quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

MEDIANO

Nasci numa familia tardicional tijucana. A maioria das familias tradicionais tijucana, fruto de militares que comandavam seus exércitos e seus familiares na Tijuca, bairro carioca, educava seus filhos para ter um "futuro" brilhante como funcionário publico, principalmente do Banco do Brasil (Nelson Rodrigues sabia tanto disso que volta e meia um personagem seu vinha de uma TFT - tradicional familia tijucana - e trabalhava no BB) ou algum outro órgão governamental. Fugi à regra depois de ter cursado uma universidade publica e me ter virado Engenheiro Civil para alegria e gloria dos meus pais. Porém, esta alegria durou pouco, pois minha paixão pelos palcos me tornou produtor cultural.

O que isso tem a ver com "Mediano"? Tudo! "Mediano" fala exatamente desta ânsia dos pais em dar um futuro certo aos seus filhos e mal sabem eles que esse futuro "certo" pode corromper uma pessoa e transformá-la no mais corrupto dos politicos brasileiros. Corrompê-la ou aflorar seus desejos de corrupção?

"Mediano" é um texto genial de Otavio Martins tem de tudo que eu gosto: politica, religião, anseios, comédia e tragédia. E não é a grega, é a brasileira mesmo! Na peça, vamos um cidadão da tradicional familia brasileira, que passou num concurso publico, virar um politico "corrompido" pelo meio e depois que seu mundo desaba, por conta de uma maracutaia descoberta (temos todas no curriculo dos politicos brasileiros: compra de votos, verbas superfaturadas, dinheiro na cueca), renuncia de cargo, este se "apega" na religião para dar um cala-a-boca nos seus eleitores e na imprensa que o persegue. Tal e qual os bandidos dos presidios brasileiros, que se convertem em pastores, fazem para receber indulto natalino ou abrandar suas penas. Mas quem vai dizer que esta crença é só pra isso ou é crença mesmo?

Cenário e figurino, de Naum Alves de Souza e Marcello Jornan, e a luz de Wagner Freire, muito bons, estão ali para fazer brilhar Marco Antônio Pâmio, um ator excelente, de primeirissima qualidade que empresa todo o seu talento para dar vida a este brasileiro que merece mesmo ser enforcado em praça pública! A gente chega a rir de ódio do personagem por ele representar tão bem as sujeiras e nojeiras da politica brasileira. Nem é preciso citar nomes de politicos, pois temos presidente, ex-presidentes, governadores, prefeitos que foram acusados de certas politicagens que são muito bem representadas pelo Marco Antônio.

Como maestro nesta peça, Naum Alves de Souza exige do ator entrega total. Com mão firme, deixa o ator livre para criar e apara as arestas necessárias para que a peça ganhe um ritmo alucinante no último terço. Apenas sugiro ao diretor que observe o primeiro terço do espetáculo que por vezes me deixou um pouco cansado. Mas do segundo terço em diante, saravá, que beleza!

Um espetáculo que PRECISA ser visto por todos nós que ainda acreditamos neste país e quem sinceramente, de medianos não temos nada! Ou será que nossa inércia nos faz ser medianos a ponto de deixar que isso tudo ainda aconteça nos dias de hoje na nossa politica?

Espetáculo Obrigatório!