“Quanto riso, oh, quanta alegria / Mais de mil
palhaços no salão / Arlequim está chorando / Pelo amor da
Colombina / No meio da multidão”
Quando fui a Porto de Galinhas, me
apaixonei por um palhaço de cerâmica à venda. Havia mais 6, em
posições diferentes. Mas o preço...nas alturas. Não dava pra trazer todos. Trouxe
um, no meio das pernas, no avião da falecida VARIG. Hoje, o palhacito habita
minha sala. De lá pra cá, alguns palhaços vieram para completar a decoração. Lembro
d’um filme onde Jarry Lewis, de palhaço, faz de tudo para animar as crianças. E
nada. Aí... ele chora... e a meninada se esbalda... Na verdade o filme é
trágico (pano rápido!) - "O dia que o palhaço chorou" – livre tradução do título.
Nunca me vesti de palhaço no carnaval.
Se sim, que provem! Aproveito para fazer uma confissão: sonho ainda, em fugir
com um circo, quando nada mais me restar... E passar a vida mambembando por aí,
alegrando crianças de 8 a 80 anos, com o rosto pintado de branco e o nariz
vermelho na frente, escondido atrás da máscara, feliz da vida.
Está em cartaz no Teatro dos Quatro,
terças e quartas, a comédia romântica musical “Chão de Estrelas”, que conta um
momento, uma passagem, na vida de um palhaço e uma bailarina, artistas de rua,
que se encontram numa praça, ou em algum lugar de uma grande cidade. Enquanto
isto... vão contando a um público imaginário (a plateia), uma história de amor,
encontro, desencontros, revelações, tristezas e alegrias, através das mais
importantes músicas da MPB no Rio Antigo. Linda, a bailarina, e Dom, o palhaço,
são personagens de um roteiro muito bonito, bem costurado e criativo de Marcelo Albuquerque.
Ao longo das 64 músicas do repertório,
ora trechos, ora completa, Sabrina Korgut e Tiago Higa dão show de simpatia,
competência vocal, preparo físico e interpretação. Sabrina já acompanho desde a
Ópera do Malandro e desde então vou sempre ao teatro quando ela está no palco! Sua
bailarina é delicada, forte, animada, decidida. Aproveita cada nota musical
para dar vida a Linda. Tiago é uma grata surpresa. Não lembro de tê-lo visto
ainda em cena e sua presença, seu palhaço Dom, é daqueles para se colocar na
estante de casa, puxar a cordinha e ouvi-lo cantar o tempo todo. A dupla é generosa e está unida para que o
espetáculo saia perfeito. Aplausos!
A cenografia, de Leandro Marins,
deixa livre o palco para que os artistas de rua façam as piruetas, contem seus
dramas. Dois postes, um latão de óleo, uma cortina de luzes, um voil preto que
nos faz imaginar um sonho e, o mais bonitinho de tudo, a cerquinha de madeira
branca que limita a área dos músicos. Como se fosse um coreto de praça. O
figurino, também do Leandro, é bastante colorido, como pedem aqueles que vivem
da arte de encantar crianças e adultos nas ruas da cidade. A luz - também do Leandro - é linda! Aproveitando bem cada momento, cada foco, cada música para valorizar o
espetáculo. A direção musical de Tony Luchesi é rica em detalhes harmônicos.
No comando deste recital, Rubens Lima
Junior, que vem se firmando como um dos mais aplaudidos, seguidos e valorizados
diretores de teatro do Rio de Janeiro. Seu trabalho, tanto na Uni Rio com os grandes
musicais quanto os intimistas, é sempre um primor. Como não podia deixar de
ser, Rubens contribui com segurança para que números musicais, atuações, marcas
e ritmo estejam em harmonia.
Nesta época em que a palavra de ordem é
Crise, Corte de Gastos, Desemprego e afins, a música Marcha da Quarta-feira de
Cinzas, nos diz que “E no entanto é preciso cantar / Mais que nunca é preciso
cantar / É preciso cantar e alegrar a cidade”. E é justamente isto que “Chão de
Estrelas” faz: alegra a nossa cidade. Mostra que é possível produzir um musical
de bom gosto com qualidade e economia, onde o mais importante é fazer as
pessoas saírem felizes e emocionadas do teatro, esquecendo, por alguns
momentos, a vida dura cotidiana. Viva “Chão de Estrelas”!
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