quarta-feira, 4 de setembro de 2019

COMPANY



    “E as namoradas?”, perguntou a tia sacana na festa de aniversário da família. A pressão da sociedade por um casamento, para que o filho saia da casa dos pais, ainda se faz presente. Porém a maior pressão é a interior, de quem não consegue mais localizar o chinelo velho pro seu pé doente... Ficar com qualquer um só pelo fato de ter alguém? Casar para ter uma companhia? Juntar por amor ou ficar sozinho? Pode procurar na internet: o número de solteiros já passa da metade da população adulta. Opção ou falta de encontros? O que dizem os aplicativos de relacionamento, responsáveis pela manutenção da solteirice no mundo? Quanto mais solteiros, mais usuários. E os sentimentos? Importam?

     Assisti no finado Teatro Villa Lobos a primeira montagem brasileira de Company. História de Bobby, texto de George Furth, um solteirão convicto (será?) em busca de um relacionamento. Ou melhor: em busca de respostas. Numa festa de aniversário, os casais de amigos mostram as alegrias e loucuras de se estar casado e o “nosso herói” vai até o fim em busca da alteração do seu status de relacionamento no Facebook. Ele consegue ou desiste? Taí o musical pra responder esta pergunta!

     Reiner Tenente (o melhor palhaço que já vi em cena, no musical O Grande Circo Místico) obteve os direitos de montagem e faz uma nova parceria com João Fonseca, na direção. Em Company, com texto e músicas em versão de Cláudio Botelho, interpreta o protagonista Bobby, e a carga de responsabilidade em cima dele é imensa. Ele segura o rojão e empresta seu talento completo de artista para viver este personagem difícil. A insegurança de Bobby, a ansiedade, a responsabilidade caem como uma luva nas mesmas sensações que Reiner sente. E vemos da plateia os sentimentos do artista e do personagem se fundirem. Ponto positivo.

     Com ele, uma gama dos ótimos atores de musical, formam casais: Cristiana Pompeu e Cláudio Galvan (abusam do talento e do humor). Stella Maria Rodrigues e Wladmir Pinheiro (que vozes, senhores! Que vozes!), Helga Nemeczyk e Rodrigo Nice (ela com o número musical mais difícil do teatro musical, dando sempre um show!), e, não menos importantes, Anna Bello com Renan Mattos e Juliana Bodini com Victor Maia. Todos ótimos. Sabemos que, com o tempo de apresentação, ficarão melhores ainda. As “pretendentes” ao coração de Bobby, são Chiara Santoro, Joana Mendes e Myra Ruiz. Um trio pra lá de bonito e afinado que deixa o público na torcida por quem irá ocupar o coração do protagonista, mas que conquistam a plateia de imediato.

     Tony Lucchesi na direção musical - músicas e letras de Stephen Sondheim - comanda uma turma de novos músicos, dando valor aos talentos jovens. Victor Maia sempre criativo e competente nas coreografias. Nello Marrese cria um cenário/adereços composto de presentes que são içados pelos atores, preenchendo o espaço. O belo figurino é assinado por Carol Lobato e a luz é de Luiz Paulo Neném. Sabemos que com poucos recursos, o bom é inimigo do ótimo, e o que temos em cena é o necessário para contar a história.

     João Fonseca sabe que com pouco tempo e pouca verba tem que focar nos talentos individuais e nos números musicais para que a emoção seja absorvida pela plateia. Assim, João opta por valorizar os personagens e os talentosos atores que tem nas mãos.  Acerta, como sempre.

     Vejo Company como um dos musicais mais difíceis. As músicas não são para intérpretes principiantes. Nesta montagem temos atores e equipe à altura do desafio. Mas como levar o público ao teatro numa cidade largada, a economia no brejo e a cultura de um povo que acabou? Eis o mistério da fé. Company é para os amantes do teatro, principalmente para fãs de musicais. Corra já pro Sesc Ginástico pois a temporada só vai até o fim do mês de setembro!!

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