O Midrash Centro Cultural apresentou hoje, 18/01, a leitura
do texto “Reencarnação”. A peça conta a história de uma “alma boa” que propõe um
levante junto a Deus para que este se explique sobre a ida daquelas almas na
fila para a reencarnação no Brasil de hoje (2020-2021). Esta “alma boa”,
mulher, toma a frente do movimento apático de alguns e conformado de outros. O
texto de Lilian de Mattos e Maitê Coropos bebe na fonte de “A mulher que
escreveu a Bíblia” (Moacyr Scliar) e “Aline Dorel” – personagem de Grace
Gianoukas em Terça Insana, dividindo com o público situações divertidas sobre o
passado da “alma boa”, na história na Bíblia – e de Jesus com Apóstolos – e a
sua importância nos fatos onde não lhe foram dados os devidos créditos à época!
O texto ainda me lembra “A Vida Brian”, do grupo inglês Monty Python, com o
humor cheio de referências religiosas e boas piadas. Aline Carrocino interpreta
com segurança, naturalidade e confiança. É das grandes atrizes da sua geração: canta
lindamente (interpretou Nara Leão) e encanta as crianças (em Luiz e Nazinha); tem
um humor perfeito para este espetáculo. A direção de Diego Moraes respeita o
texto, sabe da importância da mulher como fonte segura de comando e protagonismo
no mundo novo que se abre para todos nesta época pós-pandemia (chegaremos lá em
algum momento) iniciando com a chegada da vacina. Aplausos a todos.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
sexta-feira, 4 de setembro de 2020
A LISTA
O assunto é tão grave e presente que supera todos os outros, seja em lives, rodas de conversas aglomeradas de amigos, vizinhos pela janela, assuntos dos mercados, telejornais e afins. Pandemia. Pois Gustavo Pinheiro, retratista fiel da sociedade carioca, e brasileira, que vem brilhando nos palcos cariocas nos últimos 3 anos, apresenta “A Lista”, peça com a gênia Lilia Cabral, a Pereirão da reprise de Fina Estampa, e a atriz Giulia Bertolli, recentemente no ar em Malhação. Mãe e filha, no nosso mundinho-de-meu-deus, na peça representam vizinhas. A mais jovem oferece ajuda para fazer compras para a outra, grupo de risco do vírus. Pois não é que Gustavo sublinha, exalta, fotograva, expõe, alimenta e evidencia tudo que estamos vivendo neste inesquecível 2020? O jovem tentando mostrar que o conservadorismo, egoísmo e bons modos duvidosos dos mais experientes não servem o novo mundo de solidariedade, compaixão e empatia. Desacordos familiares todos temos. Em “A Lista” se soma isso tudo. Bendita hora em que a moça ajudou a senhora. Ambas precisam daquela simbiose doentia-afetiva, uma vez que, na pandemia, a experiente só tem a outra. A jovem luta para ser dela mesma. Gustavo retrata a vida de agora. Registra o tempo com delicadeza e competência. Guilherme Piva dirige as duas, sabe que tem pouco espaço para trabalhar, uma vez que, agora, o teatro é para a câmera. E acerta nos tons e movimentos. Cenário, luz e figurino em total sintonia com o momento atual: sem luxo e naturalidade. Sonoplastia envolve tudo com a nostalgia que estamos vivendo. Emoção, realidade, carisma são pouco para definir Lilia Cabral. Sua Giulia não foge à regra e tem DNA de talento comprovado. Filha de peixe, peixinho é. Ditado certeiro! Assista a este espetáculo na sua casa, através do ótimo projeto do Teatro PetraGold. Preço acessível e diversão na certa. Viva o Teatro!!
(foto de Cristina Granato)
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020
AUTO DE JOÃO DA CRUZ

A brilhante Inez Viana, conhecedora da obra de Ariano
Suassuna desde 1998, nos apresenta, em cartaz no Teatro FIRJAN SESI, o inédito
texto Auto de João da Cruz. “História de um homem ambicioso que, em busca de
poder e riqueza, vende sua alma ao diabo, comete os mais horrendos crimes”,
como diz o programa da peça. Faço aqui um paralelo ao primeiro parágrafo. Teríamos
nós, e aí me incluo por votar no PT desde sempre, sidos ambiciosos ou ingênuos
por achar que os aliados de bíblia e do boi seriam nossos parceiros para mudar
o país? Auto de João da Cruz é tão atual que estamos vendo no dia a dia pessoas
vendendo sua alma ao “novo diabo”, que há 30 anos parasita o governo, acreditando
nele, em busca de uma melhora para suas vidas. É como disse Mário Lago Filho “um
povo que, quando estava prosperando, achava que estava na merda e que agora,
quando está na merda, acha que está prosperando” ...
Auto da João da Cruz conta a história de um rapaz que
encontra poder e riqueza fácil pedindo apoio do diabo. Seu anjo da guarda o protege
o tempo inteiro. O rapaz comete vários e graves crimes. E, no fim, como um bom
Auto, o julgamento acontece. Numa pesquisa rápida, aprendo que “Surgida na Idade
Média, na Espanha, por volta do século XII. De linguagem simples e extensão
curta os Autos, em sua maioria, têm elementos cômicos ou intenção moralizadora.
Suas personagens simbolizam as virtudes, os pecados, ou representam anjos, demônios
e santos.” Em Auto de João da Cruz temos todos estes elementos com muito humor brasileiro
e recheado de referências que estamos vivendo em nosso dia a dia.
No palco, o cenário de Nello Marrese deixa espaço
aberto para as mais variadas cenas. Dois grandes arbustos de galhos secos
mostram claramente que a peça se passa no nordeste brasileiro. Destaque para os
cajados de bambu que viram caminhos e encruzilhada. O figurino de Flávio Souza abusa
de tecidos leves e de algodão com ótimo resultado. Iluminando tudo a talentosa,
e em franca ascensão, Ana Luiza de Simone. Uma luz linda. Destaque também para
a direção de movimento de Denise Stutz.
O elenco, parte da Cia OmondÉ, que com este
espetáculo celebra seus 10 anos de grupo, é encabeçado por Zé Wendell. Todos os
elogios a ele por este trabalho são válidos. Zé Wendell tem neste espetáculo sua
melhor atuação em peças de teatro que eu já o tenha assistido. Muito seguro,
entregue de corpo e entranhas, seu João da Cruz é de uma verdade contagiante.
Prêmios virão. Junior Dantas ótimo como Anjo da Guarda, André Senna como Cego e
o diabo, Tati Lima como Retirante e mãe
de João da Cruz, Leonardo Brício como Guia, Elisa Barbosa como a doce e forte
Regina, Luiz Antônio Fortes como Anjo Cantador (numa cena linda cantando para
dizer umas verdades a João da Cruz) e, não menos importante, Iano Salomão como
Peregrino, pai e Deus, formam este elenco afiado, competente e talentoso.
Inez Viana assina a condução da Cia OmondÉ e de Auto
de João da Cruz. Uma direção segura, ciente do que quer mostrar, homenagear não
só Ariano Suassuna, como mostrar a realidade da vida atual através de uma grande
metáfora teatral. Inez faz de suas marcas um balé. Destaque para o presépio
feito com atores e cajados, as cenas de encruzilhada, as idas e vindas de João
da Cruz ao inferno, a utilização da boca de cena aproximando o público, e o
emocionante final onde a plateia decide o destino do protagonista. Uma direção muito
forte, intensa, sábia, dedicada e consciente.
Corra já para o Teatro FIRJAN SESI para assistir Auto
de João de Cruz. Certamente você sairá de lá pensativo e leve. As gargalhadas
são muitas, mas a reflexão intensa. Até que ponto nós vendemos nossa paz ao
diabo em busca de algo fácil e rápido? Façamos todos uma autocritica sobre como
estamos pensando nosso país, para onde queremos que ele vá. Sejamos todos
nossos próprios julgadores, nossos anjos da guarda e nossos desafiadores.
Abramos nossos corações para o Teatro do Nordeste, pois é de lá que virá o próximo
salvador da pátria. Afinal, somos um país que acredita nesta figura. Que venha
montado em seu cavalo branco e que traga muito teatro, arte, alegria, diversão
e realização de sonhos. Vida longa ao Auto de João da Cruz e aplausos à cia
OmondÉ pela beleza de seus espetáculos ao longo dos seus 10 anos.
terça-feira, 4 de fevereiro de 2020
NOVOS BAIANOS
Sentado na poltrona do teatro, meu programa predileto, pensei:
quem está fazendo boa música no Brasil de hoje? Quem tem carreira construída,
sólida, com melodia de qualidade, letras sonoras com conteúdo? Alguns nomes: os
fenômenos Duda Beat e Tiago Iorc, a voz do norte de Gaby Amarantos, os jovens
talentosos Jão e Maria Gadú, o rock de Pitty e As Bahias e a Cozinha Mineira, o
extravagante Johnny Hooker. Uma geração mais acima temos ainda compondo com nível
alto Carlinhos Brown, Vanessa da Mata, Ana Carolina e Isabela Taviani. E é
preciso incluir neste pensamento os mega sucessos dos artistas Anitta e Pabllo
Vitar que exportam o Brasil dançante de bundas e molejo. O Tio Sam está querendo
conhecer a nossa... raba! Não sou apreciador de funk ostentação sexual – que gruda
na cabeça – nem tampouco sertanejo de um acorde só com pitadas de sofrência e
rimas fáceis e pobres.
Veio de São Paulo, com temporada de sucesso e algumas
indicações a prêmios, o musical Novos Baianos, em curta temporada carioca no
Teatro Riachuelo. O bom texto de Lucio Mauro Filho faz um recorte na vida dos
principais integrantes do grupo. Ficamos sabendo como se reuniram, onde
moraram, quantos filhos, quais musicas fizeram, como ganhavam a vida e,
principalmente, invejamos a sua liberdade e amor à música. Se em tempos de ditadura
eles eram livres e faziam músicas maravilhosas, onde foi parar aquele brasil
musical de alto nível? Ausência de referências? Não. Emburrecimento da
população? Talvez. Os tempos mudaram. Eis aqui um registro cultural da época.
Dirigindo este ótimo musical, Otávio Muller opta por uma
liberdade cênica, pois tem em mãos talentos novos da arte cênica, provando que mais
vale um encantamento visual pela simplicidade e valorizar as vozes e a história,
do que se basear em firulas tecnológicas para contar uma história onde os protagonistas
amam o simples. Destaque para a cena das mulheres cantando na boca de cena e
Baby atravessando um disco voador. Ah, e é emocionante sentir o mar passando
por sobre as cabeças da plateia e virando céu azul no palco.
A direção de arte, cenário e figurino de OPAVIVARÁ! merecem
todos os aplausos. Roupas coloridas com bom gosto, cenário simples e criativo,
com destaque para as redes, o disco voador, as lampadinhas de led e os
mini-trios-elétricos. Harmonia visual com elegância e talento. Na luz, Monique
Gardemberg e Adriana Ortiz dão show. Vale destaque também a coreografia de
Johayne Hildefonso e Gisele Bastos.
Ninguém melhor que Davi Moraes e Pedro Baby na direção
musical. Frutos do amor livre, nascidos em berço musical, têm no DNA, e ainda
pulsa nas veias, o que de melhor tem a Música Brasileira. A reprodução fiel das
músicas, do jeito que aprendemos a cantar, sem firulas e sem medleys, ajuda a
contar a história e embeleza o espetáculo.
O ótimo elenco tem Ravel Andrade como o poeta e narrador da
peça Luiz Galvão, Barbara Ferr linda e talentosa se emprestando para Baby
Consuelo (canta que é uma beleza!), Felipe El como Moraes Moreira, Filipe Pascual
como Pepeu Gomes, Gustavo Pereira como Paulinho Boca de Cantor, Julia Mestre
como Marilhona, Clara Buarque como Leilinha, João Moreira como Dadi, Miguel
Freitas como Jorginho Gomes, Mariana Jascalevich como Marilhinha, João Vitor
Nascimento como Gato Feliz e Beiço como Chacrinha. Um elenco unido, seguro, que
canta bem, atua com competência e, acima de tudo, tem grande comunicação com o
público.
Chorei bastante durante a peça. Cantei quase todas as
músicas. “Acabou Chorare”, número musical logo após a citação de João Gilberto,
padrinho e professor da turma, foi um vale de lágrimas! Lágrimas de alegria, “saudade
do que não vivemos”, ânsia que esta onda nefasta passe logo... E tudo acabou em
“Besta é Tu” e saímos do teatro dançando. Corra pro Teatro Riachuelo e não
perca este ótimo musical sobre o que há de melhor na nossa música. Aplausos de
pé.
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