terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Indicados ao Prêmio Shell de Teatro 2011


Confira a relação completa dos indicados ao 24º Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro:



Autor:
(2º semestre)
• Eduardo Bakr por “4 Faces do Amor”
• Rodrigo Nogueira por “Obituário Ideal”
(1º semestre)
• Felipe Rocha por “Ninguém Falou Que Seria Fácil”
• Pedro Brício por “Me Salve, Musical”

Direção:
(2º semestre)
• Christiane Jatahy por “Julia”
• Inez Viana por “Amor Confesso”
• José Wilker por “Palácio do Fim”
(1º semestre)
• Daniel Herz por “Adultério”
• Gabriel Villela por “Crônica da Casa Assassinada”

Ator:
(2º semestre)
• Gracindo Junior por “Judy Garland – O fim do arco-íris”
• Rafael Primot por “Inverno da Luz Vermelha”
(1º semestre)
• Charles Fricks por “O Filho Eterno”
• Gilberto Gawronski por “Ato de Comunhão”
• José Mayer por “Um Violinista no Telhado”

Atriz:
(2º semestre)
• Claudia Netto por “Judy Garland – O fim do arco-íris”
• Dani Barros por “Estamira - Beira do Mundo”
• Vera Holtz por “Palácio do Fim”
(1º semestre)
• Debora Olivieri por “Rosa”
• Letícia Isnard por “A estupidez”

Cenário:
(2º semestre)
• Daniela Thomas por “Inverno da Luz Vermelha”
• Marcelo Lipiani por “Julia”
(1º semestre)
• Fernando Mello da Costa por “Um Coração: Fraco”
• Marcelo Lipiani e Lídia Kosovski por “Cozinha e Dependências – Um dia como os outros”
• Márcio Vinícius por “Crônica da Casa Assassinada”

Figurino:
(2º semestre)
• Beth Filipecki e Renaldo Machado por “Palácio do Fim”
• Marcelo Pies por “Judy Garland – O fim do arco-íris”
(1º semestre)
• Flavio Graff por “Outside: um musical noir”
• Gabriel Villela por “Crônica da Casa Assassinada”

Iluminação:
(2º semestre)
• Fernanda Mantovani por “Breve Encontro”
• Maneco Quinderé por “Palácio do Fim”
(1º semestre)
• Aurélio de Simoni por “O Filho Eterno”
• Domingos Quintiliano por “Crônica da Casa Assassinada”

Música:
(2º semestre)
• Liliane Secco por “4 Faces do Amor”
• Warley Goulart por “Não Me Diga Adeus”
(1º semestre)
• André Aquino e João Bittencourt por “R&J de Shakespeare, juventude interrompida”
• Marcelo Castro por “Um Violinista no Telhado”

Categoria especial:
(2º semestre)
• Christiane Jatahy pela adaptação do clássico “Senhorita Julia”, de Strindberg, para o espetáculo “Julia”
• Teatro Tablado pelos 60 anos de atividade
(1º semestre)
• Marcia Rubin pela direção de movimento dos espetáculos “Escola do Escândalo”, “O Filho Eterno”, “A Lua Vem da Ásia” e “Outside: um musical noir”.
• Teatro do Pequeno Gesto pela publicação da revista Folhetim dedicada a Nelson Rodrigues e sua manutenção ao longo de 13 anos.

Homenagem: Barbara Heliodora pelo exercício da crítica teatral ao longo dos últimos 54 anos.

Fonte: http://www.shell.com/home/content/bra/environment_society/brazil_social_investments/theatre_awards/2011/

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

MULHERES SONHARAM CAVALOS

Todos sabemos que a Argentina, logo aqui do lado, ainda não conseguiu recuperar-se da ditadura militar e econômica. E quem somos nós, brasileiros, para falar sobre ditaduras? Temos larga experiência no assunto. Eles também. Nós vivemos uma economia mais segura (será?). Eles vivem correndo atrás da segurança que o brasileiro tem. Temos o mesmo passado de repressão e tortura. Nós, pacíficos natos, e pateticamente pacientes, não gritamos tanto quanto deveríamos quando somos assolados por noticias escabrosas vindas de Brasília. Abaixamos a cabeça, fazemos de conta que não estamos vendo, fazemos gritarias no facebook, mas somos incapazes de levar o grito para as ruas. Incluo o “nas ruas”, as telas de cinema, os palcos, as musicas. Depois de Gianfrancesco Guarnieri, Jandira Martini, Marcos Caruso e Juca de Oliveira, quem escreve peças políticas no Brasil? Quem registra o momento atual? Sou ignorante, quero saber.

Lá na Argentina, não. Anos luz de cultura à nossa frente, possuem um cinema e um teatro extremamente contemporâneo e atual, dignos de serem exportados para o mundo. Nomes como Daniel Veronese e Rafael Spregelburd, traduzem para o palco, não só a brutalidade - “cavalice” - das ditaduras, como na torturante forma de agir que os seres humanos estão “atuando” nas suas vidas. Patadas, frases agressivas, memórias plantadas e suprimidas.


Em cartaz no Poeirinha, novo espaço ao lado do Teatro Poeira, Mulheres Sonharam Cavalos, texto de Daniel Veronese, é um ótimo exemplo do que nos transformaram, do que fomos transformados durante e após uma ditadura. Maridos que batem, casamentos de conveniência, assassinatos sem punição. Um texto difícil. Um texto desafiador. A tradução de Leticia Isnard é competente, estudada, ágil, fluente e segura. Podermos imaginar a ação em qualquer parte do mundo.

Gosto muito de toda a direção de arte de Flávio Graff, que passei a admirar depois que assisti Outside. Na mesma linha, o cenário compõe-se de praticáveis em diversos planos, várias placas simulando “escombros” no teto, e apenas elementos necessários para localizar os personagens em cena: colchão, saco de pancadas, mesa e cadeira. Um biombo ao fundo sintetiza cozinha/despensa/banheiro com sombras. Muito bem exploradas. Figurino e caracterização dos atores também muito bem pensado, bonitos, elegantes e atemporais. Destaque para o imenso rabo de cavalo e para o vestido branco. Importantíssimos também para a compreensão do espetáculo, a luz de Paulo Cesar Medeiros e a sonoplastia do próprio diretor.

O elenco está afiado e entregue à montagem. O texto desafia, mas os atores encaram com firmeza. Analu Prestes, Elisa Pinheiro e Letícia Isnard sabem muito bem onde estão pisando. São as poderosas mulheres, cavaleiras, amazonas, que conduzem seus homens por onde desejam. Isaac Bernat, José Karini e Saulo Rodrigues, ótimos, pensam que mandam nas mulheres, mas para serem ouvidos, precisam relinchar e dar patadas no chão.

Ivan Sugahara é um talento para textos instigantes e investigativos. Direção segura, criativa, usando tudo que o cenário, o figurino, a trilha, a luz e o elenco possam render de melhor. Leva o espectador do silêncio absoluto a múrmuros de desacordo com o que está sendo dito. Assusta a plateia, aproxima o público da história, inclui cada um ali dentro, assistindo ou atuando, no universo da tortura, da ansiedade, da tensão, do conflito. Destaque para a parceria com os preparadores corporal e vocal, que resulta num trabalho competente, seguro e prazeroso.

Quem nunca deu uma patada que atire a primeira ferradura. Eu mesmo tenho uma aqui em casa, como amuleto de sorte e contra as patadas da vida. Uma peça para quem gosta de teatro, pra quem acredita que levantar a voz contra a submissão pode resultar em algo positivo para as futuras gerações. Um texto para servir de inspiração aos jovens autores brasileiros a buscarem na Argentina uma forma de levantarem as suas vozes contra os mandos e desmandos da pós ditadura.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

OBITUÁRIO IDEAL

No final de setembro, nossa vida mudou bastante. Passamos a frequentar UTI, salas de espera de emergência, ambulância. Convivemos com outros pacientes, presenciamos a precariedade da saúde e a falta de leitos em nosso país. Papai, embora não registrasse muito o que estava acontecendo, nos mostrou a dureza que é um paciente com câncer em fase avançada. Ele nos deixou em 19 de setembro. Naquele dia, antes do Fantástico terminar, mamãe ligou dando a notícia. No dia seguinte, trâmites burocráticos, velório e enterro. O nosso, muito triste, mas a causa da morte era natural. Doença. O velório ao lado era um furdunço só. Menina atropelada. No nosso teve oração católica. No do lado, cânticos evangélicos. No nosso, choros contidos. Ao lado, desesperos juvenis, "Ai, me leva junto!". Todos sofrendo a morte de uma pessoa querida. No nosso caso, era a ordem "natural" da vida. No do lado, mãe, pai, avó, tios, choravam e gritavam a morte brutal.

Assisti ao espetáculo Obituário Ideal, que estréia nova temporada na Casa de Cultura Laura Alvim, a partir do dia 11 de novembro. A peça, texto do genial Rodrigo Nogueira, que acompanho desde Play, é a história de um casal que, para tentar salvar o casamento, busca o verdadeiro sentimento, através da excitação em acompanhar velórios e enterros. Ao longo da peça eles procuram em jornais e programas de televisão informações, obituários, que possam indicar um enterro mais peculiar e excitante que o último acompanhado. No fundo, no fundo, está se discutindo, na peça, até que ponto um dos lados do casal deve se submeter a tentativas de manter uma relação, quando o matrimônio já está mais que morto. Discute-se, faz-se pensar, até quando vale insistir numa ilusão, num paleativo, numa migalha, em busca do "até que a morte nos separe". Neste caso, a morte dos outros é o único elo entre os dois. A cada novo enterro, um sopro de vida na vida do casal.

Gosto muito do texto. Ágil, divertido, inteligente, como sempre, Rodrigo brinca com as palavras, com as frases, leva a platéia para um caminho de raciocínio, mas logo percebemos que a conclusão é totalmente inusitada. Destaque para as ligações telefônicas recebidas, para os comentários sobre a diferença entre o enterro do rico e do pobre, e, principalmente, as manchetes dos programas de televisão que ouvimos ao longo da peça.

A direção do próprio autor junto com Thiare Maia, conduz a ação com simplicidade e competência. Sem grandes firulas, como é de se esperar, resolve simples problemas de trocas de roupas com eficiência e criatividade. Os atores falam perfeitamente o que o autor quer dizer, sem deixar duvidas sobre a mensagem do texto.

No palco, temos um simpático cenário de Aurora de Campos, que nos recordando a década de 50, acrescido da bonita e eficiente luz do Renato Machado. Pontos positivos também no figurino de Gabriela Campos e a trilha sonora, também do Rodrigo, que evoca cenas de mortes em novelas e locuções de Maria Beltrão para crimes que serão obituários ideais.

Maria Maya e Rodrigo Nogueira são divertidos, corretos, emotivos, eficientes, parceiros, generosos e afiados em cena. Ele domina o texto que escreveu, e como o marido que tenta salvar o casamento, consegue nos deixar atônitos com suas reações, principalmente quando a mulher diz para ele qual seria o obituário ideal para ela. Já Maria Maya, linda, cabelos a lá Amy Winehouse, competente e talentosa, consegue nos passar a insegurança, a falta do desejo pelo seu marido, o medo de encarar uma provável doença, ou uma possivel gravidez, é irônica no tempo certo. Uma dupla que se afinou no palco e que, espero eu, tenhamos mais encontros em muitos outros espetáculos.

Um tanto mórbido para o meu momento pessoal, confesso que ri bastante com o texto e com as atuações. Uma peça divertida, inteligente, crítica. O humor negro que eu gosto e com atores talentosos. Para quem gosta de teatro e tem o bom gosto das boas comédias.

domingo, 23 de outubro de 2011

PALÁCIO DO FIM

Era janeiro, 1996, aniversário de um amigo. Estávamos na casa dele comemorando, quando as primeiras bombas caíram sobre o Oriente Médio. De lá pra cá foi uma chuva de misseis. Ainda mais agora com internet e televisões on line, assistimos às guerras "in loco". Vimos a queda das Torres Gêmeas, a guerra do Afeganistão, a caçada a Saddam, a Bin Laden e agora aos ditadores do norte da África e países que banham o mar Mediterrâneo. Sem sombra de dúvida, a maior guerra é a econômica. Tudo, na minha vã filosofia, é o dinheiro. Os países "ricos" financiaram as ditaduras com armas, dinheiro e munição. Aí, os países financiados se fecharam para a economia dos países ricos, principalmente no quesito "petróleo". A sábia solução foi "devolver o país ao povo" para que voltem a consumir. Que guerra santa que nada. Isso é tudo pano de fundo, interesse político, e, acima de tudo, interesse econômico.

Assistimos chocados às fotos divulgadas pela internet da prisão de Abu Ghraib, que é um complexo penitenciário situado na cidade de mesmo nome, no Iraque. Para espanto, esta foi construída pelos britânicos quando o Iraque ainda era uma colônia da Grã-Bretanha. Pronto, aí está a prova de que de lá nunca saíram. E ainda voltaram sob a chancela de salvadores da pátria.

Mas o tema aqui não é política internacional e sim Teatro. E dos bons. Desses que discutem, chocam, mostram a realidade, e você sai de lá pensativo, mexido, incomodado. Assim é Palácio do Fim. Escrita pela premiada canadense Judith Thompsom e muito bem traduzida e adaptada por João Gabriel Carneiro, a peça conta a história, em depoimentos, de 3 personagens da guerra no Iraque. Uma, aquela soldado mocinha das fotos que tortura prisioneiros de guerra na prisão de Abu Gharib com armas e animais. Outra é de um cientista iraquiano que afirma que as tais armas nucleares, mote da invasão, nunca existiram. E por fim o depoimento de uma mãe que ouve seu filho ser massacrado. Três vidas que depõem sobre sofrimento, vergonhas, temores, arrependimentos. Seres humanos profundamente maculados e feridos por uma guerra que eles não pediram pra participar.

No palco, o cenário de Marcos Flacksman é composto de patamares e um tecido ao fundo com as bandeiras dos EUA, Inglaterra e Iraque, sobrepostas por imagens projetadas. O figurino excelente de Beth Filipecki e Renaldo Machado dão o certo estilo do árabe e do uniforme. A criativa, limitadora e angustiante luz de Maneco Quinderé dá o tom do espetáculo com sombras, linhas imaginárias, pressão, prisão. Um show!!

A frente do batalhão de infantaria teatral, dirigindo com firmeza, realismo, competência e necessária realidade, José Wilker deixa os atores se envolverem de tal maneira com o texto que ao final do espetáculo estão tão, ou mais, desgastados que os próprios personagens da vida real. Uma direção intensa na palavra, nas nuances vocais, na correta alternância entre as histórias.

Emocionando a platéia, prendendo a atenção sem um segundo para se piscar, Vera Holtz, Camila Morgado e Antônio Petrin estão espetaculares nas suas interpretações. Todos vivem aquelas histórias e passam suas emoções, nojos, medos, indignações, sem criticar os personagens. Seria necessário muito adjetivo para definir a entrega total dos três grandes atores a seus personagens. Atuações para entrarem na história de suas carreiras.

A guerra no oriente médio, e agora no norte da África, está longe de acabar. É preciso vender armas, é preciso recuperar as economias européias e americana falidas. É preciso achar um pra Cristo, coloca-lo na boca do povo, fazer dele o inimigo numero 1, linchá-lo em praça publica, no youtube, ao vivo, on line, em nome da Guerra ao Terror. Saddam, Osama, Kadaffi... quem será o próximo anti-cristo fabricado, endeusado, empossado, execrado e exumado?

Se você também fica indignado com tudo que vê acontecer e não sabe como reagir, corra pra ver Palácio do Fim. A autora, os atores, direção e equipe técnica dão a resposta à altura. Isto tem que ter um fim. Espetáculo obrigatório.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

TIM MAIA - VALE TUDO




Na rua Barão da Torre, em Ipanema, havia um bar com música ao vivo. Uma casa de dois andares. No primeiro, voz e violão. Em cima, banda. Era chegar e subir a fim de cantar, dançar e tomar umas cachaças. Tínhamos acabado de completar 18 - 19 anos. Numa destas idas, com Flavinha e Juliana, uma música nos fez cantar mais alto. "A semana inteira, fiquei esperando, pra te ver sorrindo, pra te ver cantando...". Era Tim Maia. Foi lá naquele segundo andar que ouvi pela primeira vez a música. Já era antiga, menos para nós. Ainda nesta noite, decidimos esticar e, pela primeira vez em nossas vidas, fomos a uma discoteca. Palace. Hoje Hotel Sofitel, na época, Hotel Rio Palace. A melhor boate do Rio, onde até a novela Vale Tudo havia sido gravada. Naquela noite dançamos muito. Lá pelas tantas, fomos presenteados com aquela musica novamente, agora na voz do Tim Maia, original. Foi o que faltava para coroar aquela aventura.

Era sábado, de novo, e eu queria porque queria ver "Tim Maia - Vale Tudo - O Musical". Parti para o Teatro Carlos Gomes, na recém reformada Praça Tiradentes. Esgotado até o fim da temporada. Ficamos na fila de espera pelos ingressos dos convidados que não aparecem. Após rápidos torpedos, um super-amigo conseguiu 2 ingressos para comprar. Oba! Tim Maia, aqui vamos nós!


O musical tem por base o livro de Nelson Motta. E é o próprio que assina o roteiro da peça. As melhores passagens da vida de Tim Maia estão ali. E é muito bom poder conhecer a história deste mestre do soul music tupiniquim. Nelson Motta optou por narradores. Estes se revezam no palco contando os causos. E, claro, entrelaçados por diálogos. As vezes fica estranho tanto narrador. Ainda mais quando, no meio de uma cena, para-se tudo, olha-se para a platéia, faz-se um comentário, e volta a cena. Fora isso, tudo certo. Eu gostaria mesmo que Nelson Motta tivesse sido o narrador e as cenas acontecessem independente dele. Mas é bobagem. Nada disso tira o brilho (e quantos brilhos!!!) do espetáculo.


A cenografia do Nello Marrese é um mix de estúdio de gravação com cenografia de show. Destaco o divertido aviãozinho no fundo do palco, nas horas em que Tim Maia vai e volta a Londres como quem vai alí na esquina e volta. O figurino é muito "brilhoso"! E repete com perfeição as roupas dos shows de Tim Maia. Para os demais personagens, tudo cabe perfeitamente com cada época em que a peça é retratada: dos anos 70 ao 90. A luz, também voltada mais para shows, é bonita.

Comandando tudo com sabedoria, João Fonseca. É público e notório que sou fã de seus trabalhos. Além de um grande homem, João cuida sempre com carinho dos projetos que coloca a sua marca. Já percebo - e até espero - algumas características do seu trabalho, como o momento "câmera lenta". Está lá. É João Fonseca. E, como sempre, um belíssimo trabalho. Consegue integrar todo elenco, músicas nos momentos certos, músicos, caracterização de personagens perfeita, todos bem marcados e o conjunto todo muito bem amarrado.

A direção musical também é excelente, lembrando os arranjos feitos para as baladas de Tim Maia, com sopros da banda Vitória Régia, que acompanhou o cantor.


O elenco é excelente. Infelizmente não tenho o nome de todos aqui para citar, mas destaco Isabela Bicalho cantando lindamente como Elis Regina e a última mulher de Tim; Lilian Valeska (que voz maravilhosa!) interpretando a mulher que foi a grande paixão de Tim Maia; Pedro Lima como o pai de Tim; e o ator que interpreta Nelson Motta e Roberto Carlos, fazendo uma grande homenagem. Todo o elenco é excelente.

E, não menos importante, ele, o síndico: Tiago Abravanel. Com 23 anos, é incrível a sua semelhança, em cena, com Tim Maia. Aplausos para a caracterização, trabalho de corpo, de voz, enfim, todo o laboratório e preparação que Tiago se submeteu e se dedicou para ser Tim Maia. Ele não representa. Ele é. Desde Sebastião, garoto da Zona Norte, a Tim Maia, artista consagrado no fim da carreira, e da vida. Tiago emociona não só por seu excelente trabalho como ator, mas por sua simpatia em cena. É impossível não se emocionar. Lágrimas brotam dos olhos sem que a gente tenha controle sobre elas. Lágrimas de saudade, de felicidade, de recordação, de homenagem e de trabalho bem feitos. E ver um profissional se destacar desta forma por seu trabalho é pra emocionar qualquer um. Todas as homenagens a Tiago Abravanel são mais que merecidas.


Pra ver "Tim Maia - Vale Tudo, o Musical" vale tudo. Ficar na fila esperando desistência, torcer para a temporada prorrogar, sair correndo ao final do espetáculo e esperar para abraçar elenco e direção, cantar alto, aplaudir ritmadamente cada música. Teatro pra mim é emoção. Quando a boca fica aberta, os olhos não piscam e lágrimas caem sem controle é aí que está a verdadeira função do teatro. Reviver, discutir, emocionar. Este musical, além de reunir o melhor do teatro carioca, presta uma linda - e justa - homenagem ao nosso maior símbolo do sambalanço carioca. Mais um belo musical brasileiro! Imperdível!! Salve Tim Maia!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

EMILINHA E MARLENE - As Rainhas do Rádio

O aniversário era de Cauby Peixoto. Parte da comemoração foi no Domingão do Faustão, lá no Projac. Após o Arquivo Confidencial, Cauby embarcou na limousine para levá-lo "para casa". Ele não sabia, mas a tal casa seria uma festa surpresa, com seus amigos e colegas, no Canecão. Enquanto isso, na casa de espetáculos, recebíamos o público e os artistas. Fui escalado para levar Emilinha Borba até a sua mesa. Ela chegou, fomos apresentados. Metade da minha altura. Entramos no Canecão de mãos dadas. A platéia se levantou. Emilinha, Emilinha, Emilinha! Ela apertava firme a minha mão, emocionada. Eu? Fiquei mínimo ao seu lado. Não era ninguém ao lado daquela Rainha. Até a chegada à sua mesa foram 3 eternos minutos de um aplauso contínuo da platéia. Emilinha, Emilinha, Emilinha! Segura pra não chorar. Ganhei dois beijos e um abraço longo seguido de um "Obrigada, meu filho". Saí dali e foi impossível não conter as lágrimas de emoção. Emilinha, Emilinha, Emilinha... até hoje a voz da platéia ecoa na minha cabeça. A festa era do Cauby, mas quem ganhou o melhor presente, fui eu.

Não vivi a rivalidade entre as cantoras. Rainhas do rádio. Marlene, ainda acompanho sua trajetória pelos jornais e programas de tv. Emilinha, eu a vi vendendo CD numa banquinha no Largo do Machado. Brasileiro tem memória curta e a mídia nem quer mais saber das cantoras que fizeram este país feliz. Ainda bem que Thereza Falcão e Julio Fischer (autores) e Eva Joory e Rodrigo Faour (pesquisadores) são bons de história e trazem para o Teatro Maison de France o musical "Emilinha e Marlene - As Rainhas do Rádio".

A peça tem por base a briga de duas irmãs pela paixão e pela defesa que cada uma faz em favor de sua favorita. Pano de fundo para contar histórias (e músicas) das duas cantoras. Um roteiro simples e eficiente, sem barriga e nem grandes revelações, mas que mostra com perfeição o talento das cantoras e a rivalidade entre os seguidores de uma ou de outra.

O cenário é um bom apoio para as entradas e saídas dos números musicais e sustenta os músicos no segundo plano. Lembra um grande armário de onde as memórias foram guardadas e agora são revividas. O figurino é bonito, com alguns exageros permitidos, reconstituindo roupas que as cantoras usavam em suas apresentações. A iluminação abraça o espetáculo e nos faz perceber claramente a diferença entre realidade, shows e delírios.

Durante a apresentação não ouvi, em nenhum momento, as cabecinhas brancas das senhorinhas da terceira idade reclamando que a peça é longa. Elas querem é mais! Querem reviver suas histórias. E neste quesito a direção de Antônio de Bonis é perfeita. A gente nem sente o tempo passar. Um grande espetáculo. Ágil, divertido, agitado, veloz, com excelentes números musicais. A história é dirigida com carinho. Cada ator está bem amparado, bem orientado, e compreendemos muito bem todas as frases ditas. A direção de movimento é fundamental para o sucesso do espetáculo. Por conta do limitado espaço do teatro, a direção consegue fazer milagres com o apoio da luz e do cenário. Vem Shell ai.

O elenco é apaixonante. Vontade de ouvir mais histórias das irmãs Angela Rabello e Rosa Douat; de aplaudir Luiz Nicolau na sua homenagem ao Cauby; de ouvir a voz de Cristiano Gualda cantando cada vez melhor; de rir e se emocionar com a divertida interpretação (e homenagem) de Cilene Guedes vivendo Bibi Ferreira; de abraçar Stella Maria Rodrigues, Mona Vilardo e Ettore Zuim em todos os papéis que interpretam e nas músicas muito bem cantadas.

Solange Badim e Vanessa Gerbelli estão perfeitas como Marlene e Emilinha, respectivamente. A composição que Solange Badim faz de Marlene, braços com movimentos marcados, forma de falar, agitação e afinação vocal são impecáveis. Emociona todas as fãs. Meninas, eu vi! Senhorinhas chorando à primeira entrada de Solange Badim como Marlene. Solange já foi indicada ao Prêmio Shell por seu trabalho em "Oui, Oui, a França é Aqui". Vanessa Gerbelli é uma Emilinha carinhosa, delicada, apaixonada, generosa, e totalmente dominada pela música. Emociona as fãs saudosas de Emilinha que, em 2005, nos deixou. As duas rivalizam (no bom sentido) e se revezam em belíssimos e carismáticos números musicais. Impossível não se envolver.

Marlene e Emilinha (ou Emilinha e Marlene) alimentavam a briga de suas fãs. Isto é fato. E gostavam de dizer que eram amigas. Eram? Se respeitavam, isso que importa. E quem ganhava, e ainda ganha, é o público. São, sem duvida alguma, grandes rainhas do rádio e da MPB. Vivemos numa época em que o passado, ao invés de ser enaltecido é enterrado. Reviver as cantoras e esta rivalidade é dar nova vida à História da Música Brasileira. Um espetáculo excelente, de grande emoção, prefeito e brasileiro. Imperdível.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O INCRÍVEL SEGREDO DA MULHER MACACO

Era verão, era Iguaba Grande. Um parque de diversões foi armado atrás do posto de gasolina. Vendemos azeitonas na praia para podermos brincar à noite nas atrações do parque. O "brinquedo" mais visitado, era da mulher que virava macaca. E a diversão do povo era ficar lá fora vendo os marmanjos saírem correndo quando aquela gostosa, por truques de espelho, era substituida pelo contra-regra, vestido de macaco. A macaca arrebentava a jaula e corria em direção do público. Gargalhada geral.

De volta ao berço do seu primeiro sucesso, "Surto", os Surtados voltam ao Teatro Cândido Mendes, na comédia "O Incrível Segredo da Mulher Macaco". Numa deliciosa brincadeira com os filmes de Hollywood, identifiquei "O que teria acontecido a Baby Jane?", "Assassinato por Morte", "O Iluminado" e, claro, os filmes de Agatha Christie. Suspense, sustos e... gargalhadas! Num enredo de tirar o fôlego, o autor e também diretor Saulo Sisnando armou uma trama sem nenhuma falha. Tudo está bem explicado e pensado com uma lógica que só a comédia permite. Todos os requintes de suspense, mistério e humor estão presentes. Sem falar na utilização, brilhante, das piadas muito recentes coletadas através da Internet.

A criatividade da direção fica evidente quando é necessário um momento "troca de figurino". Saulo cria pequenos números solos com os atores, sem deixar a peteca cair. A marcação dos atores e a velocidade quase alucinante do espetáculo, que a comédia exige, é compensada com olhares, pausas dramáticas e sonoplastia necessários aos espetáculos de suspense. Destaque para uma direção de movimentos muito bem casada com a direção dos atores.

A cenografia é o necessário para um teatro micro como o Cândido Mendes, mas tudo ali no palco é bem escolhido e está de acordo com o espetáculo. O figurino é muito bem confeccionado e combina muito bem com cada personagem. A luz é simpática e muito bem dividida entre o suspense e a comédia. Um acerto só.


Comentar sobre o carisma, casamento, generosidade, inteligência, perspicácia, simpatia e criatividade de Wendell Bendelack e Rodrigo Fagundes no palco, é falar sobre o talento destes dois atores de primeira linha da comédia carioca. Cada um brilha no seu momento, e são generosos com o parceiro ao passarem a bola redondinha um para o outro. Eles têm talento de sobra. Não é à toa que "Surto" é um fenômeno de público e "Mamãe Não Pode Saber" só foi autorizada por João Falcão para ser remontada por conta do talento dos dois atores. Rodrigo mata a platéia de rir com a matriarca, com o lourinho noivo da mocinha e com a louraça toda de azul. Wendell arranca gargalhadas com sua interpretação da mocinha ingênua e virgem. Aplausos para a criada, sóbria e sinista! E, não menos importante, Renato Bavier se diverte - e sua em bicas - na sua incrível interpretação da macaca, personagem principal da peça!

E teve boatos de que as comédias do Cândido Mendes estavam na pior. Se isto é tá na pior... Poham! Que que é dizer tá bem, né? Corram para o teatro no fim de semana mais próximo e não percam a O Incrível Segredo da Mulher Macaco! Pra ficar com as bochechas doendo de tanto rir.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O FILHO ETERNO

A velha pergunta "Por que eu?" somada ao sentimento de que "isso só acontece com os outros, comigo nunca" é o ponto de partida do livro "O Filho Eterno", sucesso de vendas há pouco tempo. Conosco nada acontece. Problemas, defeitos e acontecimentos ruins só com os outros. Muitas vezes convivi com pessoas que escondiam seus entes "queridos", por motivos mais diversos: dependência química, defeito físico, sindrome disso, síndrome daquilo. Síndrome de Down. Conheci uma menina linda com a síndrome e o carinho que ela nos dava, era sempre um presente. Pra nós. Mas a família passou algum tempo devastada pela presença daquele anjo.

Está em cartaz no Oi Futuro do Flamengo, a excelente adaptação de Bruno Lara Resende para o espetáculo baseado no livro "O Filho Eterno", de Cristóvão Tezza. A adaptação é concisa e foca nas mais variadas emoções da relação pai-filho. O pai, assim como no livro, narra em terceira pessoa, como se não fosse com ele que estivesse se passando aquela história.

A cenografia de Aurora de Campos é bastante simples e realmente é apenas o necessário. Uma cadeira e um fundo branco. Figurino de Marcelo Pies, elegante e perfeito para diferenciar o frio de Curitiba do calor do Rio de Janeiro. Inteligente também a passagem de tempo com acréscimo dos óculos ao personagem. A luz do Aurélio de Simone, como sempre criativa e competente, separa espaços, comprime a cena, divide com a platéia angustias, amplia universos, conduz o ator. Excelente! A direção musical de Lucas Mercier contribui bastante para o andamento do espetáculo.

O casamento entre a direção de movimento, de Márcia Rubin, com a direção do espetáculo, do Daniel Herz é perfeito. Se completam, se fundem, são quase a mesma coisa em cena. Um balé de tão perfeita. Daniel também conduz as falas, o timbre e o volume da voz do Charles com total segurança. Destaque para a genial cena em que o pai vai deixando de ouvir o que estão falando ao seu redor, porém é o ator quem diminui o volume de sua fala. Lindo!

E Charles Fricks? Sem duvida sua mais marcante e brilhante atuação em teatro. Uma entrega total ao personagem, com carinho, sem criticar aquele pai, entendendo a dor daquele homem, Charles dá vida com emoção e grande talento às dores, que só vamos descobrir que temos, e às conquistas, que só vamos comemorar com o tempo, daquele ser humano que não é nada no início da peça, mas se torna tudo ao final dela.

"Por que eu?", "Por que comigo?". Certamente você já se fez esta pergunta alguma vez. Lembro-me de conversar com uma faxineira do Projac e, contando minha tristeza, ela me veio com a pérola: "Por que NÃO, com você?" E a partir daí, observei que aquela tristeza era um crescimento, um aprendizado.

O Filho Eterno é obrigatório, não só pela genial, brilhante e incrível atuação do Charles Fricks, como também pela grandiosa direção do Daniel Hertz. Mas principalmente para que uma centelha de humildade e humanidade se acenda em todos nós, para que compreendamos os sinais da vida, como temos que encarar as provações e os presentes que Deus nos dá.

Mais que recomendo. Imperdivel.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

OUTSIDE

Faz tempo eu já havia comentado com alguns pintores de arte da Fábrica de Cenários da Tv Globo sobre o "fim da arte". Argumentei que tudo já havia sido feito, pintado, criado, e o que existe hoje é uma repetição do já repetido. Nãna Pirez, minha mestra e amiga, diz que tudo que ela vê atualmente já foi visto a exaustão. Mais do mesmo. E aí percebemos que a arte tem que tomar um rumo. Recriar é também uma forma de arte. Um plágio de si mesmo também é uma forma de arte. Até que ponto vale a pena doar seu corpo, literalmente, para a arte? Já que tudo foi inventado, dito, recriado, falta-nos encarar a morte como forma de arte.

E é com base nestas questões que o autor Pedro Kosovski nos conta a história de uma garota que oferece seu corpo para uma instalação artística. Ela se mata em nome da arte. Se mata ou é morta? Temos também um ex-homem que se mutila e se acrescenta em nome da arte. Vira um mix de homem + mulher + andrógeno. Temos ainda a dona da galeria de arte, e os críticos de arte ("comprados" e financiados pela dona da galeria). Discussões sobre os rumos da arte, sobre a latrina da vida humana em busca do sucesso rápido. O texto fica muito bem amarrado da metade do primeiro ato em diante. O mestre de cerimônias nos convida a entrar no jogo e deixar todos os pré-conceitos, medos e ressalvas lá fora da galeria de artes que é o cenário da peça. Deixem tudo lá fora, Outside.

A direção de Marco André Nunes é excelente! Utilizando-se de todo palco, conduzindo os atores a personagens muito ricos em gestos, caricaturas e frases muito bem ditas (dicções perfeitas) e bem empregadas, conduz muito bem a velocidade e a calmaria necessários ao entendimento de toda a ação. Discute com a platéia o tema, nos faz embarcar na história querendo não terminar tão cedo. Acerta muito na escolha de alguns videos, principalmente nas letras das musicas traduzidas, mostrando o porquê da escolha, que se encaixa perfeitamente no contexto da peça. Sugiro apenas que reveja o inicio da peça, pois demora muito a começar efetivamente o espetáculo. O video inicial ja é repetido algumas vezes ao longo da peça. Mas isso não prejudica em nada a excelente direção e o conceito de um musical muito bem feito.

A cenografia e o figurino de Flavio Graff é genial. Um acerto só. Tudo muito bonito, de bom gosto, funcional, se aproveitando dos platôs criados com praticáveis Feeling. Destaque para os objetos da cozinha e do escritório! Excelente! E o figurino não poderia ser mais competente! Da roupa da dona da galeria, aos tecidos, cores, leveza. Tudo muito bem encaixado e bem concebido. Aplausos também para a caracterização, visagismo, de Josef Chasilew.

A excelente luz do Renato Machado cria sombras, chafarizes de luz em frente à banda, pinos, tudo num clima Noir, quase um filme, mas sem esquecer que se trata de um musical de Rock, muito bem iluminado nos numeros musicais. Belissimo!

Destaques para a competente coreografia e direção de movimento de Marcia Rubim; excelentes arranjos musicais de Felipe Storino; a competência da banda; a exata altura do som. Fiquem atentos apenas para o seguinte: os numeros musicais com microfones sem fio, de mão, funcionam melhor do que os microfones de testa. O som sai melhor e entendemos as letras. Bobagem minha. Aplausos tb para os competentes videos dos sempre competentes Rico e Renato Vilarouca.

Não menos importante: o elenco. Poucas vezes vejo tanta entrega em alguns musicais quanto vi neste. Todos estão equilibradissimos em sua competência como atores, cantores e dançarinos!! Destaco a caracterização de gestos de Leticia Spiller, a brilhante transformista de Jorge Caetano que certamente será agraciada com um premio de teatro, o excelente numero de sapateado e total entrega de George Sauma, o carisma de Andre Mattos, a sobriedade necessária de Bruno Padilha, a sonoridade e beleza de Gabriela Geluda, os generosos e belos números muscais dos Acionistas Remo Trajano e Marina Magalhães. Muito bom também o trabalho de Laura Araújo, Paula Otero e Carolina Lavigne. Elenco e bandas carismáticos e competentes.

O que eu mais gostei mesmo foram os nomes dos personagens. Tudo a ver. Mas só indo ao teatro, e lendo o programa, é que vocês entenderão perfeitamente a generosa, criativa e inteligente escolha do batismo dos personagens. E muito melhor ainda ouvir David Bowie muito bem cantado por este elenco afinado!

A peça é um total acerto. Discute, faz pensar sobre arte, o poder da midia, a ditadura dos incentivos fiscais e da critica (ó eu aqui), ouve-se muito boa musica, belissimas interpretações. Saímos do teatro acrescentados. Uma novidade em musicais do Rio de Janeiro como há tempos não temos. Inovação, criatividade, arte. Misture tudo isso e corra para o teatro do Espaço Tom Jobim para ver OUTSIDE.

IMPERDÍVEL!!

terça-feira, 7 de junho de 2011

PEÇAS IMPERDÍVEIS!

Minha paixão por teatro não é novidade para ninguém. Depois de produzir mais de 10 peças, mesmo não tendo sido agraciado com nenhum grande sucesso, passei a atuar na periferia até a maré virar a meu favor. Passei a escrever para o blog, onde opino sobe o que vejo, tenho publicações de parte desses comentários sobre teatro no site Rio e Cultura, e produzo eventos relacionados ao teatro, como livros de cenografia e projeto de literatura infantil com atores de teatro.
Ultimamente tenho assistido, em média, de 3 a 4 peças por semana. E isto deve-se ao grande número de bons espetáculos em cartaz. Gostaria de indicar, neste post aos espetáculos que considero excelentes montagens, cujo talento de toda equipe técnica se reflete no palco e contamina, positivamente (Alow pepinos europeus!) toda a platéia.

Gostaria de escrever exclusivamente, elogiar pontualmente, cada espetáculo, mas não quero ficar atrasado. Cada semana estréia uma peça nova no Rio. E sem sombra de duvidas, temos para todos os gostos, espetáculos incríveis! Sugiro, sem medo de errar, que você assista a qualquer uma das peças abaixo neste fim de semana. Falo rapidinho sobre o que se deve observar em cada uma das peças:


“Clichê” - O excelente texto. Mistura tudo aquilo que as pessoas falam sem se darem conta. O chavões, as frases feitas. Costura incrível. Lucio Mauro Filho extrapola seu talento. Comunica com a platéia num nível de intimidade e segurança impressionantes. Aplausos de pé. Prêmio Shell para Lucio Mauro Filho e para o texto. Terminou temporada no Teatro Leblon.




“Baby” - musical belíssimo de Tadeu Aguiar. Com Silvia Massari, André Dias, Sabrina Korgut e Amanda Acosta seguros e competentes em cena. Cenário funcional e criativo. E os melhores arranjos musicais da atualidade, pelas mãos de Liliane Secco, certamente será indicado ao Prêmio Shell. Em cartaz no Teatro João Caetano.






“Cozinha e Dependências” e “Um dia Como os Outros” - Duas peças de Agnes Jaoui e Jean Pierre Bacri, com direção de Bianca Byington e Leonardo Netto. Em cartaz no Teatro Poeira, uma às 19h e outra às 21h. Não são continuações, mas bem que mereciam ser. Elenco impecável! Kiko Mascarenhas, Bianca Byington, Marcio Vito, Silvia Buarque, Leandro Castilhos e Analu Prestes excelentes! Texto inteligente, sabiamente dirigido. Cenário totalmente realista e de bom gosto, figurinos e luz muito bem criados e pensados. Prêmio Shell para a direção da peça e para o cenário.









“Hell” - A futilidade da aristocracia francesa, tendo por base o livro “Hell Paris 75016” transformada em teatro com competência sob a batuta de Hector Babenco. Com Barbara Paz em seu melhor papel no teatro, interpretando a personagem titulo. Impecável! Belissima direção e atuação memorável. Prêmio Shell de melhor atriz para Barbara Paz.







“O Gato Branco” - Jô Bilac mostrando toda sua competência como autor da nova geração de teatro, encontra meu diretor favorito João Fonseca que aposta nos jovens atores para dar vida a este romance policial delicioso. Tem de tudo que a gente lê nos livros de Agatha Christie e dos mais belos romancistas policiais mundiais. Elenco rende muito bem no conjunto, cenário maravilhoso do Nello Marrese (isto já é uma redundância!) e uma luz e uma trilha sonora impecáveis. João criativo como sempre cria um clima de romance policial digno de filme inglês. Prêmio Shell pro cenário do Nello, pra direção do João, pro texto do Jô. Em cartaz no Teatro Sérgio Porto.


“Adultério” - excelente texto da Cia de Atores de Laura, com base em improvisações inspiradas em Pirandello, citando a maioria das situações de adultério. Destaque para a genial costura das cenas, feita pelo diretor Daniel Herz e pelo criativo e inovador figurino de Patricia Muniz. Cenário sempre maravilhoso de Fernando Melo da Costa e direção de movimento prefeita de Marcia Rubim. Os Atores de Laura dão um show! Prêmio Shell para os atores, para a direção e para o figurino. Em cartaz no Teatro Leblon.

Depois dessa gama de excelentes peças de teatro, saia correndo da tela do computador e vá assistir a pelo menos uma delas. Certamente você sairá acrescentado. Diversão garantida. Espetáculos imperdíveis!

sábado, 28 de maio de 2011

39 DEGRAUS

Nossa casa de Iguaba Grande, na região dos lagos, norte do Estado do Rio, recebia sempre no verão os primos de Juiz de Fora. Em janeiro, a prima mais nova, faz aniversário. Então as festinhas com os vizinhos das casas de veraneio, eram sempre lá. As janelas se abriam de par em par e dava-se tranquilamente para defenestrar um elefante de tão grande que ficava. A maioria das crianças era composta de meninas e o numero de boneca crescia em progressões geométricas durante a festa. Tirando partido do vasto numero de bonecos e de uma janela da sala, eu e minha irmã improvisamos um teatrinho de bonecas. Ficamos do lado de fora da casa e as crianças no sofá da sala. A história? Nem a gente se lembra mais da quantidade de asneiras que falamos, para diversão das crianças. Ora eu mesmo e a minha irmã servíamos de narradores, personagens, saíamos correndo, inventávamos falas, errávamos e as crianças nos corrigiam. Uma festa inesquecível e um teatro memorável.

Está em cartaz no teatro Leblon, “39 degraus”, peça baseada no filme homônimo de Alfred Hitchcock. Um assassinato misterioso envolve, sem querer, um homem que nada tinha a ver com o assunto. Ele, em fuga, se envolve com diversos personagens que o auxiliam e o prejudicam, personagens típicos ingleses, e onde tudo é explicado no final. A tradução e adaptação é de Clara Carvalho e do diretor Alexandre Reineck, com belas contribuições ao popular brasileiro, sem deixar duvidas de q a peça se passa na Inglaterra.

O cenário (direção cênica) é de Cyro Lel Nero, que nos deixou recentemente. Um cenário funcional e inteligente, se prestando, com louvor, aos objetivos da direção e às necessidades dos atores. O figurino de Cássio Brasil são elegantes e também funcionais se adaptando às necessidades dos atores, de trocas rápidas. Tudo isso com a linda luz de Paulo Cesar Medeiros.

Os atores estão todos excelentes. Dan Stulbach com o seu talento de bom moço interpretando com firmeza, Danton Mello se divertindo em cena, Fabiana Gugli dando um show em todas as personagens femininas que interpreta e, não menos importante, Henrique Stroeter, talvez o ator mais exigido da peça, contagiando a todos com sua humildade, naturalidade, carisma, bom humor e imenso talento. É dele, sem sobra de duvidas os melhores e mais divertidos momentos do espetáculo.

Dirigindo com sabedoria, bom humor e competência sem igual, Alexandre Reineck segue uma linha do humor inglês misturado com palhaçadas típicas de Jerrie Lews, e ainda um pouco de palhaçadas nacionais. Ele faz de tudo uma séria brincadeira, um divertimento muito maior para os atores do que para a platéia, que, lógico, embarca na onda vida do teatro.

39 degraus é uma homenagem ao teatro, é o brincar com a verdade, fazer piada do sério, é diversão garantida, que nos deixa de boca aberta com tamanho talentos reunidos a favor da arte de representar. Não perca. É diversão garantida. Excelente espetáculo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

MULHERES ALTERADAS

Que me perdoem todas as mulheres do mundo, e sei que vou tomar pedrada, mas mulher alterada é uma redundância! Qual não é ou qual não está? A verborragia feminina é algo que me impressiona demais! Os homens são um tantinho mais silenciosos, e isso deve irritar profundamente suas companheiras. Lembro da minha avó que, ao telefone com a mamãe, e aos gritos, dizia “Eu to sozinha!” e ao seu lado, seu marido bundão caladinho. Ele não dava uma palavra. Era a própria Pombinha Abelha ao lado do marido. Uma mulher alterada.

Assisti à peça Mulheres Alteradas, no Teatro Clara Nunes. Esta é a adaptação de Andrea Maltarolli (1962-2009) para histórias de Maitena. A argentina Maitena Burundarena tem fãs pelo mundo por conta de com seus quadrinhos sobre o universo feminino e se popularizou através de uma personalidade incomum, aquela loura descabelada roendo unhas. Maitena, a personagem, tem exata noção de quanto pode perturbar o sexo oposto quando se “altera”.

O texto precisa de uma costura melhor. As cenas soltas, que mais parecem mesmo tirinhas, quadrinhos, faz com que pequenas cenas se sobreponham ao todo do espetáculo. Uma leve costura entre as amizades das protagonistas não é suficiente para prender a atenção, por tempo integral do público, que às vezes ficava com um riso amarelo nas cadeiras do teatro.

Talvez por falta de ritmo, a peça tenha se perdido um pouco ao longo do tempo em que está em cartaz e a ausência de Adriane Galisteu, no dia em que fui assistir, deu uma broxada geral no público. Não havia informações na bilheteria sobre a troca de Galisteu pela Ótima e Competente Cibele Larrama, mas a decepção foi grande.

A direção de Eduardo Figueiredo pode ser fiel ao espírito das chages, mas a exploração do meio do palco é constante. Sem o apoio de uma cenografia, o diretor fica limitado. Como sugestão, projeções simples no fundo do palco fariam a peça ficar muito mais interessante.

O elenco formado por Luiza Tomé, Mel Lisboa e Cibele Larrama é competentíssimo e sem duvidas é o ponto alto do espetáculo. As atrizes estão totalmente à vontade em seus papéis e conduzem as cenas e a história da amizade com segurança. Todas se destacam em alguma parte da montagem e todas são muito felizes em suas interpretações. A participação de Daniel Del Sarto é excelente. Faz um adolescente que cativa a platéia e é suporte para as implicâncias com os homens.

A banda formada por uma bateria, um piano e um contra baixo dão o tom do espetáculo e a direção musical da peça é um acerto total.

Os pontos que mereciam mais capricho são o figurino e a iluminação. Claro que esta ultima prejudicada pela alta rotatividade dos teatros de shoppings do Rio, mas o figurino merecia um capricho maior, mesmo se o objetivo fosse imitar as tirinhas. Faltou criatividade tanto nas roupas quanto na luz.

Durante a peça ouve-se diversas e diferentes mulheres rindo por motivos que tocam a cada uma delas. Mas não houve uma gargalhada generalizada, só nas cenas do adolescente e de Mel Lisboa. É uma diversão para todas as mulheres entre 25 e 55 anos, e todos aqueles que curtem ver as próprias mulheres tirarem um sarro das suas alterações diárias!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

NEW YORK, NEW YORK

Em uma breve temporada em São Paulo neste abril varonil, pude acompanhar duas peças que já estiveram em cartaz por aqui. Uma, "Toc Toc" (Teatro Gazeta), onde os personagens divertem a platéia com suas manias, numa inesperada terapia coletiva; e "Mais respeito que sou tua mãe" (Teatro Procópio Ferreira), com Cláudia Jimenez esbanjando competência e, infelizmente, esquecida dos prêmios de teatro. Pra mim, a melhor atriz de 2010 foi Cláudia Jimenez.

Mas nem só de comédia vivem os palcos paulistas. Atualmente, três grandes musicais estão lotando os não menos gigantescos teatros. "Mamma Mia" (Teatro Abril) já é a veterna, e recentemente "Evita" (Teatro Alfa) atrai um público fiel. O terceiro grande musical estreou dia 14 de abril, chama-se "New York, New York", no gigantesco e super confortável Teatro Bradesco.

O musical é uma adaptação do livro de Earl Mac Rauch, e que depois o próprio escritor adaptou para o cinema, com direção de Martin Scorcese. A história é a mais batida possivel: o romance entre a uma cantora e um saxofonista. Os ingredientes são os mesmos de sempre: a cantada boboca, a negação da mocinha, o rapido e inexplicavel interesse da mocinha pelo músico, o abandono do romance para uma turnée nacional, ele vai atras dela, ganha a vaga de diretor da Big Band, fazem certo sucesso, vem o fracasso, brigam, e no fim, a cantora faz um show com uma musica linda e inédita criada por ele. A música? New York, New York. Reconciliação e final feliz.

O elenco tem 54 artistas, onde 13 são bailarinos, 16 atores/cantores e 25 músicos, que formam uma legítima Big Band americana. A direção musical está a cargo de Fábio Gomes de Oliveira, e é um belo show de competência.

A direção de José Possi Neto é segura e elegante, como tudo que ele faz. Consegue ligar os numeros musicais aos momentos de apenas texto, sabe como dar a importância necessária a cada ator/bailarino e propõe à platéia embarcar naquela história de coração aberto.

A cenografia é de J.C. Serroni e aplausos de pé para todos os envolvidos nesta arte de cenografar. Serroni usa tudo: madeira, ferro, tecido, projeção, rodinhas, adesivo, enfim, tudo que é material possivel para dar vida aos diversos cenários. Destaco a cena do hotel e as projeções dos grandes salões de baile. Os figurinos, lindíssimos, são assinados por Miko Hashimoto e são muito favoráveis aos protagonistas. A iluminação é bastante competente também, mas, claro, com a quantidade de refletores disponiveis no Teatro Bradesco, criar a luz é que é o X da questão.

O elenco principal é composto por Juan Alba, que interpreta com segurança o músico saxofonista e canta muito bem; Simone Guitierrez aparece em pequenos papéis, mas sempre presente no palco, como uma coringa. Um papel criado especificamente para ela, para dar o humor ao espetáculo. Juliane Daud interpreta muito rapidamente uma Carmen Miranda, mas poderia ousar mais, se soltar mais.

E é Alessandra Maestrini a responsável pelos mais brilhantes e emocionantes momentos do musical. Uma atriz completa, Alessandra interpreta com emoção, tem uma voz linda, canta para os Deuses do teatro aplaudirem de pé, e tem um senso de humor incrivel, vide sua participação no "Toma Lá, Da Cá". Quem diria que aquela Bozena é uma excelente cantora? Tá duvidando? Corra para São Paulo e veja New York New York.

Impossivel também deixar de aplaudir os números de sapateado, principalmente de Cristiane Matallo com sua black power peruca branca. Excelente.

Ta bem, vc não mora em São Paulo e não tem a mínima idéia de como poderá assistir a esta peça... ok, então, visite São Paulo, vá jantar no Spot, hospede-se no Braston Hotel, na Martins Fontes, caminhe pela feirinha da Benedito Calixto e depois de assistir ao musical New York, New York no gigantesco Teatro Bradesco, termine sua noite com bons pedaços de pizza no balcão da Casa de Pães Bella Paulista. É programa pra ninguém botar defeito!