A reinvenção da comédia no teatro já tinha acontecido faz tempo. Não
estávamos em crise e nem havíamos notado. Lá atrás, há dez anos, assisti no
Teatro do Leblon um espetáculo inovador e divertidíssimo, com Álamo Facó,
Cláudio Gabriel e Igor Paiva. O trio arrebentava a boca do balão, fazia todo
mundo rir. O mais interessante, além da versatilidade dos atores no revezamento
dos papéis, era a simplicidade da montagem. Atores, macacão, velcro, luz e trilha
sonora. Há quem diga que teatro é ator e luz. Há controvérsias!
A peça não tinha cenário e nem trocas de figurino. O aclamado velcro,
usado em 9 entre 10 figurinos de espetáculos, tomou lugar de protagonista, auxiliando
o público a acompanhar as histórias, uma vez que os atores colavam no peito os
nomes dos personagens. Um golaço. Estariam os produtores, lá atrás em 2007,
fazendo piada da pobreza que nos esbofeteia a cara em 2017? Seria, lá atrás,
uma previsão do futuro sem patrocínios que enfrentamos hoje?
Marcus Majella, Pablo Sanábio e Sandro Chaim se uniram e resgataram o
espetáculo Desesperados, texto e concepção de Fernando Ceylão, a mesma peça que
eu tive o prazer de assistir em 2007! Um somatório de histórias divertidas, bem
escritas, tendo como principais personagens a incompreendida Bia e o chato de
galocha Marcondes. Ambos tentam, desesperadamente, conseguir a atenção de
pessoas: Bia sofre com a amiga ocupada. Marcondes sofre com o amigo Ricardo.
Nesta nova montagem, temos um cenário composto de mesas e cadeiras de
plástico pintadas de vermelho, criação de Daniel de Jesus, preenchendo o fundo
do palco e servindo de apoio para os atores. O figurino é composto de roupa
preta, calça e camiseta básica, com velcro no peito. É ali que os nomes dos personagens
são colados. A iluminação de Daniela Sanches ajuda a contar a história,
delimita ambientes e mantem o foco na atuação dos atores. Como bem disse meu amigo Rodrigo Monteiro: " Vale destacar a coreografia de Clara da Costa em uma deliciosa brincadeira dessa peça com o filme 'La La Land'."
João Fonseca dirige uma peça que tem atores competentes e texto
brilhante. O que mais ele pode querer? Os ensaios devem ter sido um espetáculo à
parte. É tanta criatividade junta que só um grande e generoso diretor para dar
o laço na peça. João se preocupa em deixar claro o jogo entre os atores e a
plateia, arrumar e conduzir a marcação, limpar as cenas.
Marcus Majella, Pablo Sanábio e Pedroca Monteiro são uma explosão de
talentos. Pablo é gênio. Além de ser um “menino das ideias” (muitos espetáculos
de colegas são sugestões do Pablo), ele se entrega e vive os personagens com
garra. Pedroca é o nosso Ney Latorraca Versão 2.0! Seu bom-mal-humor, seu
deboche, sua voz rouca, faz qualquer um rir. Majella é o pop-star da turma,
responsável por trazer um público que, se não fosse ele, não iria ao teatro.
Inegável seu talento para comédia. Da Porta dos Fundos ao Vai que Cola, Majella
foi crescendo a ponto de levar seu Ferdinando para um voo solo na Tv. O trio é
unido e generoso. Se completam, são parceiros. São atores!!
Em épocas de vacas magras o teatro precisa se reinventar, novamente. Se
apoiar na criatividade e tocar o barco para não sumir do mapa. Com salas de
espetáculo fechando, público diminuindo, preços dos ingressos despencando, a
solução é fazer o povo rir das desgraças.
O teatro é a arte da resistência. Estamos todos desesperados, sem
esperança. Então, vamos rir, juntos, da desgraça que nos abate. Tenho a certeza
de que rir é o melhor remédio. Vá por mim! Vá ao teatro. Assista a Desesperados!
Dê uma banana para a crise, pois o presidente disse que não há crise no Brasil!
Em vez de comprar seu hambúrguer gourmet, compre uma entrada de teatro!
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