Diz o samba que “lá em Mangueira que é bom”. A primeira
quadra de escola de samba que pisei foi no Palácio do Samba, da Estação
Primeira de Mangueira – pois era a primeira estação, após a partida do trem da
Central do Brasil. O samba começou,
o teto se abriu, a bateria entrou, as passistas humilharam e as baianas emocionaram.
Depois disso tudo, lá pelas tantas, me entra ao Cordão da Bola Preta, com sua
banda, animando o salão – a quadra – com marchinhas de carnaval. Uma glória. Um
chororô que não cabia mais em mim. E assim nasceu meu o amor à Mangueira. Lá
em Mangueira que é bom!
Após temporada em São Paulo, entra na avenida do Teatro
Carlos Gomes o musical Cartola, simpática homenagem a um dos fundadores,
Cartola, cujo passado de glória está gravado na história pra mostrar pra essa
gente que samba é lá em Mangueira. Com
dramaturgia de Artur Xexéo, a peça é a explanação de um carnavalesco sobre como será o
enredo de uma fictícia estola de samba, em homenagem a Cartola. Ficamos sabendo
como Angenor, Cartola, se enrabichou por Deolina e Dona Zica e como estas mulheres
foram fundamentais na vida do compositor. Sabemos também que Cartola grava seu
primeiro disco aos 65 anos e sua carreira deslancha. Não sabemos de sua
infância, nem de seus herdeiros e nem porque seu pai colocou seu nome de Angenor! O que importa aqui é a relação de Cartola com
o Samba e a escola que fundou. Verde e Rosa.
A cenografia de Paula de Paoli deixa o palco livre como uma
quadra de escola de samba e a bateria/músicos lá em cima, ao fundo, igual à
quadra da Mangueira. O bacana é a entrada e saída dos pequenos cenários que compõem
as casas de Cartola, muito bem confeccionados. O figurino, de Luciano Ferrari, coloridíssimos,
exploram muito o universo Verde e Rosa. A iluminação de Fran Barros tem os
nuances necessários para as marcas do diretor e bom andamento da peça. Rildo
Hora assina os arranjos e direção musical, com a beleza e elegância de sempre.
O elenco é encabeçado por Flávio Bauraqui que faz um Cartola
minucioso, dos gestos ao falar, do novo ao idoso, sempre com qualidade e boa presença
cênica. Virgínia Rosa, como Dona Zica, nos encanta com sua interpretação e
potência vocal. Adriana Lessa como Deolinda e Silvetty Montilla brilham em seus
momentos no palco. Do numeroso e competente elenco, merecem destaque as boas
participações de Ivan de Almeida, Eduardo Silva, Hugo Germano e Paulo Américo.
Comando a “direção de harmonia”, o diretor Roberto Lage
desenha um espetáculo simpático, onde o protagonista tem as melhores cenas e
momentos musicais. Há que aplaudir a iniciativa de Jô Santana em montar e lutar
por este espetáculo necessário no ano em que se comemora o centenário do samba.
A pesquisa de Nilcemar Nogueira é fundamental para que o público saiba um pouco
da vida de Cartola e preste uma justa homenagem ao grande músico e compositor.
E é como diz a letra do samba: no canto ou na dança, no
pecado ou na fé. Vou seguindo o arrasta-pé, deixa o povo aplaudir. Ao som da
sanfona vou descendo a ladeira, vou no trio da Mangueira. Doce Carlota, sua
alma está aqui.
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