Quando montamos “As Cantrizes” no Rio, um novo nome era
fundamental: Laila Garin. Confesso meu encantamento por sua arte de representar, por sua força
cênica, sua voz e afinação. E lá estava ela, encerrando com chave de ouro nosso
projeto, em janeiro deste ano, deixando todos boquiabertos.
Agora ganhamos um novo presente... A Gota D`água [A Seco],
em cartaz no Teatro Net Rio, nos mostra uma versão recital do clássico musical
de Chico Buarque, mestre absoluto no quesito MPB, em parceria com Paulo Pontes.
Tive o prazer de assistir a duas versões deste musical, encenado pela primeira
vez por Bibi Ferreira. Procure no Google pra saber tudo, pois aqui só me cabe
falar desta versão “a seco”, enxuta, onde temos o que de melhor o musical nos
oferece, como os diálogos entre Jasão e Joana, os xingamentos, as declarações
de amor, a dor do ser mal-amado, a rejeição. Dói pacas! E Joana leva às últimas
consequências a vingança contra seu ex-amado. É o texto de musical de teatro
que eu mais gosto, pois, escrito em versos, nos deixa vidrados nos
acontecimentos, sem falar do viés político de toda a história.
A adaptação e direção de Rafael Gomes nesta versão é
inovadora, moderna e atual. Ele escolheu as melhores partes de Joana, os textos
mais representativos do espetáculo, e que nos faz entender perfeitamente toda a
trama. Comigo estava um amigo que nunca tinha assistido ao musical e, ao final,
questionado sobre o que entendera, foi perfeito nos comentários.
Gosto muito da forma como o cenário (André Cortez) é
explorado, arrastado pelo palco, servido de escada, varanda, janela,
basculante, porta, tudo em ferro, preenchendo o espaço. Aplausos também para o
uso das varas de cenário e luz, do teatro, como parte integrante da
cenografia!! Isto tudo muito bem iluminado por Wagner Antônio. Também belo é o
figurino de Kika Lopes, sempre fantástica, onde a saia de Joana vira roupa de
lavadeira!! Que beleza!
Destaque ainda para a direção musical de Pedro Luiz e os
ótimos músicos. As versões de músicas que não fazem parte do original da peça,
mas que cabem perfeitamente no contexto, todas de Chico Buarque, são lindas.
No palco, Alejandro Claveaux, que pôde ser visto na peça
Clandestinos, de João Falcão, sucesso de público e crítica em 2008, interpreta
um Jasão forte dentro de sua jovialidade e deslumbrado por um futuro promissor
na música. Alejandro, além de cantar bem e atuar com competência, se mostra
parceiro ideal para este espetáculo pela generosidade de olhares e expressão
corporal que exibe nesta Gota D`Água.
Laila Garin é uma artista completa que vem crescendo a cada
trabalho que apresenta. Sua força, garra cênica, dedicação, voz, afinação,
entonações corretas para as frases é de tirar o fôlego. Assisti-la é sempre um
presente e uma aula. De Gonzagão, A Lenda”, passando polo musical biográfico da
maior cantora de todos os tempos, em Gota D`Água [A Seco], Laila consegue ser
diferente e brilhante ao mesmo tempo. A cena em quer promove um feitiço no
palco é mais que linda. Arrepiante.
Ahhh Laila... que prazer te ver como Joana!! Como é bom
poder aplaudir este espetáculo de alto nível e qualidade! Vá já para o teatro e
não perca este recital!
“Deixa em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção — faça não
Pode ser a gota d’água”
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