“Que tempos estes!” A frase pode ser lida e escrita por
várias pessoas de classes e opções políticas diferentes.
Época em que o medo dos rumos políticos no Brasil e no mundo, a insegurança
econômica, o abismo entre o que o povo necessita versus o que os governos
oferecem, está aí pra quem quiser criticar, sugerir, lamentar.
Longe da minha opinião política, temos que observar a
mudança no eleitorado. As eleições para prefeito nas duas maiores cidades
brasileiras indicaram a vitória do conservadorismo, mas com rostos novos. Um
empresário em SP e um Religioso no Rio são a novidade num cenário em que, seus
partidos, estão ao lado do conservadorismo. Interessante notar que a maioria
dos votos nos candidatos é justamente da população contrária às políticas
sociais - e vários beneficiários delas - que foram mal executadas nos últimos anos do governo passado. Temos
receio de que, com estas novas caras, um totalitarismo, uma ditadura social,
venha com força dominar, e domar, nosso país e, quiçá, nosso mundo, visto que nos
EUA a coisa é bem parecida.
Oportunamente, a CIA Abrupta, sob a batuta do diretor Jarbas
Albuquerque, nos traz para o teatro a peça “Depois da
terceira onda”, inspirado no
documentário A História da Terceira Onda (de Dennis Gansel), onde se discute a
microditadura social através de um experimento, em sala de aula, entre
professor e alunos. Jarbas assina a dramaturgia desta peça em questão. Gosto da forma leve
e direta em que o texto é adaptado para o teatro e para a realidade brasileira, podendo ser
compreendido por todas as classes sociais que assistem ao espetáculo.
Jarbas tem inteligência e sabe o que quer dizer com a peça,
cria cenas interessantes entre os alunos e o professor, envolve a plateia – que
chega a rir de nervoso e até por identificação com o momento atual – mostrando
que a realidade está mais do que batendo à nossa porta. A mudança para o
conservadorismo está na nossa cara, no nosso momento, no agora. Orai e vigiai,
diriam os evangélicos, pois, aprendamos com eles, e vigiemos, para que não
calem as vozes da oposição, não se impeça de dizer que se está contra uma situação,
sem ser enjaulado ou assassinado.
Destaque para a cena em que a atriz repete, à exaustão, e de
várias formas diferentes a expressão “de novo”. É isso. Tudo de novo, de novo.
No palco, os atores Adriana Perin, Daniel Bouzas, Henrique
Guimaraes, Ignácio Adunate, Lu Lopes, Maira Kestenberg e Samuel Vieira vivem a
experiência de transformar uma classe num micro universo fascista e
totalitário. O final, inusitado mas não surpreendente (e isto tem a ver com a humanidade e não com a montagem), mostra que, no fundo, no fundo, somos
todos manipuláveis, mesmo no momento da brincadeira. Atores em ótimo conjunto,
sendo verdadeiros e integrados à proposta do diretor.
Cenário de Gregório Rosenbusch e Mariana Meneguetti,
figurino de Henrique Gimarães e a luz de Elisa Tandeta contribuem para a
evolução da história, deixando a palavra, a direção e a atuação mergulharem
neste mar esperando a chegada da terceira onda, a mais forte, que encerra um
ciclo de ondas, arrasando o todo, ou iniciando o novo.
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O momento politico mundial e nacional, pedem que o teatro
também fale dele. E a peça “Depois da Terceira Onda” está no momento certo, no
local certo (Centro Cultural Justiça Federal) e merece ser vista por quem ama a
arte cênica. Vejam, debatam, discutam política, não deixem calar suas vozes.
Vida longa ao espetáculo.
Um comentário:
Olá Marcelo, eu sou uma das atrizes da peça "Depois da Terceira Onda" e notei agora ao ler que meu nome saiu errado: em vez que "Maíra", saiu "Maria". Se puder corrigir, te agradeço.
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