segunda-feira, 25 de junho de 2012

O Mágico de Oz, Não sobre Rouxinóis e Um Homem na Lua


A temporada teatral do Rio está com tudo. Temos espetáculos de excelente qualidade para todos os gostos. Sorte de quem gosta desta arte. Sou um deles. Tive o prazer de assistir a 3 espetáculos que considero indispensáveis para quem estuda, aprecia e gosta de teatro.

Em cartaz no Teatro João Caetano, “O Mágico de Oz” é a melhor produção da dupla Möller e Botelho. Tudo funciona bem. Contribuição excelente da cenografia linda, que cria um tornado bastante convincente, atuações brilhantes de Maria Clara Gueiros (Bruxa Má do Oeste), Pierre Baitelli (Espantalho), Lúcio Mauro Filho (Leão) e Nicola Lama (Homem de Lata). Temos ainda a linda voz de Malu Rodrigues e a presença sempre marcante de Miele, como o Mágico de Oz. O talento para dirigir e adaptar os musicais famosos do cinema, e da Broadway, para os palcos, da dupla Möller e Botelho é inegável. Mas dessa vez eles se superaram. Tudo é excelente, de bom gosto e perfeito.

“Não Sobre Rouxinóis”, um frenético Tenessee Williams, está em cartaz na Sala Paulo Pontes do Theatro Net Rio. Com excelentes atuações de todo o elenco, destaco Telmo Fernandes, Bruno Ferrari e Eduardo Rieche, cujas cenas deixam todos sem fôlego. Mais uma vez o cenário é a vedete do espetáculo. Pontos para Nello Marrese e Natália Lana. A belíssima luz do espetáculo ajuda a separar as cenas e deixar claro os momentos de tensão, como quando os presos ficam confinados. A plateia chega a sentir o calor. João Fonseca dirige o espetáculo com a segurança de sempre. Nada fica de fora do seu olhar. Elenco, figurino, cenário e luz estão muito bem afinados. Excelente montagem.




No Teatro do Jockey somos presenteados com “Uma Noite Na Lua”, texto, direção e iluminação de João Falcão, com belissima atuação de Gregório Duvivier na pela do escritor que tem a noite inteira para escrever uma peça, mas sua cabeça só pensa em sua amada Berenice. A iluminação do espetáculo é um personagem à parte. Como não há cenário, a luz completa o ator em cena. Pontos positivos para o figurino e para as lindas canções, muito bem interpretadas por Gregório. Alias, cabe dizer que acompanho Gregório por muito tempo e já vi atuações exemplares, tanto em teatro, cinema e TV, mas em “Uma Noite Na Lua” seu trabalho é exemplar. Aplausos de pé.

Então, tá esperando o que para ir ao teatro? 

quinta-feira, 14 de junho de 2012

ARTE


 Quando cursei Engenharia Civil na UFRJ, era uma mistura de CDF com Nerd. Sentava na frente e usava “fundo de garrafa” para enxergar - que ainda uso em casa com a luz apagada, o que me rende o apelido de “Beth, a Feia”. Na aula de programação de computação, chegou um aluno atrasado e só restava um local para ele, ao meu lado. Aprendemos a criar e nomear um arquivo. “Perereca” foi o escolhido. Naquela aula, eu ri tanto com o aluno ao meu lado que “decidi”: esse cara vai ser meu amigo. Ele lutava Jiu Jistu, foi expulso do colégio, saía toda noite. Totalmente oposto ao meu modus operandi.  A amizade durou mais de 15 anos. Por que ficamos amigos com tantas diferenças?

Esta em cartaz no Teatro do Leblon a peça “Arte”, da autora Yasmina Reza. Conheci seu trabalho no ótimo “Deus da Carnficina” e ela é a mestra na arte de juntar duas a duas pessoas para brigar com uma outra. Imagina assim: Iraque, Irã e Síria. Ora Síria e Iraque brigam com Irã. Ora Irã e Iraque bombardeiam Sìria, ora Síria e Irã ficam contra Iraque.  Yasmina brinca com as palavras, dizendo coisas muito sérias sobre relações humanas, sobre comportamentos, individualismo, parceria, companheirismo. Em Arte, o mais importante é discutir a amizade. Em Arte, um amigo compra um quadro. Ele é branco, mas tem listras brancas. Compra cara. Um dos amigos acha o quadro uma merda. O terceiro, fica em cima do muro. Pronto, está estabelecido o conflito. Ninguém pode agir e ser quem é em função da outra pessoa. Temos que ser quem somos, porque somos o que somos.

Emilio de Melo capricha na direção. Valoriza o que há de melhor nos atores e no texto. Sem corre-corre, com pausas necessárias para a reflexão tanto da plateia, quanto dos atores, conduz a história dos três amigos com jogos de luzes, interferências sonoras, com a beleza e elegância com que tem feito seus últimos trabalhos. Gosto muito da simplicidade da montagem contrastando com a complexidade das relações humanas.

A cenografia de Aurora de Campos é o necessário para a história ser contada. Trainéis brancos (ou quadros brancos), onde tudo é nada e o nada é tudo. O figurino de Marcelo Olinto mostra claramente a “Importância social” de cada um dos amigos. A luz de Tomás Ribas é perfeita para os momentos em que atores falam com a plateia e para os embates no palco.

Os atores Claudio Gabriel, Marcelo Flores e Vladmir Brichta estão excelentes em suas construções.  Cada um veste seu personagem, sem deixar duvidas das suas características principais. Claudio Gabriel interpreta o comprador do quadro. É dele também a principal cena da peça, já no final, em que demonstra que a amizade é o bem mais precioso que o quadro comprado. Destaque para a cena em que Brichta narra a ligação telefônica entre ele e a mãe. Brichta também interpreta com perfeição o que, pra mim, é o mais difícil na arte dramática “o ser patético”. E não posso deixar de comentar a brilhante ironia de Marcelo Flores. Todos excelente!

Se eu sou eu, porque eu sou eu, e você é você, porque você é você, então eu sou eu e você é você. Mas... se eu sou eu, porque você é você, e você é você porque eu sou eu, então eu não sou eu, e você não é você." - parte do texto da peça. Para refletir durante o dia.

Amigos brigam, sentem ciúme, inveja, falam mal. Mas no fundo se adoram. Não conseguem se desfazer um do outro. É pra sempre. Amigos são o nosso bem mais precioso. Os meus são. Espetáculo para ganhar todos os prêmios de teatro da temporada. Imperdível.