Inventar um projeto novo de uma hora para a outra e rezar
para ser selecionado. Quem nunca? Foi num edital de 2010 que entrei propondo escrever
um livro de contos. E fui agraciado com a seleção. Deste patrocínio nasceu meu
segundo livro: “Cuidado com os ovos!”. Agradeço até hoje à FUNARTE pela
confiança. “Os ovos” – como chamo carinhosamente – me rendeu boas risadas,
lançamentos, tardes de autógrafos, viagem e lançamento dele traduzido para o
espanhol. Nunca antes na história deste país se teve tanto investimento em
cultura quanto naquele fim do segundo governo Lula. De lá pra cá... você já
sabe.
E é sobre isso que fala o musical [nome do espetáculo] em cartaz no teatro Eva Herz.
Calma, você não leu errado. O nome da peça, do musical, é [nome do espetáculo]
mesmo. Original da Broadway – texto de Hunter Bell com música e letra de Jeff
Brown. Cá em terras brasilis, versão foi realizada a 10 mãos. Caio Scot, Carol
Berres, Junio Duarte, Luiza Vianna e Tauã Delmiro mergulharam de cabeça, e
acertaram em cheio, na história de uma dupla de artistas do teatro musical que
têm pouco tempo para inscrever uma nova peça num edital. E sabe o que eles
contam? Uma fictícia história de uma dupla que tem pouco tempo para inscrever
uma peça num edital! Não, eu não copiei e colei a frase duas vezes. É o famoso
meta-teatro. Neste caso, Meta do Meta Teatro. Uma história que conta uma história
de uma história de teatro. Entendeu? Fácil!
Os atores Caio Scot, Caro Berres, Junio Duarte e Ingrid Klug,
acompanhados pelo teclado de Gustavo Tibi, perceberam que esta peça é o ideal
para mostrarem seus talentos e competência, tanto vocal quanto interpretativas
e estão ótimos em cena.
A cenografia de Cris de Lamare é elegante e funcional, como
sempre. Não apenas quatro cadeiras estão ali. São cadeiras com bolsões no
verso, persianas no fundo, fita crepe no chão demarcando espaços. O que deu
para fazer com pouco dinheiro – mas é só disso que precisa a peça! – e com qualidade
impecável. O figurino de Tauã Delmiro é divertido e colorido. A luz de Paulo
Cesar Medeiros é sempre marca de qualidade. Gustavo Tibi além de tocar durante
a peça assina competente direção musical.
Tauã Delmiro assina uma direção ágil, inteligente, segura.
Várias cenas bem pensadas. Mas duas, em especial chamam a atenção: quando os
atores em cima das cadeiras são girados pelos colegas, fazendo uma brincadeira
com “palco que gira”, numa peça sem dinheiro. E em outro momento, um avião é construído
com as cadeiras e a parte da cadeira giratória vira hélice. Uma beleza!
Tenho repetido muito palavras elogiosas aqui neste espaço:
competência, garra, talento, beleza, voz potente, atuação correta, entrega,
parceria... mas acredito que nos momentos em que a verba é pouca, os
espectadores são cada vez menos nas poltrona e o incentivo financeiro quase
nenhum, é que surgem os grandes espetáculos, a criatividade aflora, e toda a
equipe se une para este ato de resistência que é o teatro.
[nome do espetáculo] é desses musicais com canções originais
que nos faz acreditar que é possível e necessário sonhar com dias melhores, um
futuro onde público e palco estejam tão unidos quanto aquelas peças que ficam 30, 20, 10 anos em cartaz. Exemplos não nos faltam: A Bofetada (30 anos), Minha mãe é uma
peça (11 anos), Beatles num céu de diamantes (10 anos) são desses projetos realizados com garra
inicial e cujo resultado ainda está por aí embelezando os teatros por onde
passam.
Corram já para o Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura,
centro do Rio, e assistam, e aplaudam [nome do espetáculo]. Saímos do teatro
com esperanças renovadas! Imperdível!
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