sexta-feira, 10 de abril de 2015

Salve Bárbara!

Minha homenagem a esta Dama do teatro brasileiro, Bárbara Heliodora, que nos deixou hoje.
(foto de Guga Melgar)


quarta-feira, 1 de abril de 2015

O JOVEM FRANKENSTEIN


Faz tempo acompanho as montagens de teatro da Uni Rio. Algumas foram resultado dos trabalhos finais de curso de diretores e atores. Todas ótimas. Lembro de “Deus”, de Woody Allen, que gostei muito. Ainda dou risadas de uma menina andando de “velotrol” pelo palco, para entregar uma carta. Gargalhadas na época! Teve “Roda Viva”, única montagem autorizada por Chico Buarque, mas que ficou restrita à universidade. “A Casa de Bernarda Alba”, de Garcia Lorca, tinha um cenário muito interessante, um pano grande saindo do teto até as cadeiras no chão, onde as atrizes bordavam e costuravam coisas. “Ralé”, de Maxim Gorki, o cenário eram andaimes.

Se dessas montagens saiu algum ator que “garrou” fama, não sei. Mas tinha a certeza de que os espetáculos apresentados eram ótimos e revelariam nomes. Estamos falando de um período entre 1998 e 2001. Depois disso, fiquei muito tempo sem retornar ao teatro da Uni Rio.

Ano passado fui levado a ver “The Book of Mormon” e re-descobri o teatro da Uni Rio. Recordei as ótimas montagens que vi naquela época. Até a mídia se rendeu ao sucesso do “Book”. Foi então que notei ter perdido grandes espetáculos estudantis, do trabalho que vem sendo feito desde 2007, pelo Rubens Lima Jr. Perdi “Spamalot”, “Tommy – Opera Rock”, “The Rock Horror Show”, “Cambaio”, “Canções para um amor perdido” e “Canções para um mundo novo”… céus... devem ter sido ótimos.

Agora em 2015, não podíamos esperar nada além de mais um novo fenômeno. E é disto que estamos diante, novamente.

Está em cartaz no teatro da Uni Rio “O Jovem Frankenstein”, com texto original de Mel Brooks (gênio da comédia americana) e Thomas Meehan, adaptado com perfeição e atualidade por Alexandre Amorim. Diz aquela famosa enciclopédia da rede mundial, que a história deste musical é assim: “Ao receber o testamento de seu avô, o professor universitário Dr. Frederick Frankenstein faz a viagem que mudará sua vida: vai à Transilvânia para reivindicar a herança. Ao chegar, é recebido um corcunda vesgo e a sexy assistente arrumada para Frederick, eles vão para o castelo de Frankenstein e são recebidos por uma “serva assustadora” de seu avô. Após uma exploração noturna, Frederick encontra o livro intitulado "Como Consegui", de seu avô, e inicia uma aventura para realizar o maior dos experimentos: dar vida a um tecido inanimado”. Ou seja, dar vida ao monstro mais famoso dos tempos do cinema de terror.

Ótima a proposta de passar inicialmente todas as referências que Frankenstein inspirou, tanto em cinema quanto em desenhos animados, mostrando que o monstro agrada gregos, troianos, novos e velhos.

A cenografia é assinada por Cris de Lamare, com quem tive o prazer de trabalhar na Tv Globo. Ótimas as soluções dos tecidos plotados, escadas e máquinas. Mas o que nos deixa de boca aberta é um boneco gigante, verde, iluminado com luz negra. Ótimos adereços de Ricardo Barboza e Silas Pinho. No figurino, João de Freitas Henriques também não deixa por menos e veste com perfeição e composição de época. A luz de Anderson Ratto, certamente foi prejudicada pela falta de estrutura do teatro da Uni Rio. É competente, mas falta iluminar os painéis do fundo do cenário, que são importantes para a composição dos ambientes.

Destaque para o excelente trabalho da coreografia Adriana Salomão, cujo número de sapateado é aplaudido com louvor pelo público. A Direção Musical, de Marcelo Farias é um digna de prêmio, se não fosse este um espetáculo universitário! A quantidade de músicos envolvidos, na verdade uma orquestra, certamente não caberia num palco da Uni Rio, mas no João Caetano, quem sabe?

Impossível citar todo o elenco. Perdi a conta de quantos são em cena. Uns 30? Mas destaco o brilhante Igor, interpretado por Bruno Nunes. Anotem este nome. Aplausos também para Luiz Gofman, que certamente estará num musical profissional em breve. Aplausos para Flora Menezes, que faz Elizabeth Benning. Hilária, canta bem, uma voz e presença cênicas muito bem explorados. Ainda no elenco principal, Ester Dias interpreta Frau Blucher, e Carol Pita e Júlia Nogueira se revezam no papel de Inga, a assistente.

Serei injusto em não citar os demais do elenco, bailarinos e ensemble. Perdoem este pobre blogueiro. Mas sintam-se aplaudidos de pé.

Rubens Lima Jr é mestre. É dos grandes. Sábio, professor, generoso, entende como ninguém de musical, de teatro. Está no lugar certo: uma universidade, ensinando a quem está se dedicando a estudar artes cênicas, com um mestre, em todos os sentidos, da arte de interpretar. Com "O Jovem Frankenstein" está a prova cabal de que Rubinho merece todos os nossos aplausos e agradecimentos por levar atores/estudantes a realizar muito mais do que musicais com grandes patrocínios não conseguem. Rubinho faz com recursos pequenos um musical extraordinário. Se igualando ao sucesso do “Book”, de 2014. Obrigado, Mestre! Seus espetáculos são uma aula de bom gosto, de bom teatro, de como fazer um grande sucesso.

A temporada na Uni Rio termina dia 05 de abril. (Mas já li que vão para os teatros da UFF e UERJ). Talvez não dê tempo de você assistir, mas, faça um esforço. Busque informações, a peça certamente irá para algum outro teatro do governo, com entrada franca, e você vai poder assistir. Veja o bom musical de teatro, feito com o talento de jovens atores, cuja energia, o conjunto, o amor à arte de representar, a vitalidade, estão ali, diante dos nossos olhos. Que garra! Viva o projeto Teatro Musicado, Viva o teatro universitário brasileiro!