobrando, ora em coro, ora em contra-regras, ora em personagens. Todos
muito bem.
Assistir a este Sucesso é ter a certeza de que a busca
constante em “ser alguém” nos afasta do "ser
de alguém”. Nem que seja de nós mesmos. O equilíbrio entre o sucesso que
esperam de nós e o sucesso que conseguimos alcançar depende do nosso grito de
basta. Nós, e apenas nós, é que temos a chave para o nosso sucesso, seja ele
abrir a tampa de um vidro de palmito, se manter empregado ou se manter na
mídia. Eu prefiro o sucesso espontâneo, vindo do reconhecimento do trabalho com
esforço, sem a necessidade de se vender.
Conheço Leandro faz tempo. Assisti a todos os seus
espetáculos encenados. Um deles, Relações, recentemente foi apresentado num
teatro em Nova York, off Broadway. Quantos gostariam de ver seu texto encenado
lá? Leandro além de tudo dirigiu a montagem americana. Isto sim é sucesso. Sucesso é seu melhor
texto. Amadurecido. Cruel e real.
Aplausos para este espetáculo, criticando a importância do
sucesso, sem, em nenhum momento, desdenhar dele. Que venha mais um Sucesso na
carreira de todos os envolvidos neste espetáculo! Vida longa ao Sucesso!
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