Era um a festa na cobertura dos gêmeos Guilherme e Leonardo Miranda, mas não lembro como fui parar lá. Só sei que me apresentaram Leandro Muniz e Daniela Fontan. Paixão dupla carpada à primeira vista. Corta para 2007, eu querendo abrir um teatro na Barra da Tijuca (olha a ironia aí, gente! Logo eu, que odeio aquele bairro...) e Leandro, Leo, Gui, Wladmir Pinheiro, Avelar Love e acho que a Dani se juntaram para fazer um show pra animar a festa. Depois tivemos a leitura de Peça por Peça, um super musical do Leandro, na Casa da Gávea. Vieram Relações, também na Casa da Gávea, e Sucesso no Sesc Tijuca. E eu ali, por perto, sempre babando essa turma talentosa e rezando para que fossem descobertos logo!
Sem rasgação de seda, porque este espaço tá mais pra local de
elogios do que de opiniões, é necessário falar sobre coisa boa, uma vez que a
internet está sendo tomada por coisas ruins e isto anda afetando o dia a dia da
humanidade. E é por isso que, desde já, recomendo violentamente (expressão
roubada do diretor Joaquim Vicente) que você assista a “A vida não é um
musical”, nova peça do autor Leandro Muniz.
Coloque numa frigideira em fogo brando o filme A Vila (onde
moradores se isolaram do mundo numa comunidade no interior dos EUA), um musical
da Disney (onde a vida é perfeita e tudo é música), a situação delicada da
política brasileira (com as piores tramoias e maracutaias possíveis) e traga
para a vida atual. Acrescente uma xícara de ironia, duas colheres de sopa de
sarcasmo, um tablete de coragem e uma generosa dose de verdade nua e crua.
Espere entrar em ebulição e sirva ao público ainda quente. Isto é “A vida não é
um musical”, em cartaz no Sesc Copacabana – o Maracanã do teatro carioca.
Na peça, a mocinha resolve sair do vale encantado Disney e
conhecer a fundo o mundo. Caiu no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro. Uma
eleição para governador está em curso e ela se vê atuando junto ao candidato da
oposição enquanto o governador tenta a reeleição. Não vou dar spoiler. Faz-se
obrigatório assistir. Num país onde quem está comendo quem é mais importante do
que roubar cofres públicos, onde se prende um ex-presidente numa velocidade de
Fórmula 1, tudo pode acontecer. O texto do Leandro tem tudo de sarcástico,
irônico, verdadeiro e atual, seguindo à risca a cartilha do “como se deve fazer
um musical de sucesso”. Não se poupa ninguém. É politicamente incorreto quando
tem que ser, e realista no fim das contas. Toca na ferida aberta, espezinha os
adversários, da um tapa na cara da sociedade conservadora. Foge do óbvio, se
arrisca ao retratar candidatos da extrema direita e a igreja, diz o que está
preso na garganta dos oprimidos.
O cenário do Nello Marrese, o figurino da Carol Lobato e a
luz de Paulo Denizot fazem com que o espetáculo, de parcos recursos, tenha uma
qualidade mais que profissional. Nello entende que espaço é fundamental, Carol
sabe escolher o adereço que vai caracterizar a princesa e o bandido, Paulo
ilumina com olhar de desenho animado. Uma beleza ver a harmonia entre esses
três.
Um parágrafo exclusivo para a direção musical de Fabiano
Krieger: é incrível como as canções se encaixam no andamento do texto e na hora
certa. A parceria com o Leandro mostra que em “A vida não é um musical” chegou
ao melhor momento da sintonia fina. Imagino a dupla criando o andamento das
canções e a colocação das letras para que a história seja contada também pela
música. Aplausos de pé. Os músicos de cena são Fabiano Krieger, Gustavo Salgado
(que também assina a direção musical), João di Sabbato, Daniel Silva e Rafael
Alves.
O elenco conta com um time de primeira: Daniela Fontan – sempre
uma princesa seja à paisana ou caracterizada – está tão feliz no palco que seu
sorriso nos contagia de imediato; Marcelo Nogueira – a voz mais potente dos musicais
cariocas – é o príncipe hilário; e Thelmo Fernandes – presença marcante nos
melhores espetáculos de teatro do Rio (Opera do Malandro, Gota D`água,
Simonal...). Ainda no elenco, estão Augusto Volcato, Ester Dias, Flora Menezes,
Ingrid Gaigher, Joana Mendes, Nando Brandão e Udylê Procópio. Um grupo feliz,
animado, entregue, coeso, afinado e competente.
No comando da sopa de talentos, João Fonseca. É público que
sigo seus trabalhos e não é de hoje e que sou fã e admirador de suas direções. Mas em “A vida não é um musical”, João é mais que um diretor, ele se
empresta. É um professor, mestre, generoso e consciente da sua importância para
o crescimento de todos que ali estão. João se cercou da melhor equipe e foi
entregando ao elenco, músicos, equipe, o que de precioso ele tem: sua
criatividade e segurança técnica. A marca João Fonseca de uma cena em câmera
lenta está ali e ironizada por ele mesmo! Leandro também assina a direção e
bebe na fonte joãofonsequiniana do melhor do teatro musical carioca. Logicamente
o apoio da Direção de Movimento de Carol Pires é fundamental para o sucesso do
espetáculo.
Falar mais pra quê? Agora é hora de sair da rede social e
correr para o SESC Copacabana, pois a peça só fica até 6 de maio. Dê-se este
presente. Vá rir, vá ficar com raiva, vá ver como anda a cena teatral carioca
que consegue brilhar mesmo sendo bombardeada. Vá prestigiar seu amigo artista.
Abrace o elenco, músicos, equipe toda no fim. Todos precisamos de afeto. Vamos
combinar uma coisa: apenas vá assistir “A vida não é um musical” e depois me
agradeça a dica. Espetáculo Obrigatório.
Nenhum comentário:
Postar um comentário