sábado, 28 de maio de 2011

39 DEGRAUS

Nossa casa de Iguaba Grande, na região dos lagos, norte do Estado do Rio, recebia sempre no verão os primos de Juiz de Fora. Em janeiro, a prima mais nova, faz aniversário. Então as festinhas com os vizinhos das casas de veraneio, eram sempre lá. As janelas se abriam de par em par e dava-se tranquilamente para defenestrar um elefante de tão grande que ficava. A maioria das crianças era composta de meninas e o numero de boneca crescia em progressões geométricas durante a festa. Tirando partido do vasto numero de bonecos e de uma janela da sala, eu e minha irmã improvisamos um teatrinho de bonecas. Ficamos do lado de fora da casa e as crianças no sofá da sala. A história? Nem a gente se lembra mais da quantidade de asneiras que falamos, para diversão das crianças. Ora eu mesmo e a minha irmã servíamos de narradores, personagens, saíamos correndo, inventávamos falas, errávamos e as crianças nos corrigiam. Uma festa inesquecível e um teatro memorável.

Está em cartaz no teatro Leblon, “39 degraus”, peça baseada no filme homônimo de Alfred Hitchcock. Um assassinato misterioso envolve, sem querer, um homem que nada tinha a ver com o assunto. Ele, em fuga, se envolve com diversos personagens que o auxiliam e o prejudicam, personagens típicos ingleses, e onde tudo é explicado no final. A tradução e adaptação é de Clara Carvalho e do diretor Alexandre Reineck, com belas contribuições ao popular brasileiro, sem deixar duvidas de q a peça se passa na Inglaterra.

O cenário (direção cênica) é de Cyro Lel Nero, que nos deixou recentemente. Um cenário funcional e inteligente, se prestando, com louvor, aos objetivos da direção e às necessidades dos atores. O figurino de Cássio Brasil são elegantes e também funcionais se adaptando às necessidades dos atores, de trocas rápidas. Tudo isso com a linda luz de Paulo Cesar Medeiros.

Os atores estão todos excelentes. Dan Stulbach com o seu talento de bom moço interpretando com firmeza, Danton Mello se divertindo em cena, Fabiana Gugli dando um show em todas as personagens femininas que interpreta e, não menos importante, Henrique Stroeter, talvez o ator mais exigido da peça, contagiando a todos com sua humildade, naturalidade, carisma, bom humor e imenso talento. É dele, sem sobra de duvidas os melhores e mais divertidos momentos do espetáculo.

Dirigindo com sabedoria, bom humor e competência sem igual, Alexandre Reineck segue uma linha do humor inglês misturado com palhaçadas típicas de Jerrie Lews, e ainda um pouco de palhaçadas nacionais. Ele faz de tudo uma séria brincadeira, um divertimento muito maior para os atores do que para a platéia, que, lógico, embarca na onda vida do teatro.

39 degraus é uma homenagem ao teatro, é o brincar com a verdade, fazer piada do sério, é diversão garantida, que nos deixa de boca aberta com tamanho talentos reunidos a favor da arte de representar. Não perca. É diversão garantida. Excelente espetáculo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

MULHERES ALTERADAS

Que me perdoem todas as mulheres do mundo, e sei que vou tomar pedrada, mas mulher alterada é uma redundância! Qual não é ou qual não está? A verborragia feminina é algo que me impressiona demais! Os homens são um tantinho mais silenciosos, e isso deve irritar profundamente suas companheiras. Lembro da minha avó que, ao telefone com a mamãe, e aos gritos, dizia “Eu to sozinha!” e ao seu lado, seu marido bundão caladinho. Ele não dava uma palavra. Era a própria Pombinha Abelha ao lado do marido. Uma mulher alterada.

Assisti à peça Mulheres Alteradas, no Teatro Clara Nunes. Esta é a adaptação de Andrea Maltarolli (1962-2009) para histórias de Maitena. A argentina Maitena Burundarena tem fãs pelo mundo por conta de com seus quadrinhos sobre o universo feminino e se popularizou através de uma personalidade incomum, aquela loura descabelada roendo unhas. Maitena, a personagem, tem exata noção de quanto pode perturbar o sexo oposto quando se “altera”.

O texto precisa de uma costura melhor. As cenas soltas, que mais parecem mesmo tirinhas, quadrinhos, faz com que pequenas cenas se sobreponham ao todo do espetáculo. Uma leve costura entre as amizades das protagonistas não é suficiente para prender a atenção, por tempo integral do público, que às vezes ficava com um riso amarelo nas cadeiras do teatro.

Talvez por falta de ritmo, a peça tenha se perdido um pouco ao longo do tempo em que está em cartaz e a ausência de Adriane Galisteu, no dia em que fui assistir, deu uma broxada geral no público. Não havia informações na bilheteria sobre a troca de Galisteu pela Ótima e Competente Cibele Larrama, mas a decepção foi grande.

A direção de Eduardo Figueiredo pode ser fiel ao espírito das chages, mas a exploração do meio do palco é constante. Sem o apoio de uma cenografia, o diretor fica limitado. Como sugestão, projeções simples no fundo do palco fariam a peça ficar muito mais interessante.

O elenco formado por Luiza Tomé, Mel Lisboa e Cibele Larrama é competentíssimo e sem duvidas é o ponto alto do espetáculo. As atrizes estão totalmente à vontade em seus papéis e conduzem as cenas e a história da amizade com segurança. Todas se destacam em alguma parte da montagem e todas são muito felizes em suas interpretações. A participação de Daniel Del Sarto é excelente. Faz um adolescente que cativa a platéia e é suporte para as implicâncias com os homens.

A banda formada por uma bateria, um piano e um contra baixo dão o tom do espetáculo e a direção musical da peça é um acerto total.

Os pontos que mereciam mais capricho são o figurino e a iluminação. Claro que esta ultima prejudicada pela alta rotatividade dos teatros de shoppings do Rio, mas o figurino merecia um capricho maior, mesmo se o objetivo fosse imitar as tirinhas. Faltou criatividade tanto nas roupas quanto na luz.

Durante a peça ouve-se diversas e diferentes mulheres rindo por motivos que tocam a cada uma delas. Mas não houve uma gargalhada generalizada, só nas cenas do adolescente e de Mel Lisboa. É uma diversão para todas as mulheres entre 25 e 55 anos, e todos aqueles que curtem ver as próprias mulheres tirarem um sarro das suas alterações diárias!