Na minha casa sempre se escutou de tudo. De tudo que era
bom, diga-se. Havia rodas de música com amigos, as crianças ficavam na sala
participando. Na casa de praia, reuníamos na varanda. Na casa dos tios, no
terraço grande. Sempre tinha teclado e violão. Outros parceiros apareciam e
completavam a banda. O grupo vocal nunca
teve nome, mas cantaram em festas dos outros, restaurantes, aniversários da
família, fim de semana na região dos lagos... e assim eu fui crescido e criado
dentro das melhores músicas brasileiras.
Comemorando 60 anos do gênero, Iza Eirado convidou Aloisio
de Abreu para escrever uma história de amor em tempos de Bossa Nova. Daí surge,
no teatro I do CCBB esta comédia romântica – O Amor em Tempos de Bossa Nova –
onde a história de um casal, idas e vindas, desde o primeiro olhar até o
reencontro final são embalados por canções, paródias, textos com rima, prosa
poética. Aloisio é craque nisso. Consegue nos apresentar um texto leve e
divertido, com conteúdo, referências históricas e atuais, mantendo o ritmo de curiosidade
da plateia até o fim: será que vão acabar juntos? Qual a música vão usar neste
momento?
No palco a cenografia do mestre José Dias é um telão na frente
com videografismo de João Maia. A projeção não só ilustra como emoldura as
cenas. Figurinos de Tiago Ribeiro vestem com elegância e harmonia o casal. A
luz de Daniel Galvan é bonita, respeitando a projeção e a elegância com
simplicidade do tema.
Na direção musical, Maurício Gueiros nos traz o melhor do
trio da bossa nova: piano do mestre Itamar Assiere, baixo de Zé Luiz Maia e
bateria leve e segura de Diego Zangado. Um tio baterista uma vez me mostrou que
o bom instrumentista é aquele que acompanha a música e não concorre com os
colegas nem com o cantor, e este trio é mais que nota dez. Um deleite vê-los em
cena tocando e homenageando a Bossa Nova.
Na direção, Walter Lima Júnior nos apresenta um espetáculo
bonito, simpático, delicado, leve, engraçado, que presta uma justa e bonita
homenagem aos 60 anos do gênero musical. Destaque para o bonito o início da
história na lua, com os personagens andando em compasso de gravidade lunar e
para os números “banquinho e violão” dos atores na boca de cena.
Iza Eirado vive a mocinha que se apaixona pelo belo rapaz,
vivem um romance, mas aí... no bom estilo voz rouca de Bonnie Tyler com pitadas de Nara Leão, Iza é
carismática, desenvolta e interpreta as canções como se estivesse realmente
vivendo as histórias. Aloisio de Abreu é sempre um show-man. Escreve, canta,
dança e representa como poucos artistas brasileiros fazem. Assisti-lo em cena é
sempre uma aula de elegância, respeito ao colega, bom humor e diversão.
O Amor em Tempos de Bossa Nova agrada muito pela qualidade
do texto, pela calma e pelo tom das interpretações musicais. Não há grito, não
há sofreguidão, não há vibrato, poucos melismas (que aprendemos com o The
Voice). Há clareza, respeito ao som. É uma peça onde os cantores, assim como na
bossa nova de João Gilberto e Nara Leão, cantam para si, em lugar da valorização
de “grande voz” da época de ouro do rádio. O musical diverte o público, que
fica em silêncio, canta baixinho, mas quando é solicitado participa com
vontade! Como já disse, um espetáculo leve e divertido para tempos de nervos à
flor da pele... Viva a Bossa Nova!
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