domingo, 5 de junho de 2022

QUERO VÊ-LA SORRIR!


Aprendi que não é de bom tom fazer comentários que desabonem um trabalho, que prejudiquem a encenação. É importante valorizar todas as formas de arte e retirar dela o que toca e melhor agrada ao espectador. Costumo só escrever sobre as peças que indico e gosto demais. Indico este espetáculo, mas aponto o que pode melhorar.

Está em cartaz no Teatro Claro Rio o musical em homenagem aos 50 anos de carreira do grande símbolo sexual da geração oitenta, Sidney Magal. Conheço moçoilas que desmaiavam por ele, homens que se inspiravam em sua malemolência, o sexy appeal, o olhar penetrante, as mãos espalmadas, o molejo corporal para captar uma presa fácil feminina.

O musical “Quero Vê-la Sorrir”, texto de Francisco Nery, é baseado no livro de Bruna Ramos da Fonte - “Sidney Magal Muito Mais que um Amante Latino”. A peça nos conta didaticamente, porém com humor e leveza, a vida do grande cantor Sidney Magal. Sabemos do começo ao fim o que irá acontecer, pois o artista ainda está entre nós! Viva! A novidade do espetáculo (para mim, obviamente) era a relação deste com a mãe. A simbiose de afeto, cuidado e o sentimento de “mãe de miss” que nutriam é o que conduz o espetáculo.

Francisco Nery e Sueli Guerra (que também assina as coreografias) optam por uma direção simples, com números musicais intercalando a linha do tempo da história de Magal. Gosto de como resolveram as trocas de roupas. Francisco Nery participa como Chacrinha, num dos bons momentos da peça. A opção por colocar dançarinos nos números musicais, me fez pensar, uma vez que, tirando as Chacretes, não lembro de Magal com um balé atrelado às sua imagem. Se tinha, perdoem a ignorância deste inculto "opinador". Embora Magal seja maior que o sucesso que dá título ao musical, a opção de, na abertura, ter número de dança cigana, soa como um pedido de “abertura de caminhos”, de bênçãos da cigana Sandra Rosa Madalena ao que será mostrado.

No palco, a cenografia de George Bravo é composta de tecidos e rendas vermelhos emoldurando o palco (mais referencia cigana), duas poltronas giratórias com espaldares (coração e clave de sol), e uma decoração de leques para os músicos. Veja bem, temos aqui questões: emoldurar o palco sem iluminar, prejudica o cenário criado. Mesmo raciocínio para os leques. Uma sugestão: atrás do coração tem rosas vermelhas que só são vistas uma vez pela plateia e rapidamente. Já que se optou pela linha cigana, as rosas mereciam mais visibilidade!

O figurino de Rogério Santini é bom para o protagonista e sua mãe. Para o balé que acompanha os números musicais a opção é, também, cigana. O figurino está de acordo com a época e cai bem em todos. A iluminação de Paulo Cesar Medeiros colabora com a opção da direção: valorizar o vermelho, o sangue. Nico Rezende é o diretor musical e sabe como arranjar as canções de Sidney Magal.

O elenco de bailarinos e pequenos papeis é composto de Fabiana Figueiredo, Andrea Del Castel, Mariana Braga, Marcus Anoli e Francis Fachetti.

Márcio Louzada, que dá vida a Sidney Magal, acerta nas coreografias, trejeitos e voz durante a narrativa. Vemos a sua entrega, sua alegria e comprometimento. Nos números musicais, embora seu tom de voz seja parecido com o de Magal, a mesa de som poderia dar a ele uma ajuda e fazer a sua voz ficar mais alta que os instrumentos, dando assim a potência vocal que Magal tem.

Izabella Bichalho é a mãe, Dona Sônia. Responsável pela condução da história, Izabella traz beleza, elegância, humor, inteligência cênica, uma voz impecável nas canções. Seus solos levam a plateia ao delírio! Aos gritos de bravo! É o elemento que aglutina os olhares e solidifica o espetáculo.

Sidney Magal tem em “Quero vê-la sorrir” uma homenagem que valoriza a sua carreira de (poucos) sucessos. Quem nunca cantou “Quero vê-la sorrir, quero vê-la cantar, quero ver o seu corpo dançar sem parar” que atire a primeira pedra. O meu sangue ferve muito por homenagens em vida a quem merece. Tenho certeza que se você, ao assistir o musical, seu corpo vai fazer que nem diz a música: estremece e já não consegue parar. Hey!. E-ô, e-ôw! Vá já se divertir, assistir e cantar com “Quero vê-la sorrir”. Viva Sidney Magal!

Um comentário:

Coluna do João Luiz Azevedo disse...

Muito bom seu comentário, concordo com cada palavra escrita por vc, parabéns!
Grande abraço
JL