Minha primeira grande perda de um amigo foi a da Nana Pirez,
que conheci na época da Tv Globo e cujo laço se solidificou após nossa saída da
empresa. Nana é tão importante na minha vida que fui diplomado, pelos filhos
legítimos, como filho e irmão. Uma honra.
Está em cartaz no Teatro Gláucio Gil, em Copacabana, ao lado
do metrô, a peça Esse Vazio, texto de Juan Pablo Gomes, que conta o encontro de
três amigos no velório de um amigo em comum aos três. O vazio que se sente, que
fica, neste momento de perda, é imenso. Já senti. A peça me lembra outro
espetáculo de mesmo tema: Nomades, onde três amigas fazem um balanço de suas
vidas após a perda da amiga. Diferente desta, Esse Vazio trilha caminhos que
pensamos será seguido pela dramaturgia, ora um documento, ora uma moça, ora uma
relação além da amizade, mas nenhuma das histórias são o fio condutor de uma
trama.
A tradução feita por
Daniel Dias da Silva é segura e transmite bem o incômodo e a felicidade do
encontro dos amigos, num vestiário do clube onde o amigo é velado.
Cumplicidades do passado, choro compulsivo, desconfianças do presente, mágoas,
saudade, tudo está ali, em volta do vazio da perda do amigo.
Sergio Módena dirige o espetáculo com a competência de sempre,
marcas firmes, pausas necessárias, buscando caminhos que o texto não mostra,
deixando o publico atento para os próximos movimentos dos personagens. Cláudio
Bittencourt criou um cenário bem realista com piso, armários pixados, banco e
mesa que, em poucos metros quadrados, confina, sem paredes, os personagens, em
fuga dos sentimentos. A luz de Tomás Ribas contribui para o confinamento,
iluminando apenas a área cenografada, sempre com bom resultado. O figurino de
Victor Guedes consegue nos mostrar quem é aquele que se deu bem na vida e quem
não sai da zona de conforto.
O grande mérito da peça é a ótima atuação do trio Daniel
Dias da Silva, Gustavo Falcão e Sávio Moll. Atores que acompanho há tempos e
sei da verdade que empregam em seus trabalhos. Impossível destacar um ou outro
neste velório, mas cada um brilha ao seu tempo, com personagens bem marcados e
diferentes entre si. Daniel, Gustavo e Sávio são, sem dúvida, um trio em
destaque na arte de representar do teatro carioca. O alto nível de comprometimento
cênico dos três leva a plateia ao aplauso de pé no fim.
Esses Vazio nos faz pensar sobre as relações de amizade que
cultivamos, naqueles amigos que ficam pelo caminho por não se evoluírem ao
longo do tempo. Nos mostra que a amizade construída com verdade é impossível de
ser desfeita. Esse Vazio preenche um espaço na nossa temporada teatral onde a
amizade é e deverá ser sempre nosso bem mais precioso. Vida longa ao espetáculo!
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