terça-feira, 3 de setembro de 2019

CAOS


“Caos” é desordem, confusão e tudo aquilo que está em desequilíbrio. Na “Teoria do Caos”, a ideia é que uma pequena variação nas condições em determinado ponto de um sistema dinâmico pode ter consequências de proporções inimagináveis. A exemplo, o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode provocar um furacão no Texas. Ou ainda, uma gota de tinta vermelha numa lata de tinta branca é o Caos. De 2013 pra cá perdemos a sensação de que controlávamos o nosso mundo. O entorno era uma zona confortável. Por que deixou de ser? Onde foi que perdemos o controle? Sempre houve opinião discordante, mas agora, o que vemos, é o retorno do autoritarismo. Recomendo o documentário “Privacidade Hackeada”, que nos dá uma explicação do momento em que vivemos hoje em dia, no Brasil e no mundo.


Rita Fischer percebeu o caos se formando e, durante um período, escreveu histórias numa rede social, exemplificando seu dia a dia. Daí surgiram os textos deste espetáculo. Tudo verdade. O caos instalado em seu dia a dia, o desconforto, são histórias tocantes como a conversa entre um menino e uma mulher na porta de um mercado; a cadela Futrica, cega; o inferno que é para ser atendido em uma loja de eletroeletrônicos; o médico que não dá a menor atenção ao paciente... o caos nosso de cada dia. O texto nos prende. Faz com que fiquemos aguardando o resultado final positivo de cada uma das histórias. E mesmo que a saída seja só o humor, é nítido que a melhor solução é usar a criatividade e, principalmente, o amor.


Na récita que assisti, Rita dividiu generosamente o palco com a atriz Nathália Duarte, que estava estreando naquele dia, após 10 de ensaio. Uma batalha hercúlea vencida com louvor por ambas. A mudança é para as duas e, mais uma vez, se instala um caos para que se tente um novo equilíbrio. Rita é uma atriz talentosa, rápida no raciocínio e atenta em cena. Acompanhei outros trabalhos, e, neste, Rita está dominando tanto o palco quanto a plateia toda! Nathália é esperta e sabe que a peça será um trampolim em sua carreira. Sem duvida com o exercício, estará cada dia mais à vontade em cena.


Thiago Bomilcar Braga é o diretor, o “olhar de fora” do que está dentro da cabeça de Rita e, certamente, contribui imensamente para colocar ordem no caos que é a montagem de um espetáculo. Na luz, o sempre competente Paulo Cesar Medeiros faz milagres no espaço micro. E Gabi Castro, amiga de Instagram, criou um figurino leve e maleável que dá vida ao caos interior de cada personagem.


Caos – o espetáculo! – é divertido, inteligente, moderno e angustiante (pois não sabemos como resolver os problemas e nem para onde vamos!). Deixa várias perguntas no ar. É um retrato da sociedade nociva e maléfica em que vivemos. A esperança é que temos, no teatro, espaço (ainda) para dar voz às nossas angústias e Rita Fischer falar por nós. Somos todos Rita. Estamos todos angustiados e rindo de nós mesmos o tempo todo.


Independentemente de onde for encenada, Rio, Lisboa, São Paulo, Luanda, esta peça aborda temas do cotidiano de todas as partes do mundo e sua comunicação e identificação com a plateia é imediata. Com apenas mais uma apresentação (dia 09/09 no Midrash, RJ), o espetáculo tem vida longa pois é dinâmico, divertido e, principalmente, toca em várias feridas abertas nos fazendo rir e refletir. Que o caos nosso de cada dia tenha vida curta... E vida longa a Caos – a peça!

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