A primeira vez que a vi foi no musical “Bibi canta Amália”,
texto de Tiago Torres da Silva, no Teatro João Caetano. Sei que perdi as
grandes apresentações de Piaf e Gota D’Água, mas em Amália ela estava soberba.
Talvez venha dali parte da minha paixão por Portugal. Depois a vi em “Bibi In
Concert III”, onde apresentou um Rap musical escrito por Thereza Tinoco, e aplaudida
de pé no saudoso Canecão. Tive o privilégio de abraçá-la no camarim depois de
“Bibi canta Sinatra”, graças à minha sócia, Sônia de Paula, que fora assistente
de Bibi. Também fui comemorar, na casa de Bibi, o aniversário de sua irmã,
Lígia Ferreira, com quem escrevi uma peça de teatro. Me sinto privilegiado
pelos momentos em que estive ao seu lado. À ela, perguntei: “Bibi, qual foi a
pergunta que nunca te fizeram?” Ela parou, me olhou e disse: “Bela pergunta.
Esta foi inédita!”
Cláudia Negri e Thereza Tinoco são duas guerreiras, generosas
e fiéis. Foi Claudia quem propôs a Thereza produzirem juntas um musical em
homenagem à Bibi Ferreira, amiga das duas. E assim surgiu “Bibi, uma vida em
musical”, em cartaz no Teatro Oi Casagrande, Rio de Janeiro.
O texto de Artur Xexéo e Luanna Guimarães faz um ótimo
recorte na vida da artista, mostra ao público o que de melhor tem em Abigail
Izquierdo Ferreira, nome de batismo, e na mais completa artista brasileira.
Temos um espetáculo onde o circo é o pano de fundo, com o mestre de cerimônias
narrando as principais passagens, temos diálogos realistas e situações criadas
a partir dos relatos familiares. Um texto que flui naturalmente, dando a real
importância que Bibi merece ser apresentada no palco.
O cenário de Natália Lana é lindo. Marcante com a presença
do circo, luzes de ribalta, céu estrelado, caixas de figurino, uma penteadeira
de camarim que vira tela de cinema, tudo ali é bem feito e funciona. O figurino
de Ney Madeira e Dani Vidal são coloridos para o circo, básicos para os números
mais dramáticos e reproduções fiéis das roupas que Bibi usou. A luz de Rogério
Wiltgen é sempre bonita, bem pensada e ilumina com vida o espetáculo. Destaque
também para a coreografia e direção de movimento de Sueli Guerra.
A direção musical de Tony Lucchesi é elegante e típica dos
melhores musicais internacionais. Seus músicos (Alexandre Queiróz, Miguel
Schönmann, Léo Bandeira e David Nascimento) estão afinadíssimos e as versões de
musicas conhecidas e as inéditas, criadas por Thereza Tinoco (lindas, como
sempre!) estão muito bem inseridas neste espetáculo.
Encabeçando o elenco, Amanda Acosta é Bibi. Entrega toda no
gestual, forma de falar, composição, tudo utilizado com carinho e respeito,
Amanda não dispensa nada. Cada fala, cada movimento das mãos, tudo é impecável.
O segundo ato, que traz Bibi mais atual, é brilhante seu trabalho de corpo.
Aplausos em cena aberta várias vezes. Ao seu lado, Chris Penna, interpretando
Procópio Ferreira (pai de Bibi). Imensa e competente é a sua entrega ao
personagem. Um trabalho difícil, cujo resultado é nada menos que brilhante. Leo
Bahia é o mestre de cerimônias do circo, narrador da história, trazendo seu
humor seguro, sua voz afinada e sua competência de sempre. Ao seu lado, Rosana
Penna interpreta a avó de Bibi, um papel à altura de seu talento, mantém o
ritmo e a composição durante todo o espetáculo. Temos ainda como destaque Flavia
Santana (a cigana), Simone Centurione (Aída, a mãe), Luísa Vianna (Neide, a
fiel escudeira), Guilherme Logullo (Paulo Pontes), Analu Pimenta (Vanda, a amiga)
e Julie Duarte (Lígia Ferreira, a irmã). Completando o elenco, João Telles, André
Luiz Odin, Moira Osório, Bel Lima, Carlos Darzé, Leonam Moraes, Fernanda
Gabriela, Caio Giovani e Leandro Melo. Uma turma unida e competente.
Comandando o espetáculo, dirigindo, Tadeu Aguiar. Sem medo
de errar, digo que esta é a sua direção mais delicada e caprichada. Tadeu, com
este espetáculo, faz uma declaração de amor à Bibi Ferreira e, através de seu trabalho,
todos nós temos ali a melhor homenagem que alguém poderia fazer para Bibi.
Tadeu é generoso, inteligente, criativo e os detalhes de marcações e subtextos
estão muito claros no palco. Destaque para a genial cena da família de mulheres
ao redor da cama de Bibi discutindo sobre o texto do musical Piaf. Também
merece aplausos toda a cena da doença de Paulo Pontes terminando na triunfal
canção de A Gota D`água. Emocionante. Tadeu tem neste espetáculo seu melhor
trabalho de diretor. Obrigado e parabéns!
Um espetáculo lindo, de bom gosto, reunindo ótimos profissionais
do teatro carioca em homenagem à nossa mais completa artista: Bibi Ferreira. Que
todos os artistas tenham Bibi como exemplo de dedicação e amor ao teatro, onde
o público é que tem que ser agradado, onde o exercício da profissão se sobrepõe
ao ser humano que o exerce, onde a mulher Abigail se deixa engoir pela artista
Bibi em nome do seu amor ao teatro. “Bibi, uma vida em musical” além de ser um
dos melhores espetáculos biográficos já produzidos, é, sem dúvida, e em todos
os sentidos, incluindo da equipe, uma declaração de amor.
Aplausos de pé para os patrocinadores Bradesco Seguros,
Bradesco, Ministério de Cultura e Secretaria Municipal de Cultura do Rio de
Janeiro que acreditaram neste projeto e nos agraciaram com tamanha beleza.
Aplausos para Cláudia Negri e Thereza Tinoco por mostrarem que a amizade,
admiração e carinho pode ser transformado em espetáculo. Para este verão de
2018, “Bibi, uma vida em musical” é um espetáculo obrigatório. Viva Bibi!!
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