terça-feira, 4 de abril de 2017

FALANDO FRANGAMENTE


Que o mundo mudou não há a menor dúvida. Como nos encaixamos nesta terra de MeoDeus é que são elas. Falar francamente sobre um assuntos é tarefa para quem tem confiança em si e não tem medo de ser mal compreendido. Os hateres de plantão estão a postos, com seus dedos ágeis, para detonar quem não tem argumentos para defender seu ponto de vista.

Uma boa saída para este momento é dar uma pernada nos chatos politicamente corretos e fazer piada de si e dos absurdos que estamos vivendo. Assim é Falando Frangamente, genial espetáculo de Aloisio de Abreu, em cartaz às quintas-feiras na Sala Rogério Cardoso, no porão da Casa de Cultura Laura Alvim. Encarar uma platéia, bem de perto e sendo politicamente incorreto, com elegância, é o prato principal do cardápio deste espetáculo, que só um profissional de nível elevado pode fazer.

Tudo começa com um casamento, um acordo entre ator e seu público. Prometemos, solenemente, a nos comportar como a melhor platéia do mundo e nos divertir a vontade, sem amarras, soltar o riso e a casar com quem fará de tudo para atingir seu objetivo: o aplauso.

Temos na parede do fundo dois grandes cardápios, tabuletas escritas a giz, dizendo o que vem pela frente, e uma cadeira de acrílico. A iluminação é a necessária para um espetáculo de comédia e o figurino, o bom e simpático preto elegante.

Com seu imenso carisma, e domínio do palco, Aloisio faz piada do empobrecimento da língua portuguesa nas redes sociais. A falta do “r” nos verbos, dos “s” nos plurais e das errôneas conjugações verbais, somam-se ao excessivo abreviamento de tudo. Em seguida, ainda no tema da falta de cultura que nos assola, nos apresenta uma musica com todos os filósofos e suas máximas. Gargalhadas. No cardápio, apresenta duas traduções livres de músicas em inglês, onde os fonemas superam o real sentido da música na língua protuguesa.

Aloisio, num dos melhores momentos da peça, resgata o humor de Jerry Lewis, na antológica cena que transforma a máquina de escrever em instrumento musical. Ainda na linha do “vou falar francamente sobre tudo”,  expõe um divertido conhecimento sobre o “orifício anal”. Ele zomba da ditadura da dieta numa brilhante paródia da música Resposta ao Tempo.

A gargalhada aumenta quando Aloisio interpreta três cantoras, recém saídas de uma plástica, se apesentando num show. É uma crítica das mais brilhantes à ditadura da beleza e do rejuvenescimento constante. Para terminar e deixar todos com gostinho de quero mais, critica as coreografias nada-a-ver dos videoclipes juntando, num balé, passos que jamais seriam apresentadas naquele contexto.

Além do texto criativo, pesquisado e inteligente, Aloisio nos presenteia com novas sub-versões de músicas brasileiras ao melhor estilo besteirol, tendo ao seu lado um fiel escudeiro DJ, o grande LC Ambiente, responsável por manter as melhores pistas cariocas lotadas sempre que toca os sucessos do mundo Pop.

Teatro é palavra e ator. Em Falando Frangamente a atuação do Aloisio é das mais completas: ele canta, dança, representa, usa o palco com domínio, tem carisma e simpatia.

Falando Frangamente é recheada de boas referências, zomba do dia a dia com atuação convincente, inteligente e sagaz. Um oásis neste momento tão dramático e depressivo em que vivemos em nosso Rio de Janeiro.

Assista, tire uma noite de quinta-feira, vá ao teatro, prestigie este espetáculo cheio de bons adjetivos. Aqui, neste espaço, só me cabe convencer você a ir ao teatro. Pois, confie em mim! Vá assistir ao Aloisio de Abreu no excelente e necessário Falando Frangamente e saia de lá com suas bochechas doloridas de tanto rir.

Video da cena de Jerry Lewis - https://www.youtube.com/watch?v=VxAmJumKcUk

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