Quando lancei o livro “Elas Estão Descontroladas”, fim de 2016 (Ed. Livros Ilimitados) tive o prazer de
ser entrevistado no programa Grelo Falante, da Radio Roquete Pinto... Grelo...
Pinto... tudo a ver! Se no nome da rádio pode ter o órgão reprodutor masculino,
por que no nome do programa não pode ter a parte feminina do sexo? Pois, após
cinco anos de programa, o Grelo foi convidado a se retirar da rádio em 2017,
justamente quando o retrocesso das instituições, comportamentos e sociedade estão
atingindo o ponto mais alto do desmonte em que vivemos. Adorei a entrevista.
Rimos mais do que deveríamos e nem deu tempo de falarmos tudo!
Tive o prazer de trabalhar no programa Garotas do Programa,
da Tv Globo, na construção dos cenários e acompanhei os hilários textos de Lucília de Assis, Carmen Freznel e Claudia Ventura, atuais guerreiras
resistentes do grupo feminino de humor Grelo Falante. Na televisão a palavra
Grelo não pôde ser grafada e tiveram que assinar como G.Falante... coisas de
Laurinha...
Está em cartaz, por pouquíssimo tempo, a peça “O Grelo em
Obras”, ato de resistência artística, no simpático e confortável teatro do SESC
Tijuca. Um desabafo de tudo que está entalado na garganta, um retrospecto da
história bonita e outras nem tanto, uma comemoração dos 20 anos do grupo de
humor feminino de altíssimo nível e competência. Rir de si mesmo, fazer os
outros rirem das nossas desgraças atuais, do passado onde o politicamente
incorreto era aceito como humor, onde a mulher era segundo plano... era? Passado?
“O Grelo em Obras” discute isto também.
Nivea Faso assina a direção de arte da peça onde as meninas
estão sapateando em papel prateado recortado, como se aqueles canhões de papel
dos grandes shows de música pop tivessem jogado papel picado pelos ares durante
uma festa. Além disso, panos fazem triângulos, dentre eles uma imensa vagina
imaginária serve de anteparo para projeções. O figurino nos indica que ali há
uma festa, uma comemoração. Os cabelos em peruca ou com muito laquê (Lucas
Souza) dão o tom imponente à caracterização.
Renato Machado, sempre criativo e competente, assina a belíssima
iluminação.
Fabiano de Freitas dirige o espetáculo com carinho e
competência. Ele prepara as cenas com antecedência, como o momento das risadas
das moças em cima da história de uma delas. Ou no momento em que um número de
plateia abre para um debate construtivo sobre o que se deve falar neste momento
em que vivemos sem saber como resistir, como gritar, como nos mantermos em
atividade. Fabiano deixa as meninas se exibirem no palco a vontade, mas ao
mesmo tempo marcadinhas para que possam conduzir o espetáculo com leveza e
firmeza ao mesmo tempo.
Mas é o grande talento das sapecas e felizes meninas do bom
humor Lucilia, Carmen e Cláudia que nos faz ter a certeza que ali tem três
grandes mulheres, atrizes competentes, escritoras do melhor humor de qualidade,
que resistem com garra ao momento ruim que vivemos. As três se revezam contando
histórias do grupo e pessoais, mantém o ritmo da comédia, criam vozes,
trocam olhares, são cúmplices. Uma delícia vê-las juntas!
Obrigado Cláudia, Carmen e Lucília por compartilharem conosco a qualidade do humor do Grelo Falante, mostrando que ainda está vivo e presente. Por dividirem
conosco o desabafo, o medo da realidade atual, desejar o fim do ultrapassado humor machista. Obrigado por não terem
receio de desafiar a plateia, pela genialidade, pelo carinho e alegria.
Precisamos muito de amor e humor e vocês três fazem isto com perfeição!
Corra já para o Sesc Tijuca para assistir a O Grelo em Obras
antes que um novo Ato Institucional 5 – o mais duro golpe do regime militar de 1968
– (TOC, TOC, TOC – bati na madeira!) venha proibir nossos artistas de se
apresentarem e nossas vozes sejam caladas por sei lá mais quanto tempo... Viva
o Teatro! Viva o Grelo! Viva!!
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