Inúmeras frases sobre o riso estão à disposição esperando para
serem citadas. As minhas favoritas são: “Um dia sem sorriso é um dia
desperdiçado” (Chaplin); “Os Deuses adoram uma boa piada” (Aristóteles); “O
palhaço é um anjo embriagado”, “Ri melhor que ri por último” e “Quem ri por último
é retardado” (autores anônimos).
Rir de si mesmo é uma sabedoria. Em todos os espetáculos de
humor, quando vejo o artista fazendo piada de si mesmo, esta é a minha
gargalhada mais solta. Aprendi com Joaquim Vicente, meu amigo e mestre da arte
de atuar, que a piada é o herói em apuros. Faço parte desta turma que ri de si
mesmo. Sou míope, a barriga não diminui por nada, faço parte de várias “minorias”...
e tantos outros defeitos que uso para fazer da vida a comédia do dia a dia.
Ser “politicamente correto” nos dias de hoje é de doer. Não
se pode mais fazer piada com espécie alguma da natureza que já vem a patrulha
para levantar os cassetetes e sentar bordoada. Sejamos mais complacentes com as
mazelas alheias! Vamos rir disso. O que mais me chamou a atenção recentemente
foi uma constatação da escritora e amiga Ângela Dutra de Menezes que, ao chegar
no mercado, deparou-se com o “Bolo-Afro-Descendente”, onde antes lia-se “Bolo
Nega Maluca”, o clássico das padarias.
Está em cartaz por curtíssimo tempo, no Espaço SESC, cm Copacabana, a comédia “Uma Revista
de Ano – Politicamente Incorretos”. Texto de Ana Velloso com supervisão de Tânia
Brandão. Aprendi a gostar do gênero “Revista”. Sinto falta deste tipo de
espetáculo que nos faz rir justamente de coisas e causos acontecidos em nosso
país ao longo de um ano. E olha que o Brasil é o país da piada pronta, o que
não falta é assunto para as Revistas. Assim como o Fantástico de domingo, a
peça “Politicamente Incorretos” resume com sabedoria “os melhores piores fatos”
de meados de 2014/meados de 2015. A começar pelos fiascos da abertura da Copa,
o fracasso do jogo, a mentirada dos debates para presidente, as derrapadas de
um grande empresário brasileiro e outras pitadinhas de humor apimentado jogadas
aqui e ali durante as apresentações. Sensacional transformar a história do
grande empresário falido em uma paródia com X-Man. Com um texto incrivelmente bom,
o tema “atores em busca de um texto para montagem de uma peça”, que faz a
costura entre as cenas, merecia um tratamento menos comum.
A direção de Sérgio Módena é sempre criativa e interessante.
Gostei muito como faz a ligação entre o gari da Marques de Sapucaí e o programa
de TV “De Frente com o Gari”. Além disso, a disposição de cada “cantinho” dos
atores no palco, auxiliam as rápidas trocas de roupas e cenários. Gosto da
forma como respeita o teatro de arena e faz com que os atores “girem” para que
todo o público possa ver o espetáculo sem perder nada.
É um acerto ainda a quantidade de adereços. Como estamos
vivendo um momento de apertar os cintos, economizar objetos e usá-los com
sabedoria é uma ótima proposta. Por falar neles, adereços de Antônio Medeiros e
Tatiana Rodrigues, e também Derô Martin. Antônio e Tatiana também assinam os
ótimos figurinos, com colaboração de adereços de Hideraldo Peniche e Walter
Rocha. A ambientação cênica é do diretor, Gustavo Wabner e Bia Gondomar. A luz
de Tiago e Fernanda Mantovani está sempre alerta para focos necessários e para
manter o humor aceso. A direção musical de Wladimir Pinheiro é criativa e
consegue fazer de um teclado, uma orquestra. Aliás, as versões das músicas
estão divertidíssimas, com destaque para “Deixa a Fifa me lesar. Fifa, lesa eu.”
A coreografia de Édio Nunes ajuda com elegância e humor a contar as histórias
musicadas através de passos bem marcados.
O elenco está ótimo. Todos compõem muito bem seus
personagens. Destaque para o hilário Gari de Édio Nunes; a candidata verde de
Ana Velloso (que canta lindamente), a velhinha da plateia e a composição ótima
de uma candidata de um certo partido vermelho, de Cristiana Pompeu; o Magneto
de Cristiano Gualda; a perfeita composição do carnavalesco famoso de Hugo Kerth;
e, não menos importante, o cego ditador de Wladmir Pinheiro. Sabemos quando o
elenco está se divertindo em cena e isto nos contagia.
“Politicamente Incorretos” é um recorte muito bem humorado do que vivemos neste último ano. Com texto, atores e direção bastante dedicados, impossível não dar risadas e gargalhadas com gosto. Até porque estamos rindo de nós mesmos, das nossas “melhores piores desgraças”. É como diz o Alcorão, “Abençoado aquele que faz com que seus companheiros riam”. Obrigado por me fazerem rir com vontade. Aplausos de pé!
Um comentário:
Adorei ser citado, kkk, sorte e sucesso porque escrever bem você já escreve, beijão
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