terça-feira, 1 de maio de 2018

[nome do espetáculo]


Inventar um projeto novo de uma hora para a outra e rezar para ser selecionado. Quem nunca? Foi num edital de 2010 que entrei propondo escrever um livro de contos. E fui agraciado com a seleção. Deste patrocínio nasceu meu segundo livro: “Cuidado com os ovos!”. Agradeço até hoje à FUNARTE pela confiança. “Os ovos” – como chamo carinhosamente – me rendeu boas risadas, lançamentos, tardes de autógrafos, viagem e lançamento dele traduzido para o espanhol. Nunca antes na história deste país se teve tanto investimento em cultura quanto naquele fim do segundo governo Lula. De lá pra cá... você já sabe.

E é sobre isso que fala o musical [nome do espetáculo] em cartaz no teatro Eva Herz. Calma, você não leu errado. O nome da peça, do musical, é [nome do espetáculo] mesmo. Original da Broadway – texto de Hunter Bell com música e letra de Jeff Brown. Cá em terras brasilis, versão foi realizada a 10 mãos. Caio Scot, Carol Berres, Junio Duarte, Luiza Vianna e Tauã Delmiro mergulharam de cabeça, e acertaram em cheio, na história de uma dupla de artistas do teatro musical que têm pouco tempo para inscrever uma nova peça num edital. E sabe o que eles contam? Uma fictícia história de uma dupla que tem pouco tempo para inscrever uma peça num edital! Não, eu não copiei e colei a frase duas vezes. É o famoso meta-teatro. Neste caso, Meta do Meta Teatro. Uma história que conta uma história de uma história de teatro. Entendeu? Fácil!

Os atores Caio Scot, Caro Berres, Junio Duarte e Ingrid Klug, acompanhados pelo teclado de Gustavo Tibi, perceberam que esta peça é o ideal para mostrarem seus talentos e competência, tanto vocal quanto interpretativas e estão ótimos em cena.

A cenografia de Cris de Lamare é elegante e funcional, como sempre. Não apenas quatro cadeiras estão ali. São cadeiras com bolsões no verso, persianas no fundo, fita crepe no chão demarcando espaços. O que deu para fazer com pouco dinheiro – mas é só disso que precisa a peça! – e com qualidade impecável. O figurino de Tauã Delmiro é divertido e colorido. A luz de Paulo Cesar Medeiros é sempre marca de qualidade. Gustavo Tibi além de tocar durante a peça assina competente direção musical.

Tauã Delmiro assina uma direção ágil, inteligente, segura. Várias cenas bem pensadas. Mas duas, em especial chamam a atenção: quando os atores em cima das cadeiras são girados pelos colegas, fazendo uma brincadeira com “palco que gira”, numa peça sem dinheiro. E em outro momento, um avião é construído com as cadeiras e a parte da cadeira giratória vira hélice. Uma beleza!

Tenho repetido muito palavras elogiosas aqui neste espaço: competência, garra, talento, beleza, voz potente, atuação correta, entrega, parceria... mas acredito que nos momentos em que a verba é pouca, os espectadores são cada vez menos nas poltrona e o incentivo financeiro quase nenhum, é que surgem os grandes espetáculos, a criatividade aflora, e toda a equipe se une para este ato de resistência que é o teatro.

[nome do espetáculo] é desses musicais com canções originais que nos faz acreditar que é possível e necessário sonhar com dias melhores, um futuro onde público e palco estejam tão unidos quanto aquelas peças que ficam 30, 20, 10 anos em cartaz. Exemplos não nos faltam: A Bofetada (30 anos), Minha mãe é uma peça (11 anos), Beatles num céu de diamantes (10 anos) são desses projetos realizados com garra inicial e cujo resultado ainda está por aí embelezando os teatros por onde passam.

Corram já para o Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura, centro do Rio, e assistam, e aplaudam [nome do espetáculo]. Saímos do teatro com esperanças renovadas! Imperdível!

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