quarta-feira, 30 de maio de 2012

OBSESSÃO

 O convite chegou no meio da tarde: "Teatro hoje?". "Segunda-feira?", pensei. O dia tinha sido obsessivo. Uma ligação atrás da outra, pagamentos a fazer, viagem a Jacarepaguá, bairro distante de onde moro, após uma reunião matinal onde falamos de Salvador Dali e sobre Espanha. As vezes me sinto meio obsessivo com trabalho. Não paro de pensar um segundo neste vício bom. Aceitei o convite e parti para o teatro. 


No novo Gláucio Gil, que ainda não havia conhecido depois da ótima reforma, pego o programa e sou apresentado ao espetáculo Obsessão. Uma equipe que já acompanho o trabalho há tempos e sei da competência de todos.


O texto da autora Carla Faour é divertido e ágil. Inteligente em vários momentos, cria situações engraçadas e tensas onde duas mulheres, supostamente amigas, disputam o mesmo homem, que se reveza em casamento ora com uma, ora com a outra. A peça começa com uma mulher reagindo a uma carta anônima informando a traição do marido. A seguir, voltamos no tempo e a história é contada até aquele ponto e depois segue para o final apoteótico. Me lembrou muito a escrita de Sidney Sheldon, quando não queremos parar de ler o livro e acompanhar os altos e baixos de cada personagem - ser humano - ali exposto. Alias, digo que todos os humanos retratados são perfeitamente reais! Me diverti muito com as metáforas ácidas e criativas com que Carla Faour se utiliza para xingamentos e agressões verbais. Me lembrei muito do filme "A Morte Lhe Cai Bem", onde as mulheres lutam pelo amor de um homem.

A direção de Henrique Tavares é muito legal. Eletrizante, ágil e eficiente, coloca os narradores em cena, como observadores das ações e no momento seguinte este narrador vira personagem, e quem era personagem narra a história. Muito bem sacada também a forma de retirar os objetos de cena, com os atores que não fazem parte daquele embate, entram, retiram das mãos dos atores os objetos, e a cena continua. Gosto sempre de observar a dicção dos atores para ver se o diretor se preocupou com isto. Mais um ponto positivo. Nenhum deles engole nem silabas nem letras. Entendemos tudo direitinho.

A cenografia, assinada pelo diretor, é composta apenas de um grande banco vermelho, que serve de cenário tanto para os apartamentos quanto para o café em Lisboa. A cor vermelha, chamativa, nos faz ficar vidrados naquele super banco. Luz excelente de Aurélio de Simoni, com sombras nos momentos oportunos e marcações de espaços com recortes. O figurino de Clara Rocha é muito bom. Cores fortes para as mulheres, elegantes para os homens.

Mas o ponto alto da peça é a interpretação dos atores. As mulheres, sempre elas, brilham mais que os "meninos". Carla Faour, por ser "a dona da história" sabe tudo da peça. Sua dicção, verve cômica, olhar de soslaio, ironia nas palavras é muito boa! Ana Baird acompanho faz tempo, desde a peça "Encontrar-se" no Teatro do Copacabana Palace. Seu talento é nato. Domina totalmente a amante que vira esposa que vira amante. Com gestos fortes, firmeza no olhar, está muito a vontade em cena. Senti falta de sua cantoria, mas a peça não era para isto. No lado masculino, os atores estão muito bem representados por Antônio Fragoso, o marido, amante, que com seus tiques e cacoetes arranca gargalhadas da platéia. Grande comunicabilidade com o publico e com a cena. Celso Tadei defende  seu Artur com talento e competência. E completando este quase Vaudeville, Daniel Belmonte interpreta um filho traído pelos sentimentos dos pais, pela confusão armada e pelo desejo perante seu ídolo das escritas.

Obsessão é um espetáculo divertido, recheado de ironia e bom humor, com um texto muito bem costurado e bem escrito, onde a preocupação com as palavras certas, para que fiquem bem ditas pelos atores é grande. Teatro bem feito, de qualidade, que só tem a abrilhantar o simpático teatro Gláucio Gil e tem tudo para seguir viagem por diversos palcos brasileiros. Gostei muito e indico a todos.

terça-feira, 22 de maio de 2012

BIBI FERREIRA - HISTÓRIAS E CANÇÕES


A primeira vez que entrei no Teatro Tereza Rachel, foi pelas mãos da minha avó para assistir à comédia “Meno Male”. Porém o momento marcante que guardo do Terezão foi a estreia do infantil “A Cigarra e a Formiga” da atriz Sônia de Paula, lá pelo ano de 1997 ou 1998.

Depois de ter sido fechado ao público, voltei algumas vezes ao Tereza Rachel. Uma delas em um aniversário, onde a pista de dança era o palco. Mas ver aquelas cadeiras vazias era de doer o coração. Quem ama o palco sabe o que digo. A alma daquele espaço é de teatro. Ainda mais nos dias de hoje, onde se procura ir a casas de espetáculos onde se possa estacionar e depois jantar próximo. Que lugar reúne todos estes itens? O Shopping dos Antiquários, em Copacabana. Soma-se a isto o publico certo da terceira idade de Copacabana. Ali temos estacionamento e farta rede de restaurantes ao redor. Neste mesmo shopping já havíamos perdido o Teatro de Arena, que virou Tribunal de Justiça Eleitoral. 

Era início de 2011 quando soube que Frederico Reder, que tenho o prazer de acompanhar suas produções, assumiria a devolução do Tereza Rachel ao publico carioca. Que felicidade! Com o patrocínio da Net, ganhamos o Theatro Net Rio. O Terezão está de volta! É para comemorar. O lugar é lindo, de excelente gosto, onde me senti muito confortável. E tem mais: esta semana estreia o Teatro II (Já podemos chamar de Terezinha? Úuuuuuuuu, Úuuuuuu!) com a peça “Não Sobre Rouxinóis”, direção do João Fonseca. Vem mais coisa boa por aí. 

Frederico e sua equipe escolheram nomes de peso para fixar novamente o Terezão e abrir com chave de outro o Theatro Net Rio. Pra começar “Bibi Histórias e Canções”, trazendo Bibi Ferreira de volta aos palcos teatrais cariocas. Noventa anos de vida, quase a mesma idade de palcos. Bibi é uma faculdade completa de teatro, de palco. No show que apresenta com orquestra, a música que abre o espetáculo é “Quem sabe ainda sou uma garotinha”... Quer ironia maior que esta? Bibi brinca o tempo todo com sua idade a ponto de dizer “agora vou cantar os maiores sucessos dos musicais que ‘ainda’ não fiz”. Ainda. Calma, Bibi, vai dar tempo! Deus será generoso conosco e irá manter você entre nós por mais uns 50 anos, tá bem assim? 

Do palco, Bibi comanda a festa. Brinca com o publico logo de cara, trazendo-o para si quando expõe-se à plateia ordenando “Perguntem. Perguntem o que quiserem”. A plateia acanhada, de mansinho vai levantando questões. “Você é feliz?” veio a pergunta fatal. A resposta? Nem precisava. O brilho nos olhos, a voz, o figurino correto, o salto alto, a escolha do repertório, tudo diz “Sim, eu sou feliz porque faço vocês felizes”. E faz mesmo. Impossível não se emocionar com a entrada triunfal de Bibi Ferreira no palco do Terezão. A plateia aplaude de pé. É a maior estrela do teatro brasileiro. Canta, dança, representa, toca piano e fala idiomas! Quer mais? Em um numero “de plateia”, dos mais elegantes, convida uma pessoa do para cantar junto uma musica conhecida. E o repertório do show? Tem para todos os gostos: Broadway, Samba de Breque, Gota D’Água, Ópera e muita Musica Brasileira. A plateia sai em êxtase. 

Não existem adjetivos em nenhuma língua para elogiar a performance de Bibi Ferreira, os músicos, o espetáculo, a direção, a regência, o material gráfico, a iluminação e a interpretação. A comoção, a emoção e o prazer de estar ali assistindo ao renascimento do Teatro Tereza Rachel - agora Theatro Net Rio - com a presença marcante e excepcional de Bibi Ferreira é algo que não se põe em palavras. É necessário ver e sentir. 

Obrigado Frederico Reder, obrigado Net, obrigado Bibi Ferreira. Emoção pura. Espetáculo Imperdível.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

HISTÓRIAS PARA ENCANTAR CRIANÇAS E ADULTOS




HISTÓRIAS PARA ENCANTAR CRIANÇAS E ADULTOS

Projeto traz a atriz e contadora de histórias Priscila Camargo em quatro espetáculos de histórias para todas as idades. Entrada franca

Em projeto inédito no Espaço Cultural Eletrobras Furnas, a atriz Priscila Camargo, acompanhada dos músicos Marcelo Daguerre e Anderson Vilmar, irá apresentar um repertório de quatro espetáculos diferentes, todos no mês de maio/2012. Com entrada franca, o projeto Histórias para encantar crianças e adultos reúne os espetáculos do repertório de Priscila Camargo que ganharam editais de montagem, foram sucesso de público e crítica e obtiveram indicações a prêmios. São eles os infantis: Histórias da mãe África, Caldeirão de histórias, A Polegarina e outras histórias, além do espetáculo adulto Contos da terra dos mil povos. As apresentações serão sempre às 18 horas e o Espaço Cultural Eletrobras Furnas fica à Rua Real Grandeza, 219 – Botafogo.

O projeto Histórias para encantar crianças e adultos se inicia no dia 5 de maio com a apresentação de “A Polegarina e outras histórias”. Idealizado para celebrar os 200 anos do escritor Hans Christian Andersen, responsável pela popularização dos contos de fadas no ocidente, o espetáculo reúne três histórias: “A Polegarina”, “Esse Meu Velho Sabe o Que Faz” e “O Rouxinol do Imperador Chinês”. Para conduzir as crianças até o universo encantado de Andersen, são utilizados também bonecos e músicas.

No dia 12 de maio é a vez de “Caldeirão de histórias”. Primeiro espetáculo de Priscila,especialmente dedicado ao público infantil, Caldeirão de Histórias conquistou público e crítica ao conduzir o público por uma viagem pelos continentes da Ásia, Europa, África e América do Sul, apresentando quatro histórias envolventes, onde heróis, gênios e seres encantados, aliados à beleza e a magia das lendas dos índios brasileiros, seduzem e incentivam a participação das crianças.

A programação infantil do projeto se encerra no dia 19 de maio com “Histórias da mãe África” – espetáculo que reúne histórias de várias regiões da África, trazendo um universo lúdico diferente do comum para as nossas crianças e mostrando a magia, a beleza e a sabedoria dos contos e histórias africanas e afro-brasileiras. Com muita música e bonecos, o espetáculo ressalta a presença do Griot, tradicional contador de histórias africano, que fica em cena, participando o tempo todo da narrativa.

Sucesso de público e crítica, o espetáculo adulto “Contos da terra dos mil povos” encerra o projeto no dia 26 de maio

“Um espetáculo precioso”, assim definido pela crítica Bárbara Heliodora de O Globo, Contos da terra dos mil povos celebra a beleza das nossas origens culturais, viajando por diferentes culturas: indígenas, portuguesa e africana. Priscila Camargo mostra o conhecimento e a sabedoria que vem da cultura popular universal, através das histórias, contos e lendas preservados pela tradição oral e que conservam a magia, capaz de encantar, ainda hoje, o coração e a alma dos adultos. As músicas tradicionais que compõem o repertório desse espetáculo são cantadas nas suas línguas originais: guarani e iorubá e também é apresentado um fado. Contos da terra dos mil povos, ganhador do Prêmio Myrian Muniz de Montagem, de 2007, esteve em cartaz no Teatro SESI, percorreu muitas cidades e estados brasileiros e foi apresentado também em Portugal, nas cidades de Cascais e Leiria, em 2009.

Atriz e Contadora de Histórias: o universo lúdico de Priscila Camargo

Priscila Camargo é atriz e “Contadora de Histórias”. É Paulistana, tornou-se atriz profissional no Rio de Janeiro e já em 1977 foi indicada ao Prêmio Mambembe de Melhor Atriz. Participou de dezenas de montagens teatrais e na TV seu mais recente trabalho foi como a enfermeira Valdete na novela Ti Ti Ti. Atualmente se dedica a levar seus espetáculos e oficinas por todo o Brasil e a Países Lusófonos, em teatros, escolas, universidades e comunidades.

O projeto Histórias para encantar crianças e adultos dá continuidade ao trabalho da atriz, de resgate da tradição oral universal, difundindo os contos como fonte de sabedoria e de transmissão de conhecimentos milenares. “Como Patrimônio Imaterial da Humanidade, os contos tradicionais aparecem como um grande recurso para o entendimento do homem na sua trajetória de aperfeiçoamento e individuação. Nas sociedades primitivas, onde não havia escolas formais, nem consultórios como conhecemos hoje, o conhecimento era transmitido oralmente, pois as profissões instituídas de educador e terapeuta não existiam. Esse papel era exercido por um Mestre, um Sacerdote, um Curandeiro ou um Pajé, que eram considerados grandes “contadores de histórias”. Assim, os Antigos Sábios passavam conhecimento e também “curavam” através da palavra, utilizando os contos como um “remédio para o corpo e para a alma”, revelando concepções de mundo, crenças, valores e normas sociais de conduta” explica Priscila Camargo.

Ao retornar à cena com os seus espetáculos, sempre atuais, pela natureza atemporal das histórias, os espetáculos pretendem “tocar e encantar”, o coração e a alma de crianças e adultos, trazendo luzes de percepção e resgatar a alegria e o prazer de contar histórias!


SERVIÇO
HISTÓRIAS PARA ENCANTAR CRIANÇAS E ADULTOS
Espetáculos de Contos e Histórias do repertório da atriz Priscila Camargo.
Sempre aos sábados às 18h, com retirada de senhas 1 hora antes de cada sessão (para acesso ao espaço cultural é necessário portar documento de identidade com foto). Entrada franca.

Espaço Cultural Eletrobras Furnas
Rua Real Grandeza, 219 – Botafogo.
Telefones: 21 2528-5166 (segunda à sexta-feira) e 21 9237-8631 (sábados, domingos e feriados)

Dia 5 de maio às 18h
POLEGARINA E OUTRAS HISTÓRIAS (infantil)
Texto: histórias e contos adaptados de Hans Christian Andersen.
Direção: Cacá Mourthé | Elenco: Priscila Camargo | Músico: Marcelo Daguerre.
Recomendado para crianças a partir de 4 anos

Dia 12 de maio às 18h
CALDEIRÃO DE HISTÓRIAS (infantil)
Texto: histórias tradicionais da Europa, Ásia e Brasil.
Direção: Cacá Mourthé | Elenco: Priscila Camargo e Musico: Marcelo Daguerre.
Recomendado para crianças a partir de 4 anos

Dia 19 de maio às 18h
HISTÓRIAS DA MÃE AFRICA(infantil)
Texto: histórias tradicionais africanas e afro - brasileiras.
Direção: Cacá Mourthé
Elenco: Priscila Camargo | Músicos: Marcelo Daguerre e Anderson Vilmar
Recomendado para crianças a partir de 4 anos

Dia 26 de maio às 18h
CONTOS DA TERRA DOS MIL POVOS (ADULTO)
Texto: histórias tradicionais das origens culturais brasileiras: indígenas, portuguesas e africanas.
Direção: Priscila Camargo | Supervisão: Cacá Mourthé | Elenco: Priscila Camargo | Músicos: Marcelo Daguerre e                 Anderson Vilmar
Classificação etária: 10 anos


Informações para a imprensa:
Target Assessoria de Comunicação
Márcia Vilella (marcia@target.inf.br), Felipe Martins (felipe@target.inf.br) e Letícia Reitberger (leticia@target.inf.br)
(21) 8158 9692 | 8158 9715 | 2284 2475   

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Marco Nanini e Fernando Libonati abrem centro cultural em Botafogo


FONTE - O GLOBO - CRISTINA TARDÁGUILA


FOTO: LEONARDO AVERSA/AGÊNCIA O GLOBO



RIO - Doses cavalares de adrenalina circulam pelas veias de Marco Nanini e Fernando Libonati, e a exaltação tem razão de ser. Em agosto, a dupla que há 26 anos coleciona prêmios e sucessos de bilheteria à frente da produtora de teatro A Pequena Central inaugura, em Botafogo, um novo espaço cultural.

Batizado de O Reduto, o sobrado de paredes amarelas, pé-direito alto e lotação máxima de 30 pessoas foi pensado para levar Nanini e Libonati muito além do universo teatral — num passeio por artes plásticas, música e até gastronomia — e nasce com o poder de confirmar a dupla entre os produtores culturais mais ativos do Rio. Tudo isso, é claro, gera muita, muita ansiedade.

— O primeiro evento d’O Reduto será uma mostra de artes visuais — adianta Nanini, com um sorriso largo. — Os artistas plásticos Analu Prestes, Antônio Guedes, Leo Battistelli e Marcelo Jácome ocuparão a casa por dez dias seguidos, um de cada vez, e, enquanto estiverem por lá, serão os programadores do espaço, além de os responsáveis por tudo o que vai acontecer durante sua estadia.

— Queremos dar aos artistas a oportunidade de trabalharem também como curadores — completa Libonati. — Eles decidirão o que será exibido no salão principal, no subsolo e até na cozinha d’O Reduto, que poderá oferecer refeições com cardápios bacanas nos fins de semana.
Vem aí o Teatro do Bairro

Analu Prestes trabalhará em torno de três ideias: o tempo, a vida e a morte. Durante sua estadia na casa, vai garimpar folhas, frutos e flores para montar composições e, depois, fotografá-las. Antonio Guedes terá como tema o momento em que a rua invade a casa, fazendo um trabalho em torno da moda e dos figurinos. 

O argentino Leo Battistelli vai expor peças de cerâmica resgatadas na região serrana do Rio após a inundação de janeiro de 2011, e Marcelo Jácome fará duas instalações: uma com pipas de papel de seda e outra com linhas.

Para que O Reduto siga à risca a filosofia que A Pequena Central vem adotando em seus projetos nos últimos anos — a de "espalhar cultura por toda a cidade" —, os artistas que passarem por lá deverão, logo depois, ter um momento de convivência no Centro Hélio Oiticica, no Centro da cidade, e, em seguida, migrar para o Galpão Gamboa, espaço que Nanini e Libonati mantêm aberto na Zona Portuária desde 2008.

— Queremos fazer com que a arte circule pela cidade — diz Nanini. — E a ideia é estabelecer uma ponte entre o que fazemos em Botafogo e o que levamos para o Gamboa.

Há quatro anos, o Galpão Gamboa, que funciona por trás de um chamativo portão vermelho, oferece, por meio das artes e dos esportes, oportunidades de formação e inclusão social para os moradores das comunidades carentes e dos bairros da região. Em agosto de 2010, Nanini e Libonati inauguraram ali um teatro com uma política de preços acessíveis — R$ 5 para quem residir nas redondezas. Assim, vêm conseguindo formar um público local fiel e ter a casa sempre lotada. Segundo eles, nos últimos espetáculos, os moradores da região representaram ao menos 40% dos cerca de 80 lugares de cada sessão.

— Detectamos que ali existe interesse e demanda pela cultura e que nós temos que construir as oportunidades — destaca Nanini. — Vai ser ótimo levar artes plásticas para lá.

— E esse caminho que adotamos está alinhado com a política cultural vigente na cidade, no estado e também no país — diz Libonati. — Queremos democratizar a cultura. Queremos que as pessoas não tenham medo de ir aos centros culturais. Queremos chegar perto delas, deixá-las mais à vontade conosco, fazer com que queiram ir a um espaço determinado e que saibam que ali sempre haverá algo de qualidade para ser visto.

Depois da mostra de artes plásticas, O Reduto abrigará uma programação de teatro de câmara. Na lista de monólogos e diálogos selecionados aparecem, entre outros, "Ato de comunhão", de Gilberto Gawronski, "Sonhos para vestir", de Vera Holtz, "Produto", de Marcelo Aquino, e "Inglaterra — versão brasileira", de Bel Garcia.

— As temporadas serão bem curtas — avisa Nanini. — No máximo dois meses para cada peça. Este é o embrião do projeto Teatro no Bairro, que A Pequena Central pretende levar adiante no segundo semestre.
Segundo Libonati, entre agosto e setembro, o novo monólogo de Nanini — "A arte e a maneira de abordar seu chefe para pedir um aumento", de George Perec, com direção de Guel Arraes — vai passar por ao menos sete bairros:

— Vamos ao Teatro Armando Gonzaga, em Marechal Hermes, ao novo Imperator, no Méier, ao Teatro Gláucio Gil, em Copacabana, ao Teatro Ipanema, ao Sergio Porto, no Humaitá, ao Ziembinski, na Tijuca e, é claro, ao Galpão Gamboa.

Nanini adianta que a peça conta a história de um personagem que cria um gigantesco organograma mental em que prevê todos os caminhos possíveis para pleitear um aumento.

— Não se trata de um teatro convencional. Não tenho ambições comerciais e não vou competir com ninguém fazendo ele. Vai servir, sobretudo, para eu me reciclar — diz o ator. — É um texto tragicômico com frases muito parecidas e que serve como teste para manter a atenção do espectador.

Enquanto a esperada estreia não chega, Nanini se preocupa mesmo com o casarão amarelo. Numa visita ao espaço, ele brada frases como "Esse bar precisa de uma passagem!", "Vamos derrubar o muro que separa essa casa d’A Pequena Central" e "Esse porão aqui bem iluminado vai ser palco de performances incríveis!".

Libonati, por sua vez, pensa na programação do Gamboa:

— Assim que acabar o Rota Gamboa (programação multicultural que já levou à Zona Portuária espetáculos como "Os mamutes", de Inez Vianna), retomaremos o Gamboavista. A segunda edição do evento terá 14 semanas e deve virar nosso programa de verão. Depois, o galpão terá seu primeiro espetáculo de dança!
No projeto Dança Gamboa, que terá curadoria de Marcia Rubin, estão listadas 14 companhias — seis consagradas (Lia Rodrigues e Marcia Milhazes, entre outras), quatro iniciantes e quatro infantis. As primeiras apresentações acontecem em abril de 2013.

— A Pequena Central está feliz por poder arcar com todos os custos desses espaços e por jogar limpo com os atores — diz Nanini, questionado sobre qual é o maior obstáculo como produtor cultural. — Mas não podemos pedir que os artistas trabalhem de graça. Então estamos, como muitos outros, aguardando os editais.