“Caos” é desordem, confusão e tudo aquilo
que está em desequilíbrio. Na “Teoria do Caos”, a ideia é que uma
pequena variação nas condições em determinado ponto de um sistema dinâmico pode
ter consequências de proporções inimagináveis. A exemplo, o bater de asas de
uma borboleta no Brasil pode provocar um furacão no Texas. Ou ainda, uma gota
de tinta vermelha numa lata de tinta branca é o Caos. De 2013 pra cá perdemos a
sensação de que controlávamos o nosso mundo. O entorno era uma zona confortável.
Por que deixou de ser? Onde foi que perdemos o controle? Sempre houve opinião
discordante, mas agora, o que vemos, é o retorno do autoritarismo. Recomendo o
documentário “Privacidade Hackeada”, que nos dá uma explicação do momento em que
vivemos hoje em dia, no Brasil e no mundo.
Rita Fischer percebeu o caos se formando e, durante um
período, escreveu histórias numa rede social, exemplificando seu dia a dia. Daí
surgiram os textos deste espetáculo. Tudo verdade. O caos instalado em seu dia
a dia, o desconforto, são histórias tocantes como a conversa entre um menino e
uma mulher na porta de um mercado; a cadela Futrica, cega; o inferno que é para
ser atendido em uma loja de eletroeletrônicos; o médico que não dá a menor
atenção ao paciente... o caos nosso de cada dia. O texto nos prende. Faz com
que fiquemos aguardando o resultado final positivo de cada uma das histórias. E
mesmo que a saída seja só o humor, é nítido que a melhor solução é usar a
criatividade e, principalmente, o amor.
Na récita que assisti, Rita dividiu generosamente o palco
com a atriz Nathália Duarte, que estava estreando naquele dia, após 10 de
ensaio. Uma batalha hercúlea vencida com louvor por ambas. A mudança é para as
duas e, mais uma vez, se instala um caos para que se tente um novo equilíbrio.
Rita é uma atriz talentosa, rápida no raciocínio e atenta em cena. Acompanhei
outros trabalhos, e, neste, Rita está dominando tanto o palco quanto a plateia toda! Nathália
é esperta e sabe que a peça será um trampolim em sua carreira. Sem duvida com o exercício,
estará cada dia mais à vontade em cena.
Thiago Bomilcar Braga é o diretor, o “olhar de fora” do
que está dentro da cabeça de Rita e, certamente, contribui imensamente
para colocar ordem no caos que é a montagem de um espetáculo. Na luz, o sempre
competente Paulo Cesar Medeiros faz milagres no espaço micro. E Gabi Castro,
amiga de Instagram, criou um figurino leve e maleável que dá vida ao caos
interior de cada personagem.
Caos – o espetáculo! – é divertido, inteligente, moderno e
angustiante (pois não sabemos como resolver os problemas e nem para onde
vamos!). Deixa várias perguntas no ar. É um retrato da sociedade nociva e
maléfica em que vivemos. A esperança é que temos, no teatro, espaço (ainda)
para dar voz às nossas angústias e Rita Fischer falar por nós. Somos todos Rita.
Estamos todos angustiados e rindo de nós mesmos o tempo todo.
Independentemente de onde for encenada, Rio, Lisboa, São
Paulo, Luanda, esta peça aborda temas do cotidiano de todas as partes do mundo
e sua comunicação e identificação com a plateia é imediata. Com apenas mais uma
apresentação (dia 09/09 no Midrash, RJ), o espetáculo tem vida longa pois é dinâmico,
divertido e, principalmente, toca em várias feridas abertas nos fazendo rir e
refletir. Que o caos nosso de cada dia tenha vida curta... E vida longa a Caos – a peça!
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