quarta-feira, 26 de junho de 2013

Prêmio Shell 2013 - indicados primeiro semestre

O Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro divulgou os espetáculos indicados no primeiro semestre em nove categorias. Eles concorrerão com as indicações do segundo semestre, que serão divulgadas no final do ano. Os vencedores serão anunciados de 2014. Aos indicados, parabéns!!!

Autor 
Julia Spadaccini por "Aos Domingos" 

Direção 
Isabel Cavalcanti por "Moi Lui" 
Rodrigo Portella por "Uma História Oficial" 

Ator 
Ricardo Blat por "A Arte da Comédia" 
Thelmo Fernandes por "A Arte da Comédia" 

Atriz 
Camilla Amado por "O Lugar Escuro" 
Suely Franco por "As Mulheres de Grey Gardens - o Musical" 

Cenário 
André Sanches por "Vestido de Noiva" 
Rogério Falcão por "Como Vencer na Vida sem Fazer Força" 

Figurino 
Antônio Guedes por "O Médico e o Monstro" 
Marcelo Pies por "Como Vencer na Vida sem Fazer Força" 

Iluminação 
Renato Machado por "Vestido de Noiva" 
Tomás Ribas por "Moi Lui" 

Música 
Gabriel Moura por "Cabaré Dulcina" 
Rodrigo Penna por "Edukators" 

Categoria Inovação 
Marcus Vinícius Faustini pelo conceito e proposta do "Festival Home Theatre"

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A PEÇA DO GORDINHO


Preciso perder 6 kg. Não só por estética, mas por saúde. Não consigo. Preguiça mesmo. As vezes caio de cabeça numa academia, mas o namoro dura pouco. Não aguento mais do que 4 ou 5 meses. Depois, sedentarismo pelo mesmo período. Nasci assim, cresci assim, vou ser sempre assim... Tive uma infância voltada para a natação. Foram 15 anos entre competições em fim de semana e treinos diários manhã e tarde... Me deu uma gastura desse assunto “exercício”. Talvez esta seja a razão da preguiça... Então, entro e saio de dietas, mas como viajo muito a trabalho, como fazê-las? Eis o mistério da fé.


Sou criança. Minha casa é decorada com personagens de desenhos animados, bonecos de Bob Esponja, Pernalonga, Smurfs, Simpsons, Superamigos. Quando vi a chamada de peça num vídeo postado no facebook, me identifiquei de imediato. Sou desses. Escondo bem as gorduras com técnicas de vestimenta. Mas, como todo ser humano, preciso perder quilos e finjo não saber como. Tá, sei, mas pula essa parte.


Agora em cartaz no Teatro dos Quatro, no Shopping da Gávea, assisti na estreia, no Espaço Sesc, Copacabana, “A Peça do Gordinho”, com texto e concepção de Marino Rocha. No vídeo de apresentação e nos agradecimentos da estreia, ele conta ter participado de 72 reuniões para conseguir patrocínio e depois da 69ª veio o primeiro “sim”. Perseverança. Tudo que um gordinho precisa para emagrecer e realizar seu sonho. Marino nos conta, na peça, a saga do menino para perder peso. Em casa o exemplo do pai gordinho e as deliciosas guloseimas da mãe em nada o ajudam. Embora haja sempre a preocupação com o aumento de tamanho do menino. Então, Guto, o menino gordinho, parte em busca deste universo das comidas que não engordam. Vai ao médico que embute naquela cabecinha um mundo mágico, bem ao estilo dos meninos, onde o objetivo é libertar a humanidade das torturas da estética. Uma maléfica senhora criou as lojas de fastfood e, ao mesmo tempo, as academias, para que o pingue-pongue, estica-engorda dos humanos fique sempre ao seu controle. O que o menino, ao entrar neste mundo imaginário, se cerca de amigos novos, cada um com sua “força” pessoal para detonar a maléfica, e conseguirem a formula dos alimentos que não engordam.


Marino Rocha se cercou dos melhores profissionais do mercado teatral: para ajudá-lo no texto, Carla Faour, indicada e premiada autora, contribui com a supervisão e Flavia Quaresma contribui na consultoria em alimentação e culinária.


Rafaela Amado dirige o espetáculo totalmente voltado para o universo infantil, explorando o que de melhor cada personagem e ator pode acrescentar para contar a história. Mas a identificação dos adultos, importantíssima para que levem seus filhos e curtam o espetáculo, é muito bem explorada pela direção e atores. O cenário de Ronald Teixeira, com portas de geladeiras andantes é um achado! Muito criativo. O figurino de Bruno Perlatto e Giovanni Targa é claramente o universo das crianças, sem faltar nada: do lacinho rosa à mochila prata, cada personagem com sua cor bem definida, faz o espetáculo ter um colorido pensado mesmo para o universo infantil. A luz de Luiz Paulo Nenen tira partido das cores e amplia mais a beleza da peça. Destaque também para a trilha sonora original, de Lucas Vasconcelos e a participação na canção tema da peça, interpretada por Leo Jaime.

O elenco é com o Marino Rocha fazendo otimamente o gordinho Guto; Ana Baird como a maléfica Dona Rata; Anna Bello como a mãe; Beto Vandesteen como o pai e o amigo Sinfônio; Alexandre Barros como o personagem Garoto; e Daniela Fontan, hilária, é a mocinha antenada da turma de crianças, como Diva Syl. Um ótimo elenco, todos divertidos, à vontade para entrarem no universo infantil e contagiarem as crianças e os adultos.


Um espetáculo voltado para o universo dos meninos, garotos. Mas tenho certeza que as meninas, acostumadas aos espetáculos de princesas, vão adorar se divertir com a saga dessas crianças. Não posso deixar de destacar a contribuição do produtor associado: Pablo Sanábio. Conhecido sobre as suas ótimas ideias para espetáculos, montou a sua produtora: “O Menino e as Ideias”, mais original impossível!

Alugue uma criança, se vc não tiver a sua, ou dê-se ao direito de, por 50 minutos, ser uma delas e assista “A Peça do Gordinho”. Diversão garantida!!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

SIMPLESMENTE EU, Clarice Lispector



Tenho pouca intimidade com Clarice Lispector. Assisti algumas entrevistas, li contos, mas sempre gosto muito do estilo e da forma como Clarice consegue, brilhantemente, usar palavras incomuns para definir objetos, sentimentos, situações. Um dos meus contos favoritos é o “Feliz Aniversário”, que está na coletânea “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século XX” (Ed.Objetiva) que ganhei de Natal há 5 anos reli algumas vezes.

Está de volta ao Rio, o exemplar espetáculo “Simplesmente Eu, Clarice Lispector”, no Teatro Fashion Mall, em São Conrado. Aliás, duas salas muito confortáveis, onde quem ganha, sempre, é a platéia. O espetáculo reúne entrevistas de Clarice, com belos exemplos de sua literatura. Como diz no programa, “o espetáculo mostra a trajetória desta mulher (Clarice) em direção ao entendimento do amor.” Diz mais ainda: “...seus personagens dialogando sobre vida e morte, criação, Deus, cotidiano, palavra, silêncio, solidão, entrega, inspiração, aceitação e entendimento”. Ora, o que mais posso acrescentar? Fiquei muito tocado ainda no final da apresentação quando Beth faz uma declaração de amor à vida, à solidariedade e ao teatro.

Tudo já foi escrito e falado sobre este espetáculo-exemplo. Elogiar mais uma vez seria “chover no molhado”. Mas não posso deixar de fazer comentários favoráveis a este espetáculo que, para mim, foi uma aula de elegância.

O cenário é criativo e clean ao mesmo tempo. Mérito de Ronald Teixeira e Leobruno Gama. Clarice e suas personagens entram e saem de cena através da imensa cortina de fitas de cetim pérola. Uma poltrona e um recamier claros, completam o espaço. Ótima sacada também é a projeção nas fitas, criação de Fabian e Glaucio Ayala editou. O figurino de Beth Filipecki é excelente, cores fortes como a personagem. Vermelho contrastando com o cenário branco. A luz de Maneco Quinderé é sempre uma beleza.

Beth Goulart é Clarice Lispector. Isso não é uma composição. É uma incorporação! Mão, gestos, tiques nervosos, língua presa (aplausos para Rose Gonçalves), pausas, ansiedade contida. Beth é. Todos os predicados favoráveis e belos podem ser escritos aqui. Nenhum chegará ao ponto de definir o talento e a beleza desta atriz, que é uma das minhas favoritas faz tempo. Beth “prega botão, chuleia e faz bainha” nesta costura deste espetáculo. Adaptou, interpreta e dirige. A supervisão de Amir Haddad auxilia, com “o olhar de fora do palco”, o ritmo da peça.

Uma produção impecável da Self Produções Artísticas com a mão certeira de Pierina Morais cuidando de tudo com carinho e dedicação.


Assim como a Coca Cola não para de anunciar na TV, mesmo sendo a marca mais famosa do mundo, não elogiar e não comentar sobre “Simplesmente Eu, Clarice Lispector” seria estar de fora da consagração que esta peça, há cinco anos em cartaz, merece. Todo meu carinho à Beth Goulart (e à sua família que gosto muito), minha admiração pela competência profissional de todos os envolvidos. 

Se você ama teatro, se está disposto a ser envolvido por uma qualidade, beleza, competência e sabedoria, corra já para lá enquanto a peça estiver em cartaz e não perca esta oportunidade. Um exemplo para todos nós.