A primeira vez que assisti esta turma junta foi em Gonzagão,
a Lenda. Na metade da peça eu já sabia que o grupo ia ter vida longa. O
conjunto era algo que vibrava, um mix de atores, cantores, palhaços e músicos.
Daquele espetáculo nasceu A Barca dos Corações Partidos. Na sequência veio a
Ópera do Malandro. E, ano passado, o musical Auê. Sou suspeito para falar de
Auê, pois foi um espetáculo que me pegou num momento bastante sensivel e virei
fã incondicional do espetáculo.
No ano em que completa 90 anos, Ariano Suassuna recebe uma
belíssima homenagem desta mesma Barca. A peça O Auto do Reino do Sol, em cartaz
no Teatro Riachuelo – alias, uma beleza de teatro. Ainda não tinha ido e fiquei
encantado – é a história de uma trupe de teatro, um casal de namorados em fuga,
uma família que se odeia, jagunços, risos, lágrimas... ou seja: ingredientes
preferidos de Suassuna. O texto de
Braulio Tavares bebe bonito na fonte de Ariano, se utiliza de nomes, cidades e
situações criadas pelo dramaturgo, poeta, romancista e professor, que nos
deixou em 2014. Frases emblemáticas de Ariano “Não sei, só sei que foi assim”
estão nesta homenagem.
A direção de Luiz Carlos Vasconcelos é primorosa! Um
trabalho de excelência, onde toda a competência vocal, circense e
interpretativa dos atores é explorada. Luiz Carlos também bebe na fonte do
sertão nordestino e imprime lindas cenas de fotográficas coreografias, ocupando
todo o palco e usando das melhores ferramentas que dispõe: os integrantes da
Barca dos Corações Partidos. Linda a cena em que os patriarcas das famílias
rivais bradam ódio, juntos, no palco, porém em casas separadas. Belíssimo
também é o grupo de retirantes, logo no inicio da peça, trazendo as mazelas do
dia a dia da região.
A cenografia, de Sérgio Marimba, é composta de uma carroça
de ferro extremamente bem cuidada e carregada de leves adereços – que serve
tanto para o balcão da mocinha quanto para transportar a trupe do circo. O
fundo do palco ganha a lona do circo feita com um pano branco que permite luzes
de São João servirem de estrela. Impecável é o figurino de Kika Lopes e Heloisa
Sockler. Bonitos e bem confeccionados. Renato Machado ilumina tudo com a
qualidade e bom gosto de sempre.
A trilha sonora criada por Chico Cesar, Beto Lemos e Alfredo
De Penho tem a cara da Barca, a competência do grupo, referências nordestinas,
transforma história em música e são sempre bem executadas pelos atores.
Além da indiscutível qualidade do grupo, a Barca dos
Corações Partidos, resultado da união de Alfredo del Penho, Rica Barros, Fabio
Enriquez, Beto Lemos, Eduardo Rios, Adrén Alves, Renato Luciano, recebe os
atores convidados Rebeca Jamir, Chris Mourão e Pedro Aune. Afinados, dedicados,
integrados e inteiros, o grupo mostra que mantém a sua força inicial, firme no
propósito de levar o mix de circo, show e teatro para o palco, onde quer que se
apresentem.
Suassuna - O Auto do Reino do Sol é um trabalho da mais alta
competência teatral. Um musical brasileiro, falando do nordeste, homenageando
Suassuna e mantendo a Barca dos Corações Partidos no universo onde tem total
domínio e a qualidade de todos os anteriores.
Vale muito a pena assistir a este trabalho e aplaudir,
sempre de pé, a Andrea Alves pela idealização, a Sarau pela produção, a toda
equipe envolvida e à Barca dos Corações Partidos pelo conjunto da obra!! Viva!
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