quinta-feira, 29 de julho de 2010

A GAIOLA DAS LOUCAS

Historinha simples: casal homossexual, dono de uma boate de shows de transformistas, tem que se virar nos 30 para receber a familia tradicionalissima da namorada do filho. Logo, um deles pede para que o mais afetado suma, o que nao acontece, obiviamente, e entao, tem-se a comédia no palco.

"A Gaiola" é hoje um dos melhores espetáculos de entretenimento da cidade. Tem dança, tem música boa, tem artistas famosos, tem riso e se vc for um pouco emotivo, dá até pra secar uma lagrima abusada. Confesso que aquele amor entre duas pessoas, entre dois pais com o filho criado conforme manda o figurino, apesar de serem dois homens, me comove e faz pensar sobre o futuro dos homossexuais. Até bem pouco tempo, não se falava no assunto. Depois, falava-se à boca miúda. Num passado muito proximo, cansamos de ver artistas internacionais com mais idade "sairem do armário" para espanto das nossas avós. Hoje o homoafetivo está em novela, em programa de talentos e em reality shows. Mas... e daqui a uns 40, 50 anos? Será que vamos nos acostumar a ver o que no passado era chamado ofensivamente de "bichas velhas" andando normalmente na rua sem serem apontadas como "objeto de zoológico"? Quer muito estar vivo para saber como será a vida na Terra onde os homoafetivos serão tratados como seres humanos e não aberrações da natureza. Oremos.

Voltando à peça, ao texto da comédia foram acrescidos números musicais e agora temos rodando o mundo não só a peça, mas o Musical A Gaiola das Loucas. Imagine se em cada cidade os produtores pegassem os numeros musicais dos transsexuais locais e levassem estes numeros ao palco por uma temporada? Não seria o máximo? Pois nao é assim. Infelizmente. Não sei se o objetivo do autor do musical original era esse, mas deveria ser. Afinal a boate "A Gaiola das Loucas" seria um lugar para os shows mais chiques e glamoursosos da cidade. Nesta montagem, no Rio, senti falta disto. Da brasilidade dos números musicais. É muito can can. A coreografia é quase toda centrada ao redor do fosso da orquestra. Imagina se uma bicha daquelas cai em cima dos músicos?

O figurino do Claudio Tovar, eu já disse faz tempo, desde o ensaio aberto, que era para Prêmio Shell. E ele está indicado. A luz, infelizmente não sei de quem é, mas é correta e bonita. O cenário da Clivia Cohen, competente cenógrafa, tem alguns pontos que me deixaram, digamos, inquieto na poltrona. Na casa dos donos da boate, por exemplo, faltou "a cara da riqueza" (como diria Hugo Gloss, personagem do Twitter). Gosto muito da cortina de lurex da boca de cena e de um detalhe colocado nos reguladores laterais e nas bambolinas, que têm uma tira de LED que muda de cor nas cenas. Ja o painel de LED ao fundo do palco da boite Gaiola, onde ocorrem os numeros musicais, as vezes falha durante as cenas e prejudica o trabalho da cenógrafa.

No palco Miguel Falabella e Diogo Vilela estão levando ao publico o que eles querem ver: Miguel e Diogo. Este ultimo se sai um pouco melhor pela sua composição, seu trabalho de corpo, voz e comportamentos de mulher. Ambos cantam muito bem, suas vozes são elegantes e afinadas. Diogo, que já canta em vários musicais, como em Cauby Cauby, empresta todo o talento de ator de musicais para a Gaiola. Na parte cômica da peça, Jorge Maya rouba a cena geral. Desde sua primeira entrada até sua última aparição a platéia cai na gargalhada. UM SHOW! Merecia ser indicado para um premio de ator coadjuvante. Completam o elenco, e também o côro vocal, Silvia Massari e Mirna Rubin, divertind0-se no palco com seus papéis.

A trilha sonora e a direção musical da peça é também outro show. Impossivel nao sair com uma ou outra melodia na cabeça. Os musicos são excelentes.

E, não menos importante, a direção do espetáculo, nas mãos dos competentes Miguel Falabella e Cininha de Paula, é agil e cria muitas vezes no palco uma bela fotografia, que agrada ao publico onde quer que estejam sentados. Sabe-se que muitas vezes temos que apelar para o óbvio no teatro, como na cena do jantar onde numa longa mesa só temos pessoas sentadas em um dos lados, e fica engraçado pois parece que estamos diante de uma entrega de diplomas numa colação de grau. Mas, fazer o quê? É a licença poética para se contar esta história divertida.

Se você ainda não viu "A Gaiola das Loucas" corra para o Oi Casa Grande agora e compre já seu ingresso. É só até domingo... por enquanto. Tomara que voltem em breve.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Blog Bom!

Amigos, está no ar um novo blog que irá fazer críticas de teatro do Eixo Rio-SP.

Recomendo uma visita!

http://claudiogonzagacriticateatral.blogspot.com/

Abraços,

quarta-feira, 14 de julho de 2010

INDICADOS AO PRÊMIO SHELL 2010

FONTE: O GLOBO

A comissão julgadora do Prêmio Shell revelou as primeiras montagens indicadas à sua edição de 2010.Numa lista que contempla as peças encenadas no primeiro semestre do ano no Rio, o destaque fica por conta de “Tomo suas mãos nas minhas”, que recebeu o maior número de indicações, quatro, ao todo: melhor ator (Roberto Bomtempo), melhor atriz (Miriam Freeland), cenário (Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque) e iluminação (Maneco Quinderé).

“Broadway” no páreo
As adaptações de espetáculos encenados na Broadway não deixaram de figurar entre os indicados. O musical “Gypsy” concorre em três categorias: Totia Meireles disputa o troféu de atriz, e, por melhor figurino, concorre Marcelo Pies. O espetáculo ainda foi indicado na categoria especial (Flávio Salles e Janice Botelho) pela remontagem, pela adaptação e pela criação das coreografias. Outro sucesso da Broadway que concorre este ano é “A gaiola das loucas”, indicado ao prêmio de melhor figurino, de Cláudio Tovar.As indicações por melhor direção no semestre foram para Christiane Jatahy, com a peça “Corte Seco”; Inez Viana, por “As conchambranças de quaderna”; e Gilberto Gawronski, pelo espetáculo “Dona Otília e outras histórias”.Em janeiro serão conhecidos os indicados do segundo semestre e, no início de 2011, os vencedores do Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro.

domingo, 11 de julho de 2010

TANGO, BOLERO E CHACHACHA

A minha paixão pelo teatro começou por conta de "O Mistério de Irma Vap". Passado um tempo, a paixão voltou forte quando vi "Os Monólogos da Vagina". Depois dessas duas peças, num dia de domingo, início dos anos 2000, fui assistir aquela comédia que todos falavam maravilhas: "Tango, Bolero e ChaChaCha". O teatro era o Ginástico e só tinha lugar no balcão. Lá fui. Ao final da peça, a paixão, definitivamente estava instalada. Essas três peças são as responsáveis por definir que o teatro é e será eterno na minha vida.

E não é que a peça está de volta? Pois sim, lá no Teatro Clara Nunes. Do elenco da primeira versão só o Edwin Luisi está no palco. Mas se não fosse com ele, não teria a menor graça. Edwin ainda é Lana Lee com toda graciosidade, força, garra e trejeitos de transsexual. Devido a esse nosso mundo agitado, Edwin precisa estar acima do normal, quase uma caricatura de si mesmo. E ele chega lá. É um grande ator. Sabe bem que estar "uma oitava acima" faz parte do que a platéia de hoje em dia, menos exigente, porém mais pobre de cultura, precisa para se divertir.

Maria Clara Gueiros, divertidissima, sabe aproveitar cada palavra do texto para tirar qualquer piada. E as pessoas vão lá para vê-la falar seus bordões conhecidos do programa de humor aos sábados. E se não tiver bordão, a platéia os grita até ele falar! Marcia Cabrita é hilária, totalmente à vontade num papel que aprendeu muito bem no "Sai de Baixo". É recebida pelo publico com gargalhadas. Carlos Bonow defende-se muito bem, com ótimo sotaque italiano e dando o suporte que Lana Lee, quer dizer, Edwin, precisa para brilhar. Miguel Romulo está crescendo como ator. É um grande garoto, terá carreira longa, só não precisa mostrar a bunda! Jorge Fernando já faz isso e o teatro brasileiro não comporta duas bundas concorrentes!!! E isso é uma piada, não é uma critica!! Pode mostrar a poupança a vontade que dá ibope.

O cenário do Marcelo Marques fica prejudicado pela falta de espaço do Teatro Clara Nunes. A parte da sala da casa da familia está muito bem aproveitada, mas quando muda o ambiente, ao fim da peça, os recursos cênicos das cortinas e candelabros, embora belissimos, conseguem dar o ar de casa de shows, mas o resultado é menos satisfatório. E sendo ele mesmo o figurinista, as roupas estão bem confeccionadas, exageradamente lindas para Lana Lee e com algumas "licenças poéticas" como o cachecol no amante italiano que no verão carioca torna-se desnecessário e um ou outro vestido de noite para a personagem de Maria Clara que fico pensando aonde ela iria vestida assim, se num jantar no Golden Room do Copacabana Palace ou uma recepção para um embaixador estrangeiro. O glamour do Rio ja acabou faz tempo, portanto aquela roupas hoje em dia em nossa cidade só mesmo no teatro!

A direção do grande Paulo Afonso de Lima é sempre competente. Aproveita todo o material que lhe é apresentado para transformar tudo em comédia. Usa e abusa de marcas rígidas, cômicas e necessárias. Percebe-se o carinho que ele tem por esta peça, as contribuições para atualizar o texto e a vontade de que tudo dê certo. Claro que também fica prejudicado pelas limitações que o espaço cênico do palco do Clara Nunes impõe. Tanto é que antes do fim da peça tem que utilizar a cortina de boca de cena para trocar o cenário e com isso cria um numero de mágica para divertir a platéia, mas... Fazer o que? As limitações dos teatros são os calos nos sapatos das produções hoje em dia no Rio. Sugiro, que dê uma atenção ao número final da peça, pois algumas vezes não entedemos o que está sendo cantado. E aí, o "grand finale" que todos esperam perde um pouquinho a força.

Deixei por ultimo o texto de Eloy Araujo. Uma das minhas peças de teatro favoritas, como disse no primeiro parágrafo. Gosto desse vaudeville, acho a peça inteligente, bem construida, cujas confusões surgem quando se ouve conversa atrás da porta, ou quando se pensa que a outra parte já entendeu o que está sendo dito, quando o dito é meio-dito. Muitas pessoas hoje em dia não entenderão que dizer "entendido" é se dizer gay. A palavra perdeu força com o tempo, mas a peça nunca foi tão atual, e fácil de ser compreendida, como agora é. O texto envelheceu, mas como canta Danilo Caymmi, "...vinho guardado, é bem melhor, tem mais sabor".

"Tango, Bolero e ChaChaCha" é o que há de melhor no gênero comédia brasileira. Uma referência. Ainda temos o prazer de poder reviver um dos grandes momentos de Edwin Luisi no teatro. Abusadamente digo que esta peça é uma das melhores comédias de todos os tempos. Imperdivel.