quinta-feira, 29 de outubro de 2015

KISSE ME, KATE! - O BEIJO DA MEGERA


A primeira palavra que aprendi em Alemão foi Wunderbar. A sonoridade me pegou pela emoção, num misto de graça com palavra definidora: maravilhoso. Aqui, vivemos numa época em que o superlativo é necessário para se valorizar uma emoção. Não se diz mais “ótimo o seu trabalho”, é necessário um singelo “AAAAAAAAADOOOOOOREEEEEEEIIIIIIIIIIIIII” para que se defina, com a realidade esperada, o sentimento. Wunderbar “define” o que é “Kiss me, Kate! O Beijo da Megera”, que estreia esta semana no Teatro Bradesco.

A história do musical, com texto de Sam e Bella Spewack e músicas de Cole Porter (gênio absoluto!), com versão-tradução-obra-prima de Charles Möeller e Cláudio Botelho (M&B), conta a história de um diretor/ator e uma atriz, que tiveram um “lance” no passado, ficando mal resolvido, mas que, agora com os dois trabalhando juntos numa montagem de A Megera Domada, de William Shakespeare, tem a oportunidade de fazer as pazes e resolver o assunto pendente. Nada como "chamar o Shakespeare" quando a coisa não anda boa... (assistindo ao espetáculo, você saberá o motivo desta frase!)

Charles e Cláudio se superam neste espetáculo pois, além de brincarem consigo mesmos, divertindo a plateia ao máximo, dão uma bicada no teatro de revista, no excelente número musical de Chico Caruso e Will Anderson, aliás divertidíssimos!! A economia de ensaios (apenas um mês, como divulgado) não teve prejuízo algum para a qualidade do trabalho apresentado. Lindos os cenários de Rogério Falcão, amparado em telas plotadas, e, tão lindo quanto, o figurino de Carol Lobato, com destaque para as roupas finais da peça, principalmente os vestidos das atrizes. A iluminação é de Paulo Cesar Medeiros e a Direção Musical de Marcelo Castro. Tudo ótimo!

Destaco ainda o número de abertura do segundo ato, com a fantástica coregorafia de Alonso Barros, daquelas que a gente pega o programa pra ler e decorar o nome do artista que deu vida àquele balé. Sensacional! 

O numeroso elenco, unido e talentoso, tem destaque na volta triunfal de Ivanna Domenyco, como Hattie, aos braços da dupla M&B; e Fabi Bang ótima em números musicais com sua Lois. Guilherme Logullo, Leo Wainer, Jitman Vibranovski, Rubem Gabira, Igor Pontes, Leo Wagner, Marcel Octávio, Beto Vendesteen, Augusto Arcanjo, Giselle Prattes, João Paulo de Almeida, Lana Rhodes, Mariana Gallindo, Patricia Athayde, Thiago Garcia e Tomas Quaresma estão também no elenco.

O brilho maior fica por conta de Alessandra Verney e José Mayer que mostram todo talento vocal e atuação neste espetáculo. Ambos estão dedicados, afinados, carismáticos, cúmplices, enfim, tudo que é necessário para que o musical seja um sucesso.

Voltando a dominar a cena carioca, com este novo musical, Charles Möeller e Cláudio Botelho (além desta peça, os musicais “Nine” e “Beatles num céu de diamantes” podem ser vistos no Rio) devolvem ao seu público todo o carinho que receberam ao longo destes últimos anos em que deram uma pausa nas traduções da Broadway e nos ofereceram homenagens aos brasileiros Chico Buarque e Milton Nascimento. Charles e Cláudio, em "Kiss me, Kate! O Beijo da Megera", mesmo com recursos financeiros menores do que o costumeiro para o gênero musical, puderam contar com o que há de melhor, não só na parte técnica, mas também na parte artística, para voltarem a ser os reis dos palcos cariocas, merecidamente.


Uma coisa fica clara depois de assistir ao espetáculo: não há mais espaço para amadorismo quando o assunto é teatro musical. Há que se abolir a necessidade midiática de rostinhos bonitinhos da TV em espetáculos musicais. É necessário dar espaço a atores preparados, que cantem, dancem e atuem com competência, tudo ao mesmo tempo. Em “Kiss me, Kate! O Beijo da Megera” temos isto, o que o torna excelente em todos os sentidos. É Wunderbar (Maravilhoso)! Uma preciosidade!. Viva a dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho!!